São Paulo, quinta-feira, 07 de maio de 2009
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Rosely Sayão

Intimidação e furto na escola

Muitos pais pedem providências da escola porque o filho passou por alguma situação problemática. Há dois temas que são campeões dessas solicitações: o bullying e os furtos. Acostumamo-nos a usar o termo bullying, mas um leitor reclamou desse uso, creio que com razão. Temos várias palavras em nossa língua que dão conta desse fenômeno e vou escolher uma delas: intimidação.
Os pais precisam saber que, apesar de essas situações ocorrerem principalmente na escola, eles podem atuar para reduzir sua incidência. A primeira coisa importante a saber é que os pequenos furtos que ocorrem na escola -em todas elas- não são atitudes de "alunos problemáticos" que não recebem uma boa educação em casa, que têm carências etc. São fruto do consumismo que temos praticado e ensinado aos mais novos. Qualquer criança, portanto, pode cometer um pequeno furto por um querer exagerado e incontrolado de ter algo. Os pais têm contribuído muito para que as tentações na escola sejam irresistíveis para essa geração que tem aprendido que ter é ser. Mandam seus filhos para a escola carregados de eletrônicos: telefone celular com vários recursos diferentes, videogame portátil, iPod etc.


[...] OS PAIS TÊM CONTRIBUÍDO PARA QUE AS TENTAÇÕES SEJAM IRRESISTÍVEIS PARA ESSA GERAÇÃO QUE TEM APRENDIDO QUE TER É SER


E o que dizer do arsenal de canetas diferentes, lapiseiras, réguas e outras quinquilharias que recheiam as enormes mochilas que eles carregam? Pois a primeira contribuição que os pais podem dar é a de evitar que seu filho leve para a escola todas essas bugigangas, que, aliás, atrapalham a concentração exigida pelo estudo. Para a escola, os alunos deveriam levar materiais simples para que saibam que a aprendizagem é o que importa.
Não podemos desvalorizar esses furtos quando o objeto é de pequeno custo nem valorizá-los em demasia porque é valioso. Todos devem ser tratados da mesma maneira, já que se trata de educar as crianças.
Quanto à intimidação, ao assédio, às provocações que ocorrem entre crianças e jovens, precisamos considerar a responsabilidade que nos cabe. Valorizamos muito a competição, os vencedores e os poderosos, não é? Acreditamos que as crianças devem se relacionar preferencialmente -quando não exclusivamente- com os de mesma idade e, desse modo, não ensinamos o respeito aos mais velhos e os cuidados com os mais novos. Pois as condutas deles seguem o que ensinamos.
Na verdade, poucos pais têm se preocupado com a educação moral de seus filhos, com o ensinamento das grandes virtudes -como a generosidade, a polidez, a humildade, a simplicidade, a compaixão, a coragem. Esta última, por sinal, tem sido bem desvirtuada, já que as crianças acreditam que é preciso coragem para pegar algo que não é seu e para brigar.
Os pais devem considerar que seus filhos não são apenas alvo de intimidação: muitas vezes são agentes dela. É bom lembrar que os papéis na escola circulam entre os alunos, não são fixos.
Por isso, além de exigir um trabalho educativo primoroso da escola referente aos furtos e à intimidação, os pais têm o dever de ensinar seus filhos a serem morais e virtuosos.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)

rosely.sayao@grupofolha.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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