São Paulo, quinta-feira, 07 de novembro de 2002
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coluna social

Baiano usa fotocordel para denunciar

ELKA ANDRELLO FREE-LANCE PARA A FOLHA

Antônio Alcântara, 48, é desses baianos arretados que não se assossegam com facilidade. Percorreu diversos lugares e diferentes profissões até encontrar a melhor maneira de expressar essa inquietude. Juntou cordel com fotografia para discutir questões sociais, como a vida das populações ribeirinhas do Norte do país, a devastação da floresta e o trabalho dos seringueiros. ""Como não tenho dinheiro para fazer uma exposição do meu trabalho, tive a idéia de pendurar as minhas fotos num cordel de acordo com essa bela tradição nordestina", diz Alcântara.
   
Soteropolitano, formou-se em teatro e, aos 23 anos, veio para São Paulo dar aulas de danças africanas -como bom baiano, sua família toda frequentava o candomblé. Quatro anos depois, trocou São Paulo pela Amazônia e acabou indo para o Acre, onde vive até hoje.
   
Lá, indignou-se com o que viu: o impacto ambiental causado pelo ciclo de mineração, a extração predatória da madeira no Acre e, principalmente, a exploração do trabalho das populações mais pobres e suas precárias condições de vida. Resolveu então documentar essa realidade.
   
"Pedi para uma amiga em São Paulo alguns filmes em preto-e-branco. Nada contra os filmes coloridos, mas a exuberância das cores não tem a ver com a proposta de meu trabalho", diz Alcântara, que conseguiu emplacar seu primeiro projeto pela Fundação Cultural do Estado do Acre.
   
Ele passou 30 dias viajando de barco para clicar as comunidades que vivem às margens do rio Purus, em regiões sem luz, água encanada, medicamentos ou merenda escolar. Muitos dos fotografados nunca haviam visto uma máquina na frente. "Queria denunciar essa situação, mas, primeiro, eu queria fotografar as pessoas, o lugar onde vivem, o que elas fazem", diz Alcântara.
O resultado desse trabalho virou sua primeira exposição de fotocordel. As imagens foram separadas por temas, como flora, fauna, transporte e caça, e para cada foto Alcântara escreveu um texto. "Por meio das imagens e dos textos, mostro pessoas que estão em uma condição humana abaixo do que seria o ideal para viver, é importante que todos saibam que elas existem e em que situação se encontram", diz o fotógrafo.
   
Seu próximo trabalho sobre os seringueiros também ganhará o formato de cordel e de denúncia. Esta coluna vai noticiar.


Para comprar o kit com 13 fotos dos moradores da região do rio Purus, ligue para 0/xx/68/9987-7613. O preço é R$ 10.


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