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Saúde
Cacto para emagrecer
Nova moda para perder peso, produtos à base de
Hoodia gordonii ainda não têm comprovação científica
FLÁVIA PEGORIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"A
desivos de Hoodia
gordonii, um tira-fome natural extremamente eficaz, utilizado desde numerosas
gerações pelos nativos da África do Sul. Forneço para 30
dias." O anúncio se tornou comum nas vendas pela internet
-e uma moda de compra principalmente entre mulheres que
pretendem perder alguns quilos. A nova onda do emagrecimento fácil, porém, ainda não
tem comprovação científica.
A citada Hoodia gordonii é
uma planta da família apocynaceae, espécie que possui talos
suculentos como na família dos
cactos. O vegetal, de flores exuberantes e cheiro forte, é típico
da África do Sul ao sul de Angola, passando pela Namíbia.
É conhecido e utilizado pelas
tribos indígenas africanas há
centenas de anos, principalmente para tratar indigestão e
algumas infecções. Isso até
1977, quando o Conselho de
Pesquisa Científica e Industrial
Sul-Africano isolou um ingrediente da planta conhecido como P57, supostamente responsável por um efeito moderador
de apetite, e o patenteou.
A partir daí, uma licença de
pesquisa foi concedida à farmacêutica Pfizer, que se dispôs a
isolar os ingredientes ativos a
partir de extratos do vegetal e
sintetizá-lo para produzir cápsulas que inibiriam a fome.
Mas, em 2002, a empresa abriu
mão dos direitos sobre os ingredientes primários da planta.
O endocrinologista e professor da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo
Marcello Bronstein suspeita
dos efeitos da Hoodia gordonii.
"Muitos medicamentos amplamente utilizados em medicina
são derivados de plantas, mas
isso exige um extenso trabalho
de experimentação."
O médico e farmacologista
Paul Hutson, da Universidade
Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, também acredita
que o vegetal pode ter suas propriedades, mas não deve ser
visto como uma solução mágica para o emagrecimento.
"Uma gigante dos medicamentos somente libera ao mercado
um produto relacionado ao tratamento da obesidade quando,
depois de muitas pesquisas,
conclui que não há grande valor em seu uso."
A Pfizer declarou que o desenvolvimento do ingrediente
ativo P57 havia sido suspenso
em razão de sua difícil sintetização. Na época, segundo a empresa, havia indícios de efeitos
colaterais nas cobaias. Afirmavam ainda que a planta tinha
um longo caminho a seguir antes de receber a aprovação da
FDA, agência de alimentos e
fármacos dos Estados Unidos.
Na teoria, o princípio ativo
agiria na região do hipotálamo
(centro cerebral da fome e da
saciedade) liberando um componente similar à glicose, mas
sem calorias. "A Hoodia gordonii é uma boa opção para quem
precisa perder apenas um ou
dois quilos", diz a nutricionista
Ângela Cabral Matos, de Curitiba. "Vários pesquisadores já
comprovaram sua ação, e não
há registros de efeitos nocivos."
Maior do que o otimismo em
relação à planta, porém, é o
marketing das companhias de
suplementos alimentares. O setor criou tamanha demanda
pelas plantas que elas passaram
ao grau de proteção ambiental
em diversos países, como Namíbia e África do Sul.
Vários produtos que anunciam trazer Hoodia gordonii,
no entanto, contêm uma porção ínfima do ingrediente ativo
-ou até nenhuma porção. Uma
pesquisa sul-africana com pílulas comercializadas da planta
descobriu que pelo menos metade dos produtos não continha nenhum traço do vegetal.
Quem detém hoje a patente
do P57 é a farmacêutica britânica Phytopharm. A empresa
afirma que seu objetivo é tornar esse princípio ativo estável,
para daí poder transformá-lo
em um medicamento. Por enquanto, ele é apenas considerado suplemento alimentar, podendo ser vendido em forma de
pílula, pó, bebida e adesivo
transdérmico. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite a importação do
suplemento apenas na forma
de extrato.
A promessa é uma tentação
enorme: com duas cápsulas,
sendo uma ingerida antes do
almoço e outra antes do jantar,
o indivíduo sente saciedade
consumindo apenas 40% do
que normalmente come.
Para comprovar o poder de
inibir a fome, um estudo feito
na Inglaterra dividiu pacientes
obesos em dois grupos. As pessoas que receberam o princípio
da Hoodia gordonii realmente
passaram a comer menos do
que estavam acostumadas
-coisa que acontece com muitos produtos do gênero, mas
que traz todos os quilos de volta logo após o fim do uso.
"Explico aos clientes que não
existe milagre. Todo produto
que auxilia no emagrecimento
precisa ser acompanhado de
exercícios", diz Diego Holanda,
dono de uma loja de suplementos alimentares em São Paulo
que vende o produto. "Mesmo
assim, 30% das vendas costumam ser de emagrecedores. As
pessoas aprovam cápsulas do
tipo, pois são simples de usar.
E, a Anvisa aprovando o artigo,
por que não usar?"
Com pesquisas ainda em andamento, quem decidir usar a
Hoodia gordonii deve procurar
acompanhamento médico.
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