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ROSELY SAYÃO
Falta de comunicação
Nos últimos dias, algumas infelizes declarações de pessoas
públicas provocaram revolta em muita gente, e
com razão. Mas não é de hoje
que temos tratado muito mal a
nossa forma de comunicação.
Estamos nos tornando incomunicáveis, arrisco dizer, a
maior parte do tempo. Às vezes,
tenho a sensação de que passamos a usar palavras, frases, discursos e (des)informações apenas para preencher um vazio
ou cumprir uma obrigação. É
por isso que muita gente se
acha no direito de dizer qualquer coisa sem compromisso,
sem se sentir obrigado a honrar
o que disse ou a respeitar seus
interlocutores, fisicamente
presentes ou não. Mais uma
evidência de nossa cultura de
desdém ao outro.
Na noite do trágico acidente
aéreo recente, muitas famílias
ansiosas ou dramaticamente
esperançosas cobravam da
companhia aérea a lista de passageiros que haviam embarcado na aeronave. Qual a resposta? Que a lista só seria divulgada após a comunicação pessoal
da empresa com as famílias dos
passageiros. Parecia uma atitude séria e respeitosa, não? No
entanto, no início da madrugada, a lista foi divulgada pelos
meios de comunicação, e foi
dessa maneira que muitas famílias constataram o que já sabiam ou temiam.
Esse é apenas um exemplo de
como nossa comunicação anda
mal e deixa claro que temos
considerado apenas quem emite a mensagem e ignorado a outra via, ou seja, o destinatário.
Tomemos alguns outros casos. Quem já passou pela experiência de tentar obter uma informação com algum serviço de
atendimento ao consumidor,
de suporte de informática ou
coisa semelhante sabe o quanto
é difícil estabelecer um diálogo
com esses atendentes. Na verdade, muitas vezes as respostas
são verdadeiros disparates. Isso quando não somos obrigados a ouvir explicações vazias
que não passam de bobagens.
E vejam que vivemos em um
tempo em que a comunicação
parece ter uma importância
enorme. É por isso que contamos com profissionais especializados em preparar as pessoas
para que se comuniquem com
eficiência. O problema é que o
desprezo com que tratamos o
outro gera apenas discursos recheados de "nonsense" e vazios
de reconhecimento.
Essa nossa dificuldade em
estabelecer um diálogo em que
o outro não seja subestimado
ou menosprezado se mostra
também nas conversas que temos com filhos e alunos. Pais e
professores precisam lembrar
sempre que palavra dita é palavra empenhada. Além disso,
precisam estar atentos ao que
os mais novos dizem.
Eles têm denunciado que não
levam muito a sério o que dizemos. Por quê? Porque muitas
vezes dizemos qualquer coisa
só para marcar presença; porque, igualmente, não os levamos a sério; porque deixamos
que falem bobagens e as consideramos; porque não nos empenhamos na construção de
uma comunicação verdadeira.
Esta é uma boa hora para se
tomar algumas decisões. Cultivar o apreço pelo outro, a consideração por palavras plenas de
sentido e o respeito pelos interlocutores são algumas delas.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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