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São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Dar ou não dar a chupeta, eis a questão

Quando uma mulher engravida, fica cheia de planos. Em geral, ela já tem idéia de como quer que o filho seja, sobre o tipo de educação que vai dar a ele, sobre como vai agir em determinadas situações e, como já teve oportunidade de observar várias condutas educativas, pensa que já sabe o que deve evitar. Mas, depois que o bebê nasce, a história é bem diferente. Muitas mães fazem o que já criticaram muito em outras mães e percebem a incoerência, mas não sabem como fazer diferente diante das dificuldades do dia-a-dia. A chupeta é um belo exemplo.
Já ouvi futuras mães garantirem que chupeta é um vício instalado na criança pelos pais e que, por isso, haviam tomado a firme decisão de não oferecê-la ao bebê. A maioria não resistiu. Algumas conseguiram com pouco esforço, e outras honraram a promessa a duras penas. Mas, afinal, a chupeta é ou não é um problema?
Atualmente, a educação dos filhos está impregnada pelos cuidados médico-higienistas e, por causa disso, muitos hábitos -antes considerados normais no bebê ou na criança pequena- são hoje considerados errados ou causadores de vários problemas. E os pais, que querem oferecer ao filho o que é considerado o melhor, ficam perdidos ou culpados em relação às atitudes que tomam. Se não dão a chupeta quando o bebê chora desesperadamente, morrem de culpa. Se dão, acontece a mesma coisa. Então, talvez o melhor seja considerar as informações que têm, mas, acima disso, considerar o filho que têm. E sempre é bom lembrar: o eixo principal da educação que os pais dão aos filhos -e o que deve prevalecer- é o vínculo afetivo. Claro que, com bom senso, os pais não vão tomar atitudes que provocam um dano permanente ao filho.
Alguns bebês conseguem dar conta da necessidade de praticar o reflexo de sucção por si mesmos: muitos sugam a própria bochecha ou lábios, já observaram isso? Alguns ficam saciados com a amamentação. Mas outros não. Isso só para falar nos primeiros dias, pois logo esse reflexo é associado à parte emocional. Sugando o peito, a mamadeira, o dedo ou a chupeta, o bebê sente-se protegido, seguro.
Então, dar ou não a chupeta ao bebê é uma decisão que cabe muito mais aos pais, que devem tentar começar a conhecer o filho e a identificar suas necessidades. Ao decidir por dar, sempre é bom checar quem é que precisa mais da chupeta: o bebê ou a mãe ou o pai, que não suportam ver o filho chorar ou estão cansados demais para acalentar, carregar, cantar, ninar, acalmar?
Bem, a realidade é que, pouco a pouco, muitas crianças se agarram à chupeta. O tempo passa, a criança faz dois, três, quatro anos ou mais, e os pais começam a se preocupar agora com a questão oposta: tirar ou não a chupeta? E como fazer isso?
É bom saber que tirar a chupeta, em geral, causa sofrimento à criança, mesmo que ela concorde com a decisão. E os pais -principalmente a mãe- devem estar seguros para suportar a resistência que, certamente, o filho irá expressar. O melhor mesmo é combinar com a criança como será: os pais determinam em quais situações ela irá ou não mais irá usar e, no ritmo da criança, vão tirando cada vez um pouco mais. Daí para a frente, é uma questão dos pais. Eles é que, com firmeza, irão fazer a criança acatar o que foi combinado.
Mesmo com sofrimento, mesmo com choradeira. Isso passa e, se os pais estiverem seguros, passa mais rápido ainda.
Um recurso tem sido bastante usado pelos pais, que é o de propor ao filho uma troca: a chupeta versus um brinquedo ou um presente. Funcionar, para alguns, funciona. Mas talvez o princípio embutido não seja tão inocente quanto parece. Afinal, na vida nem tudo se troca. Muitas vezes, perdemos coisas importantes e ficamos sem nada em troca, não é verdade? Além disso, nem tudo na vida precisa ter como base o consumo.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.


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