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Neurociência
Deixem as gestantes em paz!
[...] Em grávidas, o estresse crônico é triplamente perigoso, e o problema não se resolve com o parto
Mulheres grávidas
têm privilégios:
atendimento
preferencial em
bancos e caixas de supermercado, assentos reservados
em metrôs e ônibus e a boa
vontade em geral das pessoas, mesmo as mais rabugentas, que oferecem ajuda
com bolsas pesadas e outras
cortesias. Por quê?
As razões atuais vão da
simples gentileza ao maravilhamento com o milagre de
uma nova vida em gestação,
passando pela consideração
com enjôos, mal-estar e o
cansaço de muitos quilos extras carregados noite e dia,
sem descanso. Segundo a
neurociência, há mais uma
razão, importantíssima por
sinal, para poupar as grávidas do estresse: o bem-estar
futuro da sua prole -e da sociedade também.
O estresse crônico -aquele do qual a gente tenta, mas
não consegue se livrar- é
uma das piores coisas que
podem acontecer ao cérebro.
Mata neurônios, perturba o
mecanismo cerebral de regulação das respostas ao estresse, provoca distúrbios como
ansiedade e depressão, dispara doenças latentes. Em
mulheres grávidas, então, o
estresse crônico é triplamente perigoso, e o problema não
se resolve com o parto. Pelo
contrário: quem sofreu estresse crônico durante o período pré-natal tem o comportamento materno diminuído após o parto. Mais grave ainda, as seqüelas para os
filhos podem ser para a vida
inteira. A produção de neurônios novos no cérebro dos
filhos gerados em períodos
de estresse crônico materno
é menor do que o normal ao
longo de toda a sua vida, o
que parece estar associado à
vulnerabilidade a uma série
de problemas como distúrbios do humor, deficiências
cognitivas e até dependência
de drogas. Desagradável para
a mãe, péssimo para os filhos, ruim para a sociedade.
Mas nem tudo está perdido. Trabalhos recentes mostram que há um remédio
simples para cérebros gerados sob estresse crônico materno: o carinho diário logo
após o nascimento. Simples
assim. O pequeno detalhe,
claro, é que mães que sofreram estresse crônico durante a gestação têm bem menos chances de serem carinhosas com a sua prole após
o parto. A saúde da sociedade começa, de fato, com a
saúde das mães.
Por sorte, a natureza embutiu proteções em nosso
corpo, e mulheres grávidas
gozam dos efeitos ansiolíticos anti-estressantes naturais dos níveis de progesterona saindo pelas orelhas.
Ainda assim, é hora de começar uma nova campanha, que
lanço aqui aproveitando o
Ano Novo, tempo de resoluções para uma vida melhor.
Pela felicidade das próximas
gerações: deixem as gestantes em paz!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "Sexo, Drogas, Rock'n'Roll & Chocolate" e de "O
Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira & Lent)
suzanahh@folhasp.com.br
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