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coluna social
Baiano usa fotocordel para denunciar
ELKA ANDRELLO FREE-LANCE PARA A FOLHA
Antônio Alcântara, 48, é desses
baianos arretados que não se assossegam com facilidade. Percorreu diversos lugares e diferentes profissões até encontrar a melhor maneira
de expressar essa inquietude. Juntou
cordel com fotografia para discutir questões sociais, como a vida das populações
ribeirinhas do Norte do país, a devastação da floresta e o trabalho dos seringueiros. ""Como não tenho dinheiro para
fazer uma exposição do meu trabalho, tive a idéia de pendurar as minhas fotos
num cordel de acordo com essa bela tradição nordestina", diz Alcântara.
Soteropolitano, formou-se em teatro e,
aos 23 anos, veio para São Paulo dar aulas
de danças africanas -como bom baiano,
sua família toda frequentava o candomblé. Quatro anos depois, trocou São Paulo pela Amazônia e acabou indo para o
Acre, onde vive até hoje.
Lá, indignou-se com o que viu: o impacto ambiental causado pelo ciclo de
mineração, a extração predatória da madeira no Acre e, principalmente, a exploração do trabalho das populações mais
pobres e suas precárias condições de vida. Resolveu então documentar essa realidade.
"Pedi para uma amiga em São Paulo alguns filmes em preto-e-branco. Nada
contra os filmes coloridos, mas a exuberância das cores não tem a ver com a proposta de meu trabalho", diz Alcântara,
que conseguiu emplacar seu primeiro
projeto pela Fundação Cultural do Estado do Acre.
Ele passou 30 dias viajando de barco
para clicar as comunidades que vivem às
margens do rio Purus, em regiões sem
luz, água encanada, medicamentos ou
merenda escolar. Muitos dos fotografados nunca haviam visto uma máquina na
frente. "Queria denunciar essa situação,
mas, primeiro, eu queria fotografar as
pessoas, o lugar onde vivem, o que elas
fazem", diz Alcântara.
O resultado desse trabalho virou sua
primeira exposição de fotocordel. As
imagens foram separadas por temas, como flora, fauna, transporte e caça, e para
cada foto Alcântara escreveu um texto.
"Por meio das imagens e dos textos, mostro pessoas que estão em uma condição
humana abaixo do que seria o ideal para
viver, é importante que todos saibam que
elas existem e em que situação se encontram", diz o fotógrafo.
Seu próximo trabalho sobre os seringueiros também ganhará o formato de
cordel e de denúncia. Esta coluna vai noticiar.
Para comprar o kit com 13 fotos dos moradores da
região do rio Purus, ligue para 0/xx/68/9987-7613.
O preço é R$ 10.
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