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s.o.s. família - rosely sayão
Proibir o jovem aguça sua responsabilidade
Férias é uma coisa que combina demais
com os adolescentes. Nada com prazo a
cumprir, sem hora para acordar, com liberdade para comer quando e o que dá vontade e
viajar e/ou divertir-se -com os amigos ou sozinho- noite adentro.
Nesse período, parece que eles trocam a noite
pelo dia, que não se interessam por nada que
não tenha a ver com o próprio umbigo, que ficam cegos para seus limites e suas possibilidades tanto quanto para qualquer outro ser humano adulto que frequente seu espaço. Para
muitos, o período é bastante salutar, apesar de
não parecer, pois é quando muitas das experiências que tiveram na vida são transformadas em aprendizado. As férias são, para o adolescente, um trabalho de organização interna,
apesar de parecer para nós, que olhamos de
fora, que ele vive um período de caos.
Mas alguns cuidados dos pais são importantes nesse período. Os estudos mostram, por
exemplo, que eles começam a tomar bebida
alcoólica cada vez mais cedo. Aos 12, 13 anos!
Isso não parece ser nada bom para eles, que
sabem bem o que querem, mas não sabem
muito bem ainda o que lhes faz bem e o que
lhes faz mal e ainda estão aprendendo a tomar
conta da própria vida. E é, muitas vezes, nessas
saídas com os amigos, nas viagens etc. que eles
se excedem. É que a bebida alcoólica tem rolado solta nos ambientes que frequentam, como
casas de jogos e bares, por exemplo. Na casa
dos amigos também quando se reúnem por lá.
Os pais sabem disso, tanto que sempre escrevem pedindo mais severidade dos representantes da lei para que essas casas fechem ou
não permitam que os menores na idade consumam bebida alcoólica. O que está por trás
desse pedido dos pais? Um fato bem interessante: eles não assumem a censura aos filhos,
por isso pedem que o Estado o faça.
Claro que leis já existem para proteger o
adolescente, mas, sem fiscalização, não são
cumpridas pelos estabelecimentos, que têm
um só objetivo: lucrar com o consumo. As autoridades falham nessa questão, e os pais têm
razão na reclamação que fazem. Mas acontece
que os pais não podem falhar quando o que
está em jogo é a educação do filho.
Eles precisam censurar quando for o caso.
Aliás, muito melhor a censura privada do que
a pública. E é esse um dos cuidados que os pais
devem ter nesse período em que os filhos adolescentes estão sem rotina e saindo bastante: o
de controlar os lugares que frequentam para
evitar o uso -e abuso- de bebida alcoólica.
Os pais não podem ter medo de proibir os filhos de fazer isso ou aquilo. Em primeiro lugar, porque a função dos pais é essa: regular a
vida dos filhos enquanto eles não têm os mecanismos de auto-regulação. Em segundo,
porque proibir não significa impedir. Proibir
tem muito mais o caráter de dar uma referência, um parâmetro para o filho. Assim, proibir
o filho de frequentar algum local não garante
que ele não vá mesmo, pois o adolescente já
tem autonomia suficiente para transgredir esse tipo de proibição até com certa facilidade -afinal, sempre pode contar com a cumplicidade dos amigos para ajudá-lo. Mas, ciente da
desaprovação dos pais, a chance de que ele tome mais cuidado consigo mesmo é bem
maior, pois ele assume totalmente e sozinho a
responsabilidade pela escolha que fez.
Finalmente, os pais precisam lembrar-se,
quando fazem alguma proibição aos filhos, de
que ela sempre será temporária, ou seja, o filho fica proibido de fazer tal coisa apenas enquanto não puder decidir sozinho ou não tiver
autonomia para tanto.
Para terminar: aquela história que muitos
pais usam para evitar proibições -a de que é
melhor que o filho faça as coisas em casa, perto dos pais, do que longe- não funciona por
um só motivo: é assim que eles entendem que
os pais autorizam que ele faça aquilo.
Beber, por exemplo. E ele o fará quando estiver longe dos pais também e não terá, desse
modo, a referência paterna necessária que pode ajudá-lo a se controlar.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e- mail: roselys@uol.com.br
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