São Paulo, quinta-feira, 01 de junho de 2000
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Qualquer saco plástico é um transtorno ecológico; leve sua sacolinha para as compras ou exija embalagem de papel
Faça as compras, mas boicote as sacolas

TATIANA CESSO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para a maioria das pessoas, não tem muita importância se as embalagens fornecidas pelos supermercados e pelas lojas são de plástico ou papel. Para a natureza, porém, a matéria-prima utilizada faz muita diferença.
A situação é tão séria que em alguns Estados da Alemanha, França e Inglaterra o comércio aboliu as sacolas de plástico, considerado um dos materiais mais nocivos ao meio ambiente.
Um saquinho plástico comum, como os distribuídos pelos supermercados, pode demorar 50 anos para se decompor em ambiente úmido. Em climas secos, chega a permanecer inalterado por mais de cem anos.
No Brasil, não há estatísticas sobre o número de embalagens plásticas descartadas diariamente, mas estima-se que cerca de 8% do lixo coletado na cidade de São Paulo é composto por plástico.
Como sua decomposição é muito lenta, esse material é responsável por boa parte do acúmulo de resíduos nos aterros sanitários. O problema não fica só na superfície. Os afluentes subterrâneos são contaminados pelas substâncias tóxicas das tintas empregadas nas propagandas das embalagens plásticas.
Do ponto de vista ecológico, o papel é a melhor matéria-prima para embalagens. É biodegradável, decompondo-se em poucos anos. Sua produção não causa desmatamento porque as principais fábricas do mundo trabalham com reflorestamento.
Há 20 anos, a tradicional e sofisticada Casa Santa Luzia, situada no bairro dos Jardins, em São Paulo, oferece sacos plásticos e sacolas de papel aos clientes. A idéia não partiu de uma preocupação ambiental, mas tem dado bons resultados: a quantidade de sacos plásticos reduziu bastante. "Nossas sacolas são feitas com um papel bastante resistente, que não fica devendo nada ao plástico. Por isso é frequente os clientes voltarem com a sacola da compra anterior", conta Ana Maria Lopes, do departamento de marketing.
A grife G usa embalagens de papel desde sua inauguração, há 26 anos. Atualmente, a loja trabalha com uma média de 700 sacolas de papel e 350 de plástico por mês, e a intenção é diminuir bastante essa segunda cota.
Infelizmente, casos como esses ainda são raros no país. A maioria das lojas continua usando sacolas plásticas, e sua primeira justificativa é o preço. "Chegamos a fazer orçamentos de sacolas de papel reciclado, mas o preço era muito alto, inviável", afirma Renato Zimmermann, diretor de marketing da rede Bayard, que trabalha principalmente com artigos esportivos. A rede consome em média 40 mil sacolas plásticas por mês, número que aumenta nas épocas de pico do comércio, como o final do ano. Zimmermann tem razão quanto ao custo. Um saco plástico de espessura fina, geralmente usado por supermercados e lojas de departamento, sai em média por R$ 0,05. Já a sacola de papel branco, com 36 cm de largura por 28 cm de altura, custa cerca de R$ 0,50. A de papel reciclado é ainda mais cara: quase o dobro. Os especialistas explicam, porém, que não é analisando o preço final do produto que se reconhece seus benefícios. "É preciso avaliar o ciclo de vida do material, a quantidade de matéria-prima necessária e os poluentes decorrentes do processo de produção. A melhor embalagem é aquela que apresenta vantagens econômicas e ambientais", diz Leda Coltro, pesquisadora da área de embalagens e meio ambiente do Centro de Tecnologia de Embalagens, do Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas. Segundo o químico Marcelo Jost, do Departamento de Qualidade Ambiental do Ibama, o ideal é reduzir ao máximo a utilização do plástico. "Se, em vez de pegar sacos plásticos nos supermercados, por exemplo, cada um levasse suas próprias sacolas, parte dos problemas ambientais já estaria solucionado", conclui.


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