São Paulo, quinta-feira, 02 de dezembro de 2004
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Entrevista

Psicólogo ambiental radicado no Brasil fala da relação entre ambiente e bem-estar

O espaço que cada um ocupa

KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quase todo mundo tem um ambiente onde se sente bem e outro onde fica incomodado. O psicólogo alemão Hartmut Günther, 59, descobriu, há cerca de 30 anos, que o seu verdadeiro lar é o Brasil.
Pesquisador e responsável pelo Laboratório de Psicologia Ambiental da Universidade de Brasília -cujo alvo de estudo é justamente a relação que as pessoas estabelecem com os espaços, como o trabalho, a casa, a escola e a cidade-, é formado em psicologia nos Estados Unidos e apaixonado por Brasília, cidade que escolheu para "sobreviver", como ele próprio diz. Para Güther, o trânsito ainda é o ambiente mais abominado pelas pessoas e o local de lazer preferido dos jovens é a casa -os shoppings centers vêm em segundo lugar.

EQUILÍBRIO - O que estuda, exatamente, a psicologia ambiental?
HARTMUT GÜNTHER -
Ela estuda a relação recíproca entre o indivíduo, seu comportamento e seus estados subjetivos, como atitudes ou sentimentos, e o ambiente físico -construído ou natural. Quase que concomitantemente, uma pessoa está sendo afetada pelo ambiente e afeta o mesmo. Isso acontece em todas as esferas da vida, tornando-se tão corriqueiro que, freqüentemente, nem percebemos mais tal relação. O psicólogo ambiental é como um peixe que estuda a água.

EQUILÍBRIO - O ambiente influencia a vida?
GÜNTHER -
O ambiente físico constitui o palco onde vivemos e tem uma relação direta com a qualidade de vida.

EQUILÍBRIO - A que conclusões o sr. chegou?
GÜNTHER -
O trânsito nas ruas é considerado, de modo geral, um ambiente que as pessoas não gostam e que gera agressividade. Precisamos de mudanças em transporte público, na segurança e em outras alternativas para que a situação mude. Uma pesquisa sobre lugares preferidos dos jovens em Brasília (DF) colocou a casa em primeiro lugar. Acho que tem a ver com a segurança emocional que o lar traz. Já o primeiro lugar que eles não gostam é a escola. Os motivos ainda não foram estabelecidos, mas, na minha opinião, os jovens encaram o lugar como espaço de cobrança, onde o tempo livre é muito controlado.

EQUILÍBRIO - Escolas ignoram os alunos?
GÜNTHER -
Falar sobre o ambiente escolar implica inúmeros aspectos. A quantidade de alunos por professor, por exemplo, e o número total de alunos numa escola. É cada vez mais claro que escolas com mais de 500 alunos são ambientes nos quais se pode perder a possibilidade de conhecer os estudantes mais de perto e oferecer orientação adequada.
E, se consideramos que escolas constituem ambientes não somente de simples aprendizagem acadêmica mas também de socialização e formação de futuros cidadãos, é claro que ela precisa de espaço para atividades fora da sala de aula, como laboratórios, ginásios de esporte e áreas verdes.

EQUILÍBRIO - E quem mora na periferia tem qualidade de vida?
GÜNTHER -
A periferia física no Brasil também é periferia social, ou seja, os pobres moram mais longe dos centros das cidades. Em muitas cidades no exterior, especialmente nos EUA, os subúrbios mais distantes oferecem as melhores condições ambientais para viver. Acho que uma maneira mais imediata para melhorar a qualidade de vida dos que moram distante dos centros urbanos é melhorar o transporte público. Outra é levar serviços e oportunidades para a periferia, como hospitais, locais de lazer e diversão.

EQUILÍBRIO - Vivemos em ambientes fechados. O que isso representa?
GÜNTHER -
As conseqüências são piores para as faixas etárias em formação. A criança e o jovem estão em uma fase destinada a aprender como conduzir a vida. Viver em locais fechados implica numa diminuição das atividades de exploração do mundo e do entorno. Essa exploração, que deveria ocorrer em círculos cada vez maiores, está diminuindo a olhos vistos, para todos. Parece induzir à aceitação de uma vida trancada, que deve ter conseqüências maiores ainda para a formação.


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