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Pacientes são vítimas e "autores" da doença
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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O estudante de medicina Tiago Bitar Barros, 22, que convive com artrite reumatóide desde os sete anos |
Doenças auto-imunes são resultado da batalha interna do corpo contra ele mesmo; elas não têm cura, mas sintomas são tratáveis
KARINA KLINGER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Imagine um time de futebol atacado por um surto
enlouquecedor, em que os jogadores saem marcando gol desvairadamente contra a própria equipe. É isso o que o corpo faz quando acometido por
doenças auto-imunes. O sistema de defesa do organismo (sistema imunológico) deixa de reconhecer o
próprio corpo e, em vez de combater apenas
inimigos, como vírus e bactérias, passa a atacar células ou tecidos saudáveis do organismo.
Não é à toa que as doenças auto-imunes tanto assustam. De início, o paciente tem dificuldade para compreender que, além de vítima, é
"autor" desse mecanismo de agressão. Já os
médicos também não compreendem por que
as células de defesa do corpo perdem o controle, ou seja, a causa das doenças auto-imunes, as quais também não têm cura. Mas há remédio para os sintomas, e os novos tratamentos têm dado esperança aos pacientes.
A incidência da doença tem aumentado.
Duplicou nos últimos 40 anos -também não
se sabe por que, há quem credite isso ao aprimoramento nos diagnósticos e à precisão dos
testes laboratoriais. O fato é que, só nos EUA,
são 50 milhões de pessoas por ano diagnosticadas com uma doença desse tipo. Em todo o
mundo, médicos e pesquisadores presumem
que ela chegue a atingir de 15% a 20% da população, e as maiores vítimas são mulheres.
E o que mais se sabe com certeza? Que existem, reconhecidos pela medicina, 30 tipos de
doenças auto-imunes. Artrite reumatóide, lúpus e diabetes tipo 1 são algumas delas. E cada uma, com seus
respectivos sintomas, atinge um órgão diferente, diz o reumatologista e imunologista do
Albert Einstein Morton Scheinberg, pesquisador do assunto há mais de 20 anos.
Hipóteses se atropelam
Uma das hipóteses para a causa das doenças, segundo o
imunologista Momtchilo Russo, presidente
da Sociedade Brasileira de Imunologia, é a da
higiene. "Como hoje as pessoas não desenvolvem tantas infecções, que talvez regularizassem a ação do sistema imunológico, nossas células de defesa poderiam estar superativadas".
Por outro lado, alguns estudos revelam que as
doenças infecciosas é que afetariam o funcionamento do sistema imunológico. "Na febre
reumática, sabe-se que o organismo ataca células do coração, pois as confunde com um
aminoácido presente na bactéria estreptococo", diz a imunologista Myrthes Toledo Barros, do Serviço de Imunologia Clínica e Alergia do Hospital das Clínicas (SP).
Hipóteses à parte, sabe-se que, para desenvolver uma doença auto-imune, são necessárias três condições, explica Scheinberg. A primeira é ter predisposição genética para a
doença. Outro requisito é o problema ser desencadeado por um fator do ambiente externo, como exposição ao sol no caso do lúpus ou
situação estressante na psoríase. E a terceira, e
óbvia, é o desequilíbrio das células do sistema
imunológico. "Além disso, quem tem uma
doença auto-imune tem maior chance de desenvolver outras do mesmo gênero", afirma o
imunologista Luiz Vicente Rizzo, do Incor.
Descoberta precoce
Virar expert na
doença é uma marca dos portadores. O estudante de medicina Tiago Bitar Barros, 22, convive com artrite reumatóide desde os sete
anos. "Ele foi diagnosticado quando teve uma
febre que não passava", lembra a mãe, Cristina Barros. Com a evolução dos medicamentos, hoje ele vive como qualquer outro jovem
da idade. "Tive a sorte de ser diagnosticado cedo. Ninguém acha que eu tenho a doença."
A bancária Vânia Mello Suruagy, 45, é outra
sortuda. Descobriu ter lúpus antes mesmo de
sentir os sintomas. "O exame de sangue periódico feito pelo banco constatou que minhas
plaquetas estavam baixíssimas. Se não fosse
por isso, talvez não tivesse descoberto", conta.
Como ocorre com a maioria dos portadores, o
resultado assustou. "Não tinha ouvido falar
sobre isso. Fui direto para a internet", conta
ela, que já virou especialista na doença.
Influência emocional
"Existe uma relação direta entre o estado emocional das pessoas e o sistema imunológico. Há uma nova
área na medicina, a psiconeuroendrocrinoimunologia, para estudar melhor a questão",
diz o dermatologista Cid Yazigi Sabbag, presidente do Centro Brasileiro de Psoríase. Segundo Yoshiaki Ohki, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Psicossomática,
sabe-se que os corticóides produzidos em momentos de estresse diminuem a defesa imunológica. Para ele, quem está saudável do ponto
de vista emocional também está do ponto de
vista orgânico.
No caso do engenheiro Eduardo Griebler,
42, o estresse teve papel fundamental. No primeiro surto de psoríase, aos 18 anos, ele prestava vestibular. "A doença começou lentamente, mas foi aumentando ao longo dos últimos 20 anos", conta. Para ajudá-lo a enfrentar
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