São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002
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Dor de cabeça pode piorar no verão, com aumento de temperatura e de luz, que estimula a vasodilatação

Enxaqueca ganha força com sol e calor

JULIANA DORETTO - FREE-LANCE PARA A FOLHA

Mulheres caminham no centro de São Paulo sob muito calor; a sombrinha, que pode ser substituída por chapéu, protege quem tem enxaqueca Verão combina com o quê? Praia, sol, sorvete, cerveja gelada e ar-condicionado para contrabalançar porque ninguém é de ferro, certo? Não para quem sofre de enxaqueca. As altas temperaturas e os hábitos que elas acarretam detonam crises de dor de cabeça nos portadores dessa doença, que correspondem a 15% da população mundial, na maioria mulheres. Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaléia, 17% das mulheres e 8% da população masculina apresentam essa doença do cérebro, que é transmitida e herdada geneticamente e se caracteriza por crises periódicas de dor de cabeça acompanhadas por intolerância a ruídos e à claridade, além de náuseas e vômitos.
"Há vários elementos que levam o cérebro do paciente a iniciar o processo da dor. O calor pode funcionar, em conjunto com outras causas, que variam em cada caso, como fatores deflagradores das crises", explica o neurologista Abouch Krymchantowski, autor do livro "Enxaqueca - Doença do Cérebro com Tratamento Eficaz" (ed. Campus).
A dilatação dos vasos sanguíneos é a responsável pela dor. E o verão pode promover essa dilatação pelo aumento de irradiação dos raios infravermelho e ultravioleta -consequente da maior incidência da luz solar- e pela elevação da temperatura, diz o neurologista.
Mas é possível se defender desse infortúnio do verão. Como não dá para interferir na temperatura nem na luz solar, a ação deve recair sobre os hábitos comuns nesta época do ano.
Para o bem não apenas da sua pele, mas da sua cabeça, evite ir à praia entre 10 h e 16 h, quando a incidência dos raios infravermelhos é maior. E, mesmo fora desse horário, tente não prolongar a exposição ao sol por mais de uma hora.
Chapéu, óculos escuros e guarda-sol bloqueiam a luminosidade, mas a cabeça também não pode, literalmente, esquentar demais -o que acarreta vasodilatação. Por isso, na praia molhe a cabeça de tempos em tempos ou use um lenço ou uma "bandana" úmida.
Chope "estupidamente" gelado refresca, mas geralmente provoca crises, como toda bebida alcoólica. Ao partir para os sucos, refrigerantes e sorvetes, consuma-os vagarosamente e em pequenas quantidades. Isso porque mudanças bruscas de temperatura podem detonar a dor. O mesmo vale para o uso do ar-condicionado. Entrar no carro e acionar o ar, por exemplo, acarreta alteração rápida de temperatura. E aproximar o rosto do ventilador, do ar-condicionado e da geladeira ou do freezer aberto também pode desencadear a dor.
No verão, as pessoas tiram férias não só do trabalho, mas de outras rotinas, como a alimentar e a do número de horas de sono, e essas, para quem tem enxaqueca, devem ser mantidas.
Agora, se a dor de cabeça já estiver se instalado, seja no verão ou no inverno, massagens na cabeça prometem amenizá-la e compressas com gelo diminuem a dilatação dos vasos.
Por fim, uma medida que não exige custos nem esforço. O neurologista e professor da Universidade Federal de São Paulo Deusvenir de Souza Carvalho garante: "Se a pessoa relaxar e procurar lembrar-se de bons momentos durante a dor de cabeça, o próprio cérebro produzirá analgésicos que irão aliviar as crises."


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