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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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CURRÍCULO EM LINKS

Candidato cria anexo eletrônico e CD-ROM

Com espaço limitado no formato tradicional, profissionais usam web para mostrar fotos e projetos

Fernando Moraes/Folha Imagem
Luiz Montoya (dir.) criou slogan e site e foi contratado por Sandra Montes


EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Parece mais uma tarefa de gincana: mostrar para alguém, no menor tempo possível, as suas qualidades profissionais. No mercado de trabalho, é justamente a isso que se propõe um currículo. E, para incrementá-lo sem ultrapassar o limite de duas páginas geralmente recomendado, os candidatos têm incluído links (acessos a endereços eletrônicos), que remetem a sites pessoais e a portfólios on-line, e até CD-ROMs.
Candidatar-se a uma vaga nada mais é do que "se vender". E, na opinião de Thomas Case, presidente do Grupo Catho, até informações sobre a família e sobre o estilo de vida ajudam a formar uma imagem do profissional, que pode ser ou não compatível com os valores da organização.
Contudo, na preparação do currículo tradicional, ser prolixo ainda é o maior dos pecados. O ideal são duas páginas, que sintetizem as qualificações, a experiência e a formação do candidato. A saída, então, para exibir amostras de seus trabalhos é a utilização dos links.
Eles podem remeter para uma página pessoal na internet, mas é preciso cuidado ao prepará-la (leia quadro na pág. 3). O procedimento mais comum consiste em colocar no site projetos profissionais concluídos com sucesso.
O recurso, porém, nem sempre é válido. "Se o profissional é fotógrafo ou designer e vai mandar o documento para empresas específicas desses segmentos, a estratégia é perfeita", sustenta Elaine Saad, sócia-diretora da consultoria RightSaadFellipelli.
Mas, se o alvo for uma empresa de recrutamento ou um cargo que não envolve trabalhos visuais, o prolongamento eletrônico do currículo é visto com certa desconfiança pelos selecionadores.
"É arriscado", pondera Saad. "Muitos anúncios são respondidos sem se conhecer o destinatário, que pode ser alguém com pouca familiaridade com informática, que nem usa a internet."
Ela diz que muitas vezes o profissional prepara um documento "de que se orgulha", não considerando que o analista terá "milhares" de currículos para avaliar.
É recomendável, então, que o histórico profissional seja inteligível para a maioria das pessoas.
A tentação de usar o espaço quase ilimitado da web para disponibilizar dezenas de fotos e de recursos multimídia que expliquem quem é o candidato é grande, mas deve ser evitada. "O material não pode ser invasivo", define Mariá Giuliese, diretora-executiva da consultoria Lens & Minarelli. "É preciso ter moderação."
"Às vezes, colocar no site ou na página pessoal um só projeto que represente suas habilidades valoriza o profissional e facilita a identificação de seu potencial", completa Neli Barboza, coordenadora de consultoria da Manager. "Trabalhos em demasia no link podem poluir a apresentação e confundir o selecionador. Quem recruta quer ir direto à informação de que precisa, pois o seu tempo é restrito", afirma.
Além disso, lembra, "nada substitui uma entrevista pessoal, que é a melhor oportunidade para apresentar o portfólio".
Exagerar na dose pode até provocar reações adversas no momento da análise. Barboza, por exemplo, conta que recebeu, certa vez, de um candidato da área de propaganda um currículo em formato de caixa de sabão em pó. As informações sobre o produto foram substituídas pelos dados do profissional.
"Dificultou para encontrar as informações, era preciso girar a caixa para poder ler", critica ela.
"O exagero pode fazer com que se percam o foco e a credibilidade", conclui Gilberto Guimarães, diretor da consultoria BPI.

Chamar a atenção
Sob o ponto de vista do candidato, chamar a atenção do selecionador é fundamental. Partindo dessa lógica, o engenheiro químico e administrador Fernando Pecoraro, 36, em vez de um currículo convencional, preparou um CD-ROM (ou "CV-ROM", como foi batizado, remetendo à sigla de "curriculum vitae"). O disco traz links para trabalhos realizados, empresas em que atuou e escolas que frequentou. Incluiu vídeos em que ele mesmo fala sobre sua carreira e sobre suas características de liderança e nos quais até pratica conversação em inglês.
"Minha idéia era fornecer mais informações para os recrutadores em um tempo curto. Em cinco ou dez minutos de navegação é possível obter uma visão completa do candidato", afirma Pecoraro.
Ele gastou R$ 8.000 no projeto. "Com esse material, o entrevistador pode pular etapas da seleção, como a entrevista de reconhecimento pessoal", defende ele.
Para tanto, o engenheiro gravou até uma simulação de conversa em que responde às perguntas mais comuns dos selecionadores.


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