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Qualquer saco plástico é um transtorno ecológico; leve sua sacolinha para as compras ou exija embalagem de papel
Faça as compras, mas boicote as sacolas
TATIANA CESSO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Para a maioria das pessoas, não tem muita importância se as
embalagens fornecidas pelos supermercados e pelas lojas
são de plástico ou papel. Para a natureza, porém, a matéria-prima utilizada faz muita diferença.
A situação é tão séria que em alguns Estados da Alemanha, França e Inglaterra o
comércio aboliu as sacolas de plástico,
considerado um dos materiais mais nocivos ao meio ambiente.
Um saquinho plástico comum, como
os distribuídos pelos supermercados, pode demorar 50 anos para se decompor
em ambiente úmido. Em climas secos,
chega a permanecer inalterado por mais
de cem anos.
No Brasil, não há estatísticas sobre o
número de embalagens plásticas descartadas diariamente, mas estima-se que
cerca de 8% do lixo coletado na cidade de
São Paulo é composto por plástico.
Como sua decomposição é muito lenta,
esse material é responsável por boa parte
do acúmulo de resíduos nos aterros sanitários. O problema não fica só na superfície. Os afluentes subterrâneos são contaminados pelas substâncias tóxicas das
tintas empregadas nas propagandas das
embalagens plásticas.
Do ponto de vista ecológico, o papel é a
melhor matéria-prima para embalagens.
É biodegradável, decompondo-se em
poucos anos. Sua produção não causa
desmatamento porque as principais fábricas do mundo trabalham com reflorestamento.
Há 20 anos, a tradicional e sofisticada
Casa Santa Luzia, situada no bairro dos
Jardins, em São Paulo, oferece sacos plásticos e sacolas de papel aos clientes. A
idéia não partiu de uma preocupação
ambiental, mas tem dado bons resultados: a quantidade de sacos plásticos reduziu bastante. "Nossas sacolas são feitas
com um papel bastante resistente, que
não fica devendo nada ao plástico. Por isso é frequente os clientes voltarem com a
sacola da compra anterior", conta Ana
Maria Lopes, do departamento de marketing.
A grife G usa embalagens de papel desde sua inauguração, há 26 anos. Atualmente, a loja trabalha com uma média de
700 sacolas de papel e 350 de plástico por
mês, e a intenção é diminuir bastante essa
segunda cota.
Infelizmente, casos como esses ainda
são raros no país. A maioria das lojas
continua usando sacolas plásticas, e sua
primeira justificativa é o preço. "Chegamos a fazer orçamentos de sacolas de papel reciclado, mas o preço era muito alto, inviável", afirma Renato Zimmermann,
diretor de marketing da rede Bayard, que
trabalha principalmente com artigos esportivos. A rede consome em média 40
mil sacolas plásticas por mês, número
que aumenta nas épocas de pico do comércio, como o final do ano.
Zimmermann tem razão quanto ao
custo. Um saco plástico de espessura fina,
geralmente usado por supermercados e
lojas de departamento, sai em média por
R$ 0,05. Já a sacola de papel branco, com
36 cm de largura por 28 cm de altura, custa cerca de R$ 0,50. A de papel reciclado é
ainda mais cara: quase o dobro.
Os especialistas explicam, porém, que
não é analisando o preço final do produto que se reconhece seus benefícios. "É
preciso avaliar o ciclo de vida do material,
a quantidade de matéria-prima necessária e os poluentes decorrentes do processo de produção. A melhor embalagem é
aquela que apresenta vantagens econômicas e ambientais", diz Leda Coltro,
pesquisadora da área de embalagens e
meio ambiente do Centro de Tecnologia
de Embalagens, do Instituto de Tecnologia de Alimentos de Campinas.
Segundo o químico Marcelo Jost, do
Departamento de Qualidade Ambiental
do Ibama, o ideal é reduzir ao máximo a
utilização do plástico. "Se, em vez de pegar sacos plásticos nos supermercados,
por exemplo, cada um levasse suas próprias sacolas, parte dos problemas ambientais já estaria solucionado", conclui.
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