São Paulo, quinta-feira, 04 de maio de 2006 |
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Ambiente Projeto Genesis, de Sebastião Salgado, aponta a "desadaptação" da espécie humana Caminhos de volta
TATIANA DINIZ
Registrar recantos ainda intocados da Terra e, a partir das imagens, tentar sensibilizar a humanidade para a idéia de que é necessário construir uma nova relação com o planeta, com as demais espécies que o habitam, com os recursos nele existentes e
com a herança a ser deixada para as gerações futuras. Essa é a meta do projeto Genesis, atual empreitada fotográfica de Sebastião Salgado, 62. E, segundo o fotógrafo, será também seu último projeto de grande porte.
No Espírito Santo, alunos de 87 escolas públicas trabalham com as imagens. A ação é piloto de uma iniciativa arrojada em que a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) doará o modelo para que seja usado em escolas de todos os continentes. "Acho importante levar esse questionamento às crianças do mundo. A questão ambiental é a verdadeira questão global. O mundo inteiro depende do que cada um de nós está fazendo hoje", analisa Salgado. "DESADAPTAÇÃO" São das florestas da Ruanda, das geleiras da Antártica e das ilhas de Galápagos, no Equador, que vêm as primeiras imagens desse planeta "puro". Registradas em preto-e-branco, as iguanas marinhas de Galápagos exibem patas semelhantes às mãos humanas, com cinco dedos e até unhas. E relembram a lição darwiniana da adaptação: originais de água doce, viajaram mais de mil quilômetros flutuando em troncos arrastados pela corrente marítima. No novo habitat, desenvolveram glândulas capazes de excretar o sal da água. Para Salgado, é a adaptação da espécie humana que merece revisão imediata. Ou melhor, a "desadaptação" dessa espécie. "A humanidade está passando por um processo acelerado de "desadaptação" da natureza. Está entrando em desequilíbrio com o ambiente, corre um grande risco de se ver completamente abstraída do planeta. Mas, na própria natureza, existe uma série de exemplos. Em alguns locais, a mesma espécie animal se adaptou de maneiras completamente distintas. É possível evoluir, e isso é fabuloso", comenta. Entusiasta dessa evolução, o fotógrafo acredita ser possível que o bicho-homem, consciente de sua condição de animal e de ser parte de um ecossistema muito maior, possa, enfim, descobrir um modo de convivência mais harmoniosa com a biodiversidade da Terra. "Estamos nos transformando em animais puramente urbanos, com pretensões de ser puramente racionais. Mas o que garantiu a sobrevivência da nossa espécie até agora foi a parte instintiva somada à parte espiritual. Hoje, se chamamos uma pessoa de animal, é ofensivo. Mas animais é o que somos. Nosso distanciamento do planeta levou a esse desencontro que estamos vivendo." Mas será que, diante da degradação acelerada, haverá tempo para que os fotógrafos do futuro captem imagens de um planeta mais equilibrado? "Haverá, sim. Tenho esperança. A postura humana predatória pode ser repensada. Há um caminho de volta", conclui. A repórter Tatiana Diniz viajou a convite da Arcelor Brasil, que apóia o projeto Genesis Texto Anterior: Guia brasileiro não adota pirâmide Próximo Texto: Poucas e boas Índice |
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