São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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"BURNOUT"

Índice no Brasil supera o dos EUA e o da Alemanha

Fernando Moraes/Folha Imagem
Marcelo da Silva, que atua no mercado financeiro, ganhou uma úlcera com a tensão no trabalho


MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Você já esteve a ponto de ter um ataque histérico no trabalho? Já está cansado só de pensar no que terá de fazer amanhã? Respostas positivas são um indício de que possa vir a sofrer de "burnout". O termo designa o estágio mais acentuado do estresse.
"Estar em "burnout" é ficar preso a uma situação sem saída, quando já se perdeu a noção da dimensão dos fatos", diz Denise Gimenez Ramos, coordenadora da pós-graduação em psicologia clínica da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) e vice-presidente da International Association for Analytical Psychology.
Os brasileiros vivem esse problema de perto, aponta um estudo inédito realizado em oito países (Estados Unidos, Alemanha, França, Brasil, Israel, Japão, China e Fiji) e em Hong Kong (China) pela Isma (International Management Stress Association), entre março de 2001 e março deste ano.
O estudo, a que a Folha teve acesso com exclusividade, mostra que no índice de "burnout" o Brasil só perde para o Japão. Os japoneses lideram disparados o ranking entre os locais pesquisados: cerca de 70% dos trabalhadores vivem em estado de exaustão física e mental. Segundo colocado, o Brasil registra cerca de 30%.
O índice no país é o mesmo apontado por uma pesquisa do Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade de Brasília, divulgada há 15 dias, que revelou que 30% dos professores de escolas particulares do Brasil sofrem da síndrome de "burnout".

Autoconfiança
Segundo a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma no Brasil, 70% dos trabalhadores brasileiros vivem sob estresse profissional. Já no Japão o índice é de 85%. Nos EUA, embora 72% sejam considerados estressados, apenas 20% estão sob "burnout".
Esse dado, segundo ela, sugere que os americanos têm mais autoconfiança. "Apesar de os profissionais nos Estados Unidos sofrerem muita pressão no trabalho, eles são autoconfiantes e vêem as questões do dia-a-dia como desafio, e não como problema", diz.
A auto-estima norte-americana foi um dos pontos que chamaram a atenção dos especialistas da Isma no estudo -que selecionou as nove regiões pesquisadas como amostragem socioeconômico-cultural do mundo.
Rossi associa o índice de "burnout" no Brasil às mesmas causas detectadas nos demais locais, como tensões entre chefe e subordinados e na vivência em grupo, e não o relaciona diretamente à situação econômica do país.

No meio do pregão
O vaivém das Bolsas, entretanto, deixa o economista Marcelo Mastrorocco da Silva, 25, que trabalha em uma grande operadora do mercado financeiro, "muito estressado". Em 2001, ganhou uma úlcera no estômago. Há quatro anos na área, Silva diz que se tornou mais impaciente. "Mas o lado bom é que adquiri a habilidade de fazer várias coisas ao mesmo tempo." Não foi à toa que deu a entrevista em meio ao pregão.
O resultado da pesquisa sobre "burnout" deve pautar algumas discussões do congresso internacional organizado pela Isma do Brasil nos dias 24 e 25 de julho em Porto Alegre (0/xx/51/3330-1134).


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