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INCLUSÃO DE DEFICIENTES
Setores como segurança e telemarketing defendem adequação da legislação aos perfis de cada atividade
Empregadores pedem revisão das cotas
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os debates acerca da contratação de deficientes já ultrapassam
a problemática do baixo nível de
qualificação a que muitos desses
profissionais estão sujeitos.
Além da falta de mão-de-obra
capacitada, empresários e advogados apontam alguns empecilhos para o cumprimento da Lei
de Cotas (8.213/91), que obriga firmas com mais de cem empregados a ter no quadro de funcionários de 2% a 5% de deficientes.
Um deles é a dificuldade de locomoção dos deficientes, agravada pela falta de estrutura pública.
"Há um abismo entre a lei e o
que é real. A legislação foi elaborada com base em princípios que
não refletem nossa realidade,
quando deveria ter sido feita a
partir de pesquisas que atestem a
verdadeira condição do mercado
de trabalho brasileiro", diz o professor de direito do trabalho e advogado Cassio Mesquita Barros.
O setor de segurança é um dos
que questionam a aplicabilidade
da lei. Segundo o vice-presidente
da Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada de São
Paulo) e sócio-diretor da empresa
de segurança Pentágono, Victor
Saeta de Aguiar, é impraticável
para o setor cumprir a legislação,
uma vez que "90% dos profissionais da categoria são vigilantes".
"Em nossa área administrativa,
não existem vagas suficientes para atender aos percentuais definidos por lei", justifica. Segundo ele,
se a lei fosse baseada na prática,
seria possível estabelecer cotas diferenciadas, de acordo com ramos de atividade das empresas.
"Há setores que têm um grande
número de vagas que podem ser
preenchidas por portadores de
necessidades especiais e outros
ramos que, por exigirem condições específicas, não têm. O ideal
é ponderar", defende Aguiar.
O presidente da ABT (Associação Brasileira de Telemarketing),
Topázio Silveira Neto, concorda:
"Temos condições de contratar
um número muito maior do que
o estabelecido, mas não encontramos profissionais qualificados".
Adaptação
O discurso dos empregadores é
uníssono: é preciso rever determinados tópicos da Lei de Cotas.
Hoje, apesar de as empresas empregarem cada vez mais deficientes, poucos setores conseguem
cumpri-la integralmente, dizem.
Dados da DRT-SP (Delegacia Regional do Trabalho) apontam que
cerca de 45% das empresas privadas do Estado de São Paulo ainda
não cumprem as cotas.
Mas, até o momento, apenas 251
empresas foram autuadas pelo
descumprimento da lei. Segundo
a chefe de fiscalização do trabalho
do Estado de São Paulo, Lucíola
Rodrigues, "faltam funcionários
para realizar as fiscalizações".
"Outra dificuldade é a aplicação
do conceito de deficiente. Há várias determinações, e cada órgão
utiliza uma. O ideal seria definir
apenas um conceito, válido para
todos", comenta Rodrigues.
Embora reconheça os entraves
na lei, na avaliação do governo,
não é preciso alterar a legislação.
"Há realmente algumas dificuldades na contratação de deficientes,
porém o quadro está mudando.
Existem hoje várias iniciativas da
sociedade civil para alterar essa
situação. Acredito que, em breve,
todas as firmas estarão cumprindo a lei", afirma Carolina Sanchez, da Coordenadoria Nacional
para Integração da Pessoa Deficiente, órgão vinculado à Secretaria Especial dos Direitos Humanos, da Presidência da República.
Capacitação
De um lado, firmas pressionadas pela legislação; do outro, deficientes batalhando à procura de
emprego. Em uma situação ideal,
o desenrolar da história resultaria
em personagens felizes.
Porém predomina o cenário de
vagas abertas e deficientes desempregados. Para diminuir essa
lacuna, organizações não-governamentais e empresas fazem as
vezes de instituições de ensino.
O gerente de mercado de trabalho do IBDD (Instituto Brasileiro
de Defesa dos Direitos da Pessoa
Portadora de Deficiência), Capdeville Werneck, admite que é difícil encontrar um número alto de
profissionais qualificados em determinadas áreas. "Temos mais
vagas que pessoas treinadas."
A instituição conta com cursos
regulares e gratuitos de capacitação profissional. Além das entidades, algumas firmas, em vez de reclamarem da falta de profissionais treinados, também tomaram
a iniciativa de oferecer formação
gratuita. "A sociedade inibe o desenvolvimento acadêmico do deficiente. Por isso treinamos antes
de contratar", afirma o diretor da
Dedic, Valmir Marcatto.
(FRANCINE DE LORENZO)
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