|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Vida regrada é solução para intestino preso
Respeitar os estímulos do corpo e alimentar-se corretamente são algumas das mudanças que ajudam o órgão a funcionar melhor
ANA PAULA DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Comer demais ou de menos; ignorar os sinais de que é hora de
ir ao banheiro ou forçar a evacuação; apelar cotidianamente
para os laxantes. Evitar extremos como esses é o primeiro passo
para solucionar um problema que atormenta de 15% a 20% da
população brasileira: o intestino preso, também chamado popularmente de prisão de ventre.
Para quem sofre freqüentemente de
constipação -permanência prolongada
das fezes no intestino-, uma dieta recheada de mamão, ameixas e fibras pode
não ser suficiente para fazer o órgão funcionar corretamente. Isso requer disciplina e inclui até sentar-se de maneira correta no vaso sanitário. "Muitas pessoas
acham normal ir ao banheiro apenas
uma vez por semana, mas isso está errado. Alguém que não evacue a cada 48 horas tem o intestino preso e deve corrigir
seus hábitos", alerta Mário Kondo, gastroenterologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O problema envolve até fatores culturais que explicam, em parte, por que ele é
mais comum entre as mulheres. Fisiologicamente, a evacuação é um ato involuntário, mas as meninas "aprendem"
que devem tentar controlá-lo. "Na educação feminina, evacuar é visto como um
ato feio, que deve ser feito escondido do
mundo, ninguém pode saber, por isso as
mulheres acabam inibindo a vontade de
ir ao banheiro. Além disso, elas são mais
"higiênicas" que os homens e só costumam evacuar no vaso sanitário de sua casa", afirma o gastroenterologista Arnaldo
Ganc, do hospital Albert Einstein (SP).
Existem duas estruturas, os esfíncteres,
que acionam a evacuação. Um deles age
involuntariamente e dá o alerta de que
chegou a hora. O outro pode ser controlado. "A pessoa deveria imediatamente ir
ao banheiro para abrir o esfíncter voluntário, mas não o faz", diz Ganc. Se esse
hábito se repete por anos a fio, o organismo percebe que esse estímulo está sendo
feito desnecessariamente e o suprime.
A estimulação natural também é prejudicada por fatores físicos. Se as fezes ficam muito tempo retidas no cólon sigmóide, elas perdem água e
endurecem, o que dificulta a estimulação
da contração muscular (movimento peristáltico) que gera o alerta para evacuar.
Sem estímulo
Na falta de estímulo
natural, muitos apelam para a automedicação e começam a ingerir laxativos, tornando seu consumo um hábito. Laxantes
à base de óleo, que lubrificam o intestino
e facilitam a passagem das fezes, e os naturais, como ameixa e mamão, não provocam danos ao organismo.
O problema são os laxativos que irritam o intestino. "Eles causam uma inflamação na mucosa do órgão, o que gera
uma secreção de água e muco, provocando uma diarréia", explica Ganc. E engana-se quem acredita que apenas produtos industrializados tenham esse poder.
Cáscara-sagrada e sene, por exemplo,
também atuam dessa maneira.
Com o tempo, o organismo torna-se resistente aos laxantes. "É necessário aumentar a dosagem ou mudar para um
mais forte", diz a colonproctologista da
USP Angelita Habr-Gama. "Esse costume é um ciclo difícil de ser rompido se
não houver mudança nos hábitos e vida
regrada", afirma Kondo.
Para Gama, o primeiro passo para romper esse ciclo é: "Ir ao banheiro assim que
tiver vontade". Pode parecer simples,
mas nem sempre o intestino dá esse alarme facilmente. "É necessário recriar esse
hábito perdido. A pessoa deve determinar um horário e, todos os dias, sentar-se
no vaso sanitário por cinco minutos,
mesmo sem vontade de evacuar", orienta
Kondo. Enquanto estiver sentada, a pessoa pode pôr os pés em um banquinho
ou em outro apoio com 20 cm a 30 cm de
altura. Assim as coxas ficam mais perto
do peito, simulando a posição ideal para
evacuar, que é de cócoras.
Para ajudar a estimular o movimento
peristáltico, Ganc sugere massagear o lado esquerdo do abdômen. Se, mesmo assim, a vontade não vier, os especialistas
são categóricos em afirmar que jamais
deve-se fazer força para provocar a evacuação, porque isso pode causar hemorróidas e até fissura anal.
Todos esses cuidados devem ser acompanhados pela adoção de uma dieta rica
em líqüidos e fibras, que podem ser encontradas tanto em alimentos industrializados como nos in natura. "São elas que ajudam a
formar o bolo fecal, volume que, quando
chega no reto, dá o "aviso" de que é hora
de evacuar", explica Ganc.
Mas atenção: fibras em excesso são prejudiciais ao organismo. "O consumo excessivo pode gerar uma deficiência de
potássio, provocando câimbras e fraqueza muscular", diz Ganc. A quantidade
diária recomendada é de 20 g a 30 g.
Se, após as mudanças na rotina, o problema persistir, é necessário procurar um
médico. A constipação pode ser sintoma
de doenças como câncer de intestino,
diabetes, problemas de tireóide, depressão e síndrome de intestino irritável (SII),
que afeta cerca de 1,5 milhão de brasileiros. "Dizemos que um paciente tem SII
quando ele apresenta dor ou desconforto
abdominal que podem ser aliviados pela
evacuação e estão associados tanto à
diarréia como à constipação ou a uma alternância entre essas duas condições",
explica o gastroenterologista da Unifesp
Décio Chinzon.
Texto Anterior: S.O.S. família - Rosely Sayão: Professora despreparada dá vexame Próximo Texto: Fibras na balança Índice
|