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s.o.s. família
Criança perde quando é obrigada a ser popular
rosely sayão
O que deveria ser só festa e comemoração
na vida dos filhos transformou-se em um
problema -quando não num drama- na vida dos pais. Vamos conversar sobre um tema
que, aparentemente, é bem simples: festa de
aniversário de crianças com até nove ou dez anos, mais ou menos. Recebi várias cartas a esse respeito e, pelas questões trazidas, creio que
esse é um bom pretexto para nossa conversa
de hoje.
Uma das leitoras escreveu contando que a filha, que ia comemorar nove anos, queria uma
festa. A mãe concordou, mas a história foi
complicando-se a tal ponto que virou festa de
horror por tornar-se impraticável para a família. A garota, que freqüenta uma escola particular, insistia em ter de convidar todos os colegas de mesma série -três classes com mais ou
menos 25 alunos. O fato é que a menina sentia-se obrigada a convidar todos. E sabem por
quê? Para não correr o risco de não ser convidada para as festas dos colegas. Ou seja, instituiu-se uma norma na escola: em festa de aniversário, todos têm de ser convidados. E pensar que festa de aniversário deveria ser coisa
de amigos, uma comemoração entre pessoas
que se querem bem! Não tem sido.
E o que os pais têm a ver com isso? Pelo jeito,
muito. Filhos têm sido bastante pressionados
pelos pais para que sejam "sociáveis", o que,
na interpretação dos pais, significa ter muitos
amigos, ser convidado para viajar em fim de
semana e para todas as festas, receber muitos
telefonemas, ser popular, enfim, pertencer a
um grupo enorme. O que os filhos ganham
tentando ser assim ninguém sabe ao certo. Algumas ilusões e outras tantas decepções talvez. Mas o que podemos pensar, tendo como
base a história das festas de aniversário, é o
que os filhos não aprendem, o que não têm
oportunidade de experimentar.
Eles não aprendem, por exemplo, a escolher
e a discriminar amigos entre tantos colegas. É
na infância que os relacionamentos com os
pares começam -em geral, intermediados
por adultos- e é nessa fase que é possível começar a aprender que ter amigos pressupõe
diversos compromissos e obrigações. O da
lealdade, por exemplo, o que exige bastante de
crianças e jovens, já que eles ainda agem de
modo bem impulsivo e tendo como referência
seus próprios interesses. O da generosidade
também, já que ter -e ser- amigo acaba por
exigir tempo que poderia ser usado de outro
modo. Convidar um amigo para ir a casa ou
receber tal convite poderia ser uma grande
oportunidade de aprender a trocar intimidades, já que a casa é, por excelência, a fortaleza
da privacidade. Ter amigos, enfim, poderia ser
uma grande experiência e um bom aprendizado de valores éticos e de virtudes.
Mas, se a criança ou o jovem se sente obrigado a convidar para a sua festa todos os pares
que convivem com ele no espaço escolar
-pelo menos no seu período-, é sinal de
que não consegue escapar da ditadura do costume da maioria, não suporta a idéia de ser diferente e, muito menos, de sofrer a frustração
de não ser convidado para uma festa.
Mas há pais que permitem -ou exigem-
que o filho escolha quem convidar e muitos fazem isso de modo desajeitado. É claro, estão
ainda aprendendo! E o que acontece com os
colegas, ou mesmo amigos, que não são convidados? Sofrem, sentem-se rejeitados e frustrados. Aprenderão alguma coisa com essa experiência se os pais permitirem.
Muitos não têm dado essa oportunidade aos
filhos. Não se conformam com a exclusão, estimulam o filho a cortar o relacionamento
com o colega -ou amigo- e alguns chegam
ao limite: ligam para os pais do aniversariante
em busca de explicações. Às crianças tratadas
assim sobra a sensação de fracasso, que, aliás,
nada tem a ver com a situação vivenciada.
Os pais precisam admitir: é hora de o filho
viver e aprender a jogar, e ele tem condições de
superar os percalços da vida.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre
outros; e-mail: roselys@uol.com.br
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