São Paulo, quinta-feira, 11 de maio de 2000
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DRIBLE A NEURA

Guardas de trânsito abrem o jogo


Matuiti Mayezo/Folha Imagem
O PM Nilson Duraes em ação na avenida Paulista



free-lance para a Folha

Assaltante, pedinte, buzinaço, engarrafamento, vendedor de flanela, de bala, farol quebrado... Como se não bastasse tudo isso, ainda existe o guarda e o seu ameaçador bloquinho de multa. É mais ou menos assim que o fiscal de trânsito é encarado pelos motoristas: alguém que só atrapalha a vida dos outros e, o pior, ainda dá prejuízo.
As multas, que podem chegar a R$ 576 (excesso de velocidade), costumam ser o grande terror dos motoristas. E parece que exagerado, pois, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), apenas 27% dos veículos registrados na cidade de São Paulo receberam alguma no ano passado (leia quadro abaixo).
Marronzinhos e moças da Zona Azul, ambos da CET, e policiais militares do CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito), grupo de fiscais com poder de multa, revelam aqui informações precisosas para o motorista que não aguenta mais ficar estressado cada vez que topa um guarda na esquina.
Em primeiro lugar, eles têm mais o que fazer na rua além de multar, ao contrário do que pensa a maioria. "Sempre que vêem a gente escrevendo, já acham que estamos multando; é muito comum um motorista parar o carro só para perguntar se está sendo multado", diz o marronzinho Nilton Cunha.
O pessoal da CET, por exemplo, é responsável em conferir a sinalização e tomar providências em caso de falhas em semáforos, de acidentes ou qualquer outro problema no tráfego.
Agora, se você efetivamente recebeu uma multa, o melhor a fazer é engolir. Isso porque muito raramente o policial cancela uma multa. Se ele rasurar o talão, tem que preencher um formulário para justificar formalmente porque voltou atrás. Se fizer isso com frequência, pode até suscitar suspeitas de que está aceitando suborno.
A sorte grande do motorista acontece quando o guarda ainda não entrou em ação. "Só quando a gente não começou a preencher o talão é que o motorista tem alguma chance de se explicar", conta um policial que pediu para não ser identificado.
"Se a gente vê que a pessoa está com algum problema ou falando a verdade, a gente pode até se sensibilizar. Mas, se chegar gritando e ofendendo, pode esquecer. É a mesma coisa de juiz de futebol. Se a pessoa está errada e ainda vem xingar a mãe, aí não dá", afirma o policial.
Segundo o sargento Zanella, 37, "a boa educação abre todas as portas. Certa vez, numa sexta-feira à noite, um homem deu ré perigosa em plena pista expressa da marginal pinheiros. Ele viu que o carro da CET estava por perto e parou na Juscelino Kubitschek. Saiu do carro, atravessou a pista e veio em minha direção. Ele era grande; pensei que ia partir para a briga. Ao contrário, ele me comprimentou com um boa-noite e perguntou se eu o havia multado. Disse que ainda não. Então ele explicou que estava com pressa porque era dono de um bar e tinha de levar a cerveja que estava no carro para abastecer a freguesia. Ele foi tão educado e tão sincero que só o orientei para tomar cuidado e não multei".
Eles fogem de bate-boca
"A experiência mostra que, quanto mais se conversa, maiores as chances de haver desentendimentos", diz o subcomandante do CPTran, Ricardo Salgado. Por isso, o policial de trânsito é orientado a apenas informar o que o motorista deve fazer para entrar com recurso, sem se envolver em discussões sobre a ocorrência.
Entenda o comportamento de muitos desses profissionais lendo, no quadro ao lado, algumas das regras básicas do seu treinamento.
E, antes de perder o controle e partir para a discussão, lembre-se de que o guarda também trabalha sob pressão e stress. Só em São Paulo, são 4 mil profissionais para fiscalizar uma frota de aproximadamente 5 milhões de veículos. O que dá 1.250 carros para cada fiscal. E ele também convive com buzinaço, poluição e todo o tipo de aporrinhação urbana.


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