KARINA KLINGER
DA REPORTAGEM LOCAL

O xixi "fora de hora" de crianças entre 4 e 11 anos nem sempre esconde inexperiência, problemas psicológicos ou funcionais. Ele pode ocorrer simplesmente por um mau hábito, o qual não apenas provoca constrangimentos como infecções que aparentemente não têm explicação.
"Descobriu-se que a garotada, durante a micção, tem mania de contrair o esfíncter, espécie de válvula que segura a urina. O que acontece normalmente, durante a micção, é a contração ocorrer na bexiga, enquanto o esfíncter fica relaxado", explica o médico urologista Flavio Trigo Rocha, do Hospital das Clínicas (SP).
Quando a criança faz o contrário, contrai a válvula, a pressão dentro da bexiga aumenta, o fluxo de xixi diminui, e sempre sobra um pouco de urina, que pode ser eliminada a qualquer momento. Além da perda urinária, isso causa infecções.
E o médico alerta: "Se a infecção causada pelo hábito errado for ignorada, o problema poderá chegar ao extremo de, por exemplo, uma insuficiência renal".
A constatação de que 40% das crianças atendidas no Hospital das Clínicas tinham dificuldade em segurar o xixi e não apresentavam doenças funcionais levou o médico a trazer dos EUA um aparelho especial para ensinar crianças a urinar. O tratamento, inédito no país, já comprovou eficácia em pelo menos 30 casos.
Sem efeitos colaterais e de uso não-agressivo, o equipamento é composto de eletrodos e colocado próximo à região do ânus. "Ele registra a atividade do esfíncter e do fluxo urinário. Com desenhos, mostramos às crianças a forma certa de fazer xixi sem causar danos ao organismo", diz Rocha.
O novo equipamento já está disponível no Ambulatório da Urologia do HC (tel. 0/xx/11/3069-6439). Mas o urologista alerta: o tratamento não resolve o clássico problema de crianças que urinam durante a noite, mas daquelas que não conseguem segurar o xixi durante o dia e apresentam infecções sem ter motivos aparentes.
Fatores que podem estimular esse hábito errado ou outro problema urinário: alterações psicológicas, problemas familiares e pressão por parte dos pais para a retirada das fraldas. "Não se pode cobrar que crianças com menos de 4 anos desistam das fraldas." O ideal, de acordo com o médico, é que a criança desenvolva essa função naturalmente, o que ocorre entre 2 e 4 anos.


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