São Paulo, quinta-feira, 07 de junho de 2001
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Brasileiros indicados ao Show Food Award

Pesquisadores, fazendeiros, comerciantes, qualquer um que colabore com a manutenção e a valorização da herança vegetal e animal que forma a cultura gastronômica de um país é candidato ao prêmio Slow Food Award, criado no ano passado. O júri, composto por 600 representantes de convívios (nome dado às associações locais de slow food) dos cinco continentes, indica os melhores projetos de seus países. Daí então a presidência do Slow Food faz uma seleção dos indicados e elabora uma lista de finalistas. Foram 13 no ano passado. Do grupo saíram cinco vencedores. Conheça abaixo quem venceu e por quê: 1) Mancy Jones, da Mauritânia: por incentivar a produção de leite e queijo de camelo por pastores nômades, gerando emprego e preservando a qualidade de vida do grupo, que representa 30% da população do país; 2) Raul Manuel Antônio, mexicano: o líder da comunidade indígena de Rancho Grande foi premiado por seus esforços para conservar as plantações de baunilha e cacau, quase extintas na região de Chinalta; 3) Marija Mikhailovna Girenko, russa: a bióloga e pesquisadora dedica-se à conservação de legumes tradicionais de seu país; 4) Jesus Garzón, espanhol: trabalha na preservação de espécies animais comestíveis em extinção; 5) Veli Gülas, da Turquia: pelos esforços para manter a produção do tradicional mel de Anzer e a sobrevivência da abelha que leva o mesmo nome. Os vencedores deste ano serão anunciados em outubro próximo. O prêmio: US$ 8.500. Conheça abaixo os brasileiros e seus respectivos produtos que foram indicados no ano passado e os que concorrem este ano. A escolha foi feita pelos cinco brasileiros que fazem parte do júri internacional: a escritora e colunista da Folha Nina Horta, a antropóloga Daisy Justus, a consultora gastronômica Margarida Nogueira, o crítico e colunista da Folha Josimar Melo e a jornalista e escritora Adriana Victor.

Cabra pé-duro
O fazendeiro paraibano Manoel Dantas Vilar Filho, 62, mantém sua criação de cabra pé-duro, que precisa de pouca água para viver e resiste bem à seca, diferentemente da maioria dos fazendeiros da região, que passou a importar vacas holandesas. Com a pé-duro, Vilar produz o grupiara, queijo de cabra aromatizado com ervas nativas do sertão, comparado aos melhores "chèvres" franceses. Sua filosofia: o sertanejo deve aprender a conviver com a seca em vez de tentar acabar com ela. Indicado em 2000.

Vinho orgânico
Primeiro vinho orgânico brasileiro a receber certificação internacional. Produzido pela Vinícola do Velho Museu (RS). Indicado em 2000.

Formiga frita
O Centro de Tradições Tropeiras pesquisa e divulga receitas e hábitos alimentares e culturais dos tropeiros (comerciantes que levavam mercadorias do litoral para o interior no séc. 17). Farofa de içá frita (fêmea da formiga saúva), arroz de urucum, leitão à pururuca e feijão tropeiro são os principais pratos típicos dos tropeiros. Indicado em 2000.

Almôndega de capivara
Esse é apenas um dos pratos feitos com a carne de um animal silvestre do cerrado. A criação de capivara, cateto, queixada, assim como a preservação da flora do cerrado (cipós, folhas secas, flores e galhos extraídos de forma sustentável são transformados em móveis e outros objetos) são alguns dos trabalhos da ONG Agrotec, de Diorama (GO). Indicada em 2000.

Sertão fértil
Construir barragens subterrâneas e cisternas para garantir abastecimento de água, aumentar a qualidade física e biológica da água com o uso do lírio branco (planta que decanta a argila em suspensão e elimina 95% a 98% dos coliformes fecais da água), plantar algodão orgânico, incentivar a caprinocultura, a ovinocultura e a apicultura agroecológica (produção de mel, própolis e cera). Essas são algumas das ações da Caatinga, sociedade civil sem fins lucrativos, criada para desenvolver a agricultura familiar do semi-árido nordestino, instalada em Ouricuri (sertão de PE). Indicada em 2001.

Salada orgânica
As terras passam por processo de desintoxicação antes do início da produção das hortaliças, que não levam nenhum tipo de adubo químico ou agrotóxico. Práticas como rotação de culturas e cultivo consorciado (plantio de duas espécies lado a lado) são adotadas para preservar o solo e garantir alimentos de alta qualidade. Desde 1994, os funcionários deixaram de ser assalariados para virar parceiros, recebendo porcentagem dos lucros. A façanha é dos produtores de hortifrutigranjeiros orgânicos do sítio do Moinho (em Itaipava, RJ). Indicado em 2001.

Churrasco de bambu
A iguaria é produzida pelo japonês Kimio Ishimtsu, 60, marceneiro radicado no Brasil há 30 anos, que se apaixonou pelo bambu por acaso, quando recebeu uma encomenda para construir uma casa de bambu no litoral norte de SP. O bambu produzido no seu sítio Maeda, em Mogi das Cruzes (SP), é usado como matéria-prima da marcenaria e também para limpar água e tirar o mau cheiro de geladeiras. Embora tenha condições climáticas ideais para o plantio, o Brasil produz pouco bambu porque suas utilidades, inclusive culinárias, são pouco conhecidas. "O bambu pode ser extraído sem destruir o ambiente porque sua árvore se regenera totalmente três anos após o corte. E serve para tudo", diz Ishimtsu. Indicado em 2001.

Fruta rara
Silvestre Silva, fotógrafo mineiro radicado em São Paulo, passou 15 anos viajando pelo Brasil documentando frutas raras, pouco conhecidas ou quase extintas, como chichá, bacupari, jabuticaba branca, feijoa, cambuci e pindaíba. Indicado em 2000 e 2001.


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