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s.o.s. família
rosely sayão
Professora despreparada dá vexame
As manifestações da sexualidade da criança sempre deixam pais e professores embaraçados. As atitudes que a criança expressa
sempre exigem uma intervenção educativa da
parte dos adultos, que, enroscados em seu
constrangimento, acabam perdendo até o
bom senso. Que pais percam o pé nessas horas
até dá para compreender. Afinal, eles não fizeram nenhum curso que tenha o objetivo de
passar as mínimas informações sobre a sexualidade da criança e, por isso, não sabem
-nem têm a obrigação de saber- se o que a
criança faz é normal ou não, se é próprio da
idade ou não. Além disso, os pais têm sua moral pessoal, têm as questões da própria sexualidade e, ainda por cima, todas as expectativas
que colocam sobre os filhos, sejam elas conhecidas ou não.
Agora, que professores percam o bom senso
quando deveriam agir motivados pelo senso
crítico, aí a história já fica bem mais complicada. Veja o que aconteceu na classe da filha de
cinco anos de uma leitora. Na sala da menina,
há um garoto bastante curioso e cheio de energia. Pois bem: ele passou a brincar de abaixar
as calças e mostrar seu "pipi" para todos. A
conseqüência disso todos já podem imaginar:
os colegas alvoroçados e o clima da classe atingiu picos de excitação. E como a professora resolveu o incidente?
Bem, ela decidiu colocar o garoto no centro
de uma roda formada por todos os coleguinhas e, então, fez com que ele abaixasse as calças e, assim, ficasse por um bom período. E fez
mais: disse ao pobre garoto que, como ele queria tanto "mostrar o pinto" aos colegas, que essa era a hora de aproveitar a oportunidade.
A leitora que escreveu para cá ficou um tanto quanto inquieta com a conduta da professora e achou melhor enviar a questão para saber, com mais fundamento, se deve se preocupar com a condução da situação.
Sim: uma professora que age assim é motivo
de inquietação para os que deixam seus filhos
na escola. Afinal, os pais esperam que os professores saibam o que fazer e como agir com
os alunos em situações delicadas como essa,
por exemplo. Fatos desse tipo estimulam a
desconfiança e comprometem um requisito
fundamental para que a educação escolar
ocorra: que os pais deleguem aos professores
as ações que fazem parte de sua competência
profissional.
O que a professora em questão fez de tão
grave? Em primeiro lugar, ela ignorou solenemente todas as teorias do conhecimento que
aprendeu -ou deveria ter aprendido- a respeito do desenvolvimento infantil, de atitudes
educativas, de respeito às diferenças, de educação em grupo. Ela -uma professora- agiu
como se não tivesse preparo nenhum para trabalhar com crianças dessa idade. Além disso
-o que já é bastante grave-, a professora fez
como mãe: agiu movida pelo impulso e pelas
emoções e, por isso, perdeu-se.
Que atitude se espera de uma professora ao
se defrontar com um aluno ou uma aluna menor de seis anos que manifesta sua sexualidade -seja da maneira que for? Espera-se que a
professora não moralize a conduta do aluno e
que apenas a contenha. E isso é tão simples
quanto fazer o aluno esperar a hora do lanche
para abrir a merenda ou esperar o brinquedo
ser desocupado para utilizá-lo.
Professores estudaram para trabalhar e devem continuar estudando, pesquisando, lendo e trocando idéias com seus pares para bem
exercer seu papel. Não se podem aceitar professores que pautam seu trabalho pelo simplismo das idéias pertencentes ao senso comum ou que são típicas da criança. E, se cabe
aos pais, não cabe aos professores o papel moralista na educação. Aliás, freqüentar a escola é
a grande chance do aluno de se libertar dos
preconceitos e da moral familiar e de se apropriar da diversidade e das regras da convivência pública.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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