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TV TRABALHO
"O Aprendiz" (Record) e "Os Aspones" (Globo) transformam profissionais em estrelas
Ambiente corporativo conquista rede nacional
BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em um país que, segundo dados
do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
fechou o ano passado com 8,5 milhões de desempregados, um programa de TV que demite um profissional por episódio é tido como
sucesso pela emissora que o exibe.
Ao mesmo tempo, estréia uma série que tira piadas de situações típicas do ambiente de escritório,
destacando a fofoca de corredor.
O mundo do trabalho, na ficção
ou no "reality show", é a mais
nova estrela da TV. E o protagonista é o trabalhador, sobretudo
aquele que demonstra não possuir as habilidades profissionais
mais requisitadas pelo mercado.
Em "O Aprendiz", da Record, a
curiosidade de saber quem será o
próximo a falhar segura a audiência. Na comédia de situação "Os
Aspones", da TV Globo, a incompetência dos funcionários, exagerada na tela, é motivo de riso.
"É o "espetáculo" feito em cima
da guerra pelo trabalho. É o salve-se quem puder. Mas não deixa de
ser uma fotografia da realidade. O
mundo do trabalho não é muito
distante disso", diz Ricardo Antunes, professor de sociologia do
trabalho da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Segundo ele, a incerteza sobre
manter ou obter um emprego é o
que prende os olhos do telespectador. "A instabilidade cria a necessidade de buscar o utópico."
Para Elaine Saad, diretora da
consultoria Right Saad Fellipelli, a
TV descobriu uma nova demanda. "O trabalho começou a ser
mais discutido. As pessoas têm de
planejar a carreira e não sabem
bem como fazer isso", diz.
Confinados
Assim como os candidatos ao
emprego oferecido em "O Aprendiz" (leia na pág. 3), os personagens de "Os Aspones" também
estão confinados. Segundo o roteirista Alexandre Machado, 45,
um dos autores, o objetivo é tirar
humor de situações extremas
provocadas pelo confinamento.
"Os "reality shows" fazem sucesso porque as pessoas ficam presas
e se revelam. Quase todo mundo é
obrigado a ficar até tal hora [no
escritório], mesmo sem ter o que
fazer, só para cumprir horário. É a
base da neurose humana."
Ele conta que tem ouvido críticas sobre o ritmo da série. "Queríamos o ritmo dos escritórios, e
no escritório é assim, não acontece nada na maior parte do dia. É
uma pasmaceira", descreve.
A atriz Marisa Orth, 39, concorda. "Em qualquer lugar em que se
bate cartão, de produtivo só duas
horas [por dia]." E comemora:
"Tenho sorte. Nunca tive chefe
nem trabalhei com horário fixo".
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