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Efeitos do jejum no corpo
O jejum abala o metabolismo do organismo, e isso
pode ser benéfico! Mas
pode desencadear um distúrbio alimentar, o que é
um perigo. Religiosidade
à parte, médicos explicam
o impacto do jejum no
corpo segundo diferentes
especialidades.
Abalos no sistema metabólico são interessantes,
diz Luiz Eugênio Mello,
professor do Departamento de Fisiologia da
Unifesp. O organismo
muito estável durante
muito tempo não exercita
a capacidade de se adaptar
às alterações ambientais
que são inexoráveis -como ser acometido por um
vírus ou por um desgaste
de uma atividade estressante demais. "O sistema
enrijecido é menos maleável para vencer as intempéries", diz ele.
Sobre o estado de alerta
e a sensação de bem-estar
descritos por quem experimentou o jejum, a explicação médica está na liberação de algumas substâncias neurocerebrais: neurotransmissores, como
endorfinas, e hormônios,
como noradrenalina e
adrenalina, que entram
em ação em situações especiais, como estresse.
Essa liberação se dá para
compensar a falta de ingestão calórica, explica o
psiquiatra Alexandre Azevedo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas (HC). "É uma falsa sensação até de excesso
de energia", diz ele.
Quando esse estoque de
substâncias acaba, vêm as
sensações de fraqueza,
moleza e apatia e a dificuldade de concentração.
Já para o médico Fadlo
Fraige, chefe do departamento de endocrinologia
da Beneficência Portuguesa, o bem-estar no início
do jejum acontece porque
a pessoa está fora do chamado pós-prandial (a digestão). Nesse processo, o
fluxo de sangue se desloca
para o sistema digestivo,
diminuindo no restante
do corpo. Por isso sente
sono e precisa dormir, como o cristão do texto da
página anterior.
"Hoje se come mais do
que se necessita. Das 24
horas, ficamos cerca de
nove no pós-prandial",
diz Fraige, referindo-se à
digestão de três refeições
normais. Se o sujeito encarar pratos pesados e
gordurosos, o tempo da
digestão pode chegar a 16
horas.
"Segunda-feira devia ser
o dia internacional do jejum", diz o médico, sugerindo ingestão apenas de
líquidos durante um dia
da semana para quem tem
sobrepeso ou é obeso e,
especialmente, é sedentário. "Seria extremamente
benéfico, estaria depurando o organismo", diz ele,
alertando para casos em
que a prática é proibida,
como aos portadores de
diabetes.
Para a medicina tradicional chinesa, que considera o alimento e a respiração as fontes básicas de
energia para o corpo, não
teria sentido se valer do jejum como terapêutica.
Porém, "se o corpo está
carregado dos chamados
excessos momentâneos e
um excesso comum é o de
ingestão de bebidas", o jejum de um dia com o consumo apenas de líquidos é
indicado, diz a médica
Angela Tabosa, do Setor
de Medicina Chinesa-Acupuntura da Unifesp.
Do Grecco (Grupo de
Estudos, Assistência e
Pesquisa em Comer Compulsivo e Obesidade, do
HC), vem o alerta: "Jejum
é um perigo", diz Alexandre Azevedo, coordenador do grupo. "Quase todos os pacientes que têm
um distúrbio alimentar,
como anorexia e bulimia,
têm um histórico de dieta
inadequada e, na maioria
das vezes, o hábito de jejuar", diz o psiquiatra.
Decidir que não vai jantar um dia ou que vai pular o almoço é considerado jejuar. E atenção: seguir essa prática uma vez
por semana ou de forma
contínua pode provocar
um desequilíbrio neuroquímico e desencadear
um distúrbio alimentar.
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