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Arroz preto é rico em fibras exclusiva de imperadores
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na China, onde surgiu
há mais de 4.000
anos, ele era o "arroz
proibido". Pretos e
raros, seus poucos grãos brotados -cerca de dez para cada
hectare de arroz branco- eram
reservados apenas ao imperador. Acreditava-se que o arroz
preto tinha poderes afrodisíacos, além de garantir longevidade ao soberano e a todos os
seus descendentes.
Dos palácios reais da Antigüidade, ele chegou aos templos da gastronomia contemporânea. Caiu no gosto dos
chefs: o apelo visual e a origem
asiática vão muito bem com os
conceitos de comida "fusion",
na qual são valorizadas as misturas de ingredientes e influências de diferentes origens.
A tudo isso, são somadas
suas propriedades nutricionais. "O arroz preto é mais rico
em fibras e em proteínas e tem
muito mais compostos antioxidantes do que o arroz integral",
diz Candido Bastos, pesquisador do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e diretor do
Polo Regional do Vale do Paraíba, da Secretaria de Agricultura
do Estado de São Paulo.
Foi idéia de Bastos iniciar as
pesquisas para desenvolver o
arroz preto no Brasil. "Já era
um produto valorizado por
chefs na Europa e nos EUA. No
Brasil, os que queriam utilizá-lo tinham de comprar o arroz
importado, ainda mais caro."
As pesquisas foram iniciadas
em 1992, mas só em 2005 a variedade foi lançada oficialmente. A aceitação foi boa, segundo
Bastos, mas isso não quer dizer
que o arroz preto caminhe para
se tornar um tipo popular. Não
é mais um ingrediente vetado
aos simples mortais por decretos imperiais, mas o preço chega a ser proibitivo: cerca de R$
20 o quilo. A produção atual,
concentrada no Vale do Paraíba, em São Paulo, é estimada
em 200 toneladas por ano.
"Não é um ingrediente para
uso em alta escala, mas é muito
interessante para a alta gastronomia. Tem sabor intenso, boa
textura e uma cor ótima para
trabalhar em misturas com ingredientes como aspargo, alho-poró, salmão, pimentões etc.",
diz Marcelo Malta, professor
de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi.
A cocção do arroz preto é feita da mesma forma que a do
branco. O resultado é um arroz
do tipo mais "soltinho" -ele
não adquire naturalmente uma
cremosidade como a do arroz
arbóreo, utilizado para risotos.
"É muito bom em saladas e como recheio de lula. Também
pode ser misturado a outros
grãos e servido como guarnição", sugere Malta.
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