São Paulo, quinta-feira, 01 de julho de 2004
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s.o.s. família

rosely sayão

Professora despreparada dá vexame

As manifestações da sexualidade da criança sempre deixam pais e professores embaraçados. As atitudes que a criança expressa sempre exigem uma intervenção educativa da parte dos adultos, que, enroscados em seu constrangimento, acabam perdendo até o bom senso. Que pais percam o pé nessas horas até dá para compreender. Afinal, eles não fizeram nenhum curso que tenha o objetivo de passar as mínimas informações sobre a sexualidade da criança e, por isso, não sabem -nem têm a obrigação de saber- se o que a criança faz é normal ou não, se é próprio da idade ou não. Além disso, os pais têm sua moral pessoal, têm as questões da própria sexualidade e, ainda por cima, todas as expectativas que colocam sobre os filhos, sejam elas conhecidas ou não.
Agora, que professores percam o bom senso quando deveriam agir motivados pelo senso crítico, aí a história já fica bem mais complicada. Veja o que aconteceu na classe da filha de cinco anos de uma leitora. Na sala da menina, há um garoto bastante curioso e cheio de energia. Pois bem: ele passou a brincar de abaixar as calças e mostrar seu "pipi" para todos. A conseqüência disso todos já podem imaginar: os colegas alvoroçados e o clima da classe atingiu picos de excitação. E como a professora resolveu o incidente?
Bem, ela decidiu colocar o garoto no centro de uma roda formada por todos os coleguinhas e, então, fez com que ele abaixasse as calças e, assim, ficasse por um bom período. E fez mais: disse ao pobre garoto que, como ele queria tanto "mostrar o pinto" aos colegas, que essa era a hora de aproveitar a oportunidade.
A leitora que escreveu para cá ficou um tanto quanto inquieta com a conduta da professora e achou melhor enviar a questão para saber, com mais fundamento, se deve se preocupar com a condução da situação.
Sim: uma professora que age assim é motivo de inquietação para os que deixam seus filhos na escola. Afinal, os pais esperam que os professores saibam o que fazer e como agir com os alunos em situações delicadas como essa, por exemplo. Fatos desse tipo estimulam a desconfiança e comprometem um requisito fundamental para que a educação escolar ocorra: que os pais deleguem aos professores as ações que fazem parte de sua competência profissional.
O que a professora em questão fez de tão grave? Em primeiro lugar, ela ignorou solenemente todas as teorias do conhecimento que aprendeu -ou deveria ter aprendido- a respeito do desenvolvimento infantil, de atitudes educativas, de respeito às diferenças, de educação em grupo. Ela -uma professora- agiu como se não tivesse preparo nenhum para trabalhar com crianças dessa idade. Além disso -o que já é bastante grave-, a professora fez como mãe: agiu movida pelo impulso e pelas emoções e, por isso, perdeu-se.
Que atitude se espera de uma professora ao se defrontar com um aluno ou uma aluna menor de seis anos que manifesta sua sexualidade -seja da maneira que for? Espera-se que a professora não moralize a conduta do aluno e que apenas a contenha. E isso é tão simples quanto fazer o aluno esperar a hora do lanche para abrir a merenda ou esperar o brinquedo ser desocupado para utilizá-lo.
Professores estudaram para trabalhar e devem continuar estudando, pesquisando, lendo e trocando idéias com seus pares para bem exercer seu papel. Não se podem aceitar professores que pautam seu trabalho pelo simplismo das idéias pertencentes ao senso comum ou que são típicas da criança. E, se cabe aos pais, não cabe aos professores o papel moralista na educação. Aliás, freqüentar a escola é a grande chance do aluno de se libertar dos preconceitos e da moral familiar e de se apropriar da diversidade e das regras da convivência pública.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre outros; e-mail: roselys@uol.com.br


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