São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2004

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TV TRABALHO

"O Aprendiz" (Record) e "Os Aspones" (Globo) transformam profissionais em estrelas

Ambiente corporativo conquista rede nacional

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em um país que, segundo dados do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), fechou o ano passado com 8,5 milhões de desempregados, um programa de TV que demite um profissional por episódio é tido como sucesso pela emissora que o exibe. Ao mesmo tempo, estréia uma série que tira piadas de situações típicas do ambiente de escritório, destacando a fofoca de corredor.
O mundo do trabalho, na ficção ou no "reality show", é a mais nova estrela da TV. E o protagonista é o trabalhador, sobretudo aquele que demonstra não possuir as habilidades profissionais mais requisitadas pelo mercado.
Em "O Aprendiz", da Record, a curiosidade de saber quem será o próximo a falhar segura a audiência. Na comédia de situação "Os Aspones", da TV Globo, a incompetência dos funcionários, exagerada na tela, é motivo de riso.
"É o "espetáculo" feito em cima da guerra pelo trabalho. É o salve-se quem puder. Mas não deixa de ser uma fotografia da realidade. O mundo do trabalho não é muito distante disso", diz Ricardo Antunes, professor de sociologia do trabalho da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Segundo ele, a incerteza sobre manter ou obter um emprego é o que prende os olhos do telespectador. "A instabilidade cria a necessidade de buscar o utópico."
Para Elaine Saad, diretora da consultoria Right Saad Fellipelli, a TV descobriu uma nova demanda. "O trabalho começou a ser mais discutido. As pessoas têm de planejar a carreira e não sabem bem como fazer isso", diz.

Confinados
Assim como os candidatos ao emprego oferecido em "O Aprendiz" (leia na pág. 3), os personagens de "Os Aspones" também estão confinados. Segundo o roteirista Alexandre Machado, 45, um dos autores, o objetivo é tirar humor de situações extremas provocadas pelo confinamento.
"Os "reality shows" fazem sucesso porque as pessoas ficam presas e se revelam. Quase todo mundo é obrigado a ficar até tal hora [no escritório], mesmo sem ter o que fazer, só para cumprir horário. É a base da neurose humana."
Ele conta que tem ouvido críticas sobre o ritmo da série. "Queríamos o ritmo dos escritórios, e no escritório é assim, não acontece nada na maior parte do dia. É uma pasmaceira", descreve.
A atriz Marisa Orth, 39, concorda. "Em qualquer lugar em que se bate cartão, de produtivo só duas horas [por dia]." E comemora: "Tenho sorte. Nunca tive chefe nem trabalhei com horário fixo".


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