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s.o.s família - rosely sayão
O que o filho perde ao ser mimado pelos pais
É sempre oportuno falar sobre a proteção
que os pais praticam com os filhos, já que
ela tem se mostrado excessiva e inibitória. Mimo demais sempre é bom, não é? Claro que é,
todos sabem disso. Mesmo o adulto, às vezes,
bem que gostaria de ser mimado, poupado, ter
seus caprichos atendidos. O problema se dá
quando esse mimo impede o filho de aprender
a enfrentar a vida e a se esforçar -e é o que
tem acontecido muito. E quem sabe muito
bem a esse respeito -até mais do que gostariam- são os educadores escolares.
A mãe de uma garota de 12 anos foi à escola
reclamar do que estavam exigindo de sua filha
por lá. É que a avaliação tinha chegado em casa: o rendimento era considerado inferior, e a
menina declarara, tanto para a mãe como para
a escola, que não gostava mesmo de estudar,
que era muito chato ter de ler, resolver problemas e assistir a aulas todos os dias, que ela não
tinha interesse nessas coisas e que gostava
mesmo era de cozinhar e de desenhar.
O que foi a mãe dizer para a escola? Que os
professores bem que poderiam entender que
o talento da filha era outro, que poderiam avaliar a aluna de acordo com os interesses dela e
que não concordava com a posição da escola.
Agora vamos pensar no que pode significar
uma atitude desse tipo, nada incomum hoje.
Em primeiro lugar, significa que os pais subestimam o potencial que os filhos têm para
aprender a perseverar em uma atividade para
dar conta dela e para se dedicarem com afinco
quando são exigidos a encarar um desafio. E
isso não é bom para a criança, que passa a
acreditar que a vida gira em torno dos interesses dela, ou seja, do que gosta e do que não
gosta de fazer. Além disso, a criança fica entregue a seus próprios caprichos e perde a grande
chance de se encontrar com novas possibilidades de viver, que não considera por ser seu
mundo centrado em si mesma.
Os pais também passam uma outra mensagem para o filho quando acolhem seu descontentamento com o estudo: o de que na vida
não vale se esforçar por nada. Que as pessoas
terão de aprender a conviver com ele do jeito
que ele é. Há coisa mais prepotente e individualista do que essa? "Eu sou assim, você tem
de me aceitar como sou" é a expressão que impossibilita diálogo, mudança, reflexão. Fora o
fato de que é uma luta de poder, não é?
E mais: agindo assim, os pais ensinam também que, ao se defrontar com um limite, uma
barreira, um obstáculo na vida, o melhor é recuar, abandonar, mudar de rumo, sem ao menos tentar para verificar se tal limite não pode
ser superado.
E sabe que os pais que agem assim acreditam que fazem de tudo para preparar o filho
para enfrentar um mundo competitivo ao extremo? Só que, ao mesmo tempo em que lotam a agenda do filho para que ele adquira
competências e habilidades (esportes, línguas
etc.), minam todo esse trabalho com o tipo de
formação familiar que dão aos filhos quando
defendem apenas seu bem-estar.
Dá para entender como é difícil para os pais
seguir encorajando o filho a se esforçar e a perseverar nos estudos num mundo em que o
prazer e a felicidade são perseguidos a qualquer custo. Mas é preciso, já que mesmo o prazer e a felicidade têm um custo: o do compromisso e o da coragem para enfrentar os riscos,
por exemplo.
Ter ou não um bom desempenho escolar e
uma boa relação com o conhecimento não é
garantia de nada para a vida dos filhos nem
para o futuro deles, infelizmente. Aliás, é preciso reconhecer que as escolas também não
têm ajudado muito seus alunos a entender
que o conhecimento exige disciplina e que
nem sempre é prazeroso estudar no momento
presente. Mas, se os pais acolhem as limitações dos filhos e não os encorajam nem os desafiam a pelo menos tentar se debruçar sobre
o que consideram árduo, eles não vão aprender a se controlar, a fazer escolhas, a se dedicar a alguma coisa com convicção e dedicação.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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