São Paulo, quinta-feira, 08 de junho de 2006 |
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Neurociência Suzana Herculano-Houzel Você usa apenas 10% do cérebro?
Eu já sabia que a frase era conhecida,
mas resolvi perguntar. Em uma
pesquisa chamada "Você Conhece Seu Cérebro?", consultei pouco mais de 2.000
leigos sobre vários assuntos.
Eles concordavam que "utilizamos normalmente apenas
10% do cérebro"? A metade
assentiu. Repeti a pergunta a
algumas dezenas de neurocientistas, e eles prontamente discordaram. O veredicto?
Essa história de usar 10% do
cérebro é um mito.
Um mito de grande apelo,
é verdade. Quem só usasse
10% do cérebro teria 90% de
reserva e, se aprendesse a
usá-los, poderia ficar dez vezes mais inteligente, lembrar
dez vezes mais informações,
fazer contas dez vezes mais
rápido, falar dez vezes mais
línguas. Você pode, de fato,
ficar mais esperto, lembrar
mais coisas, ser mais rápido e
falar mais línguas, mas não
terá sido por passar a usar
mais de 10% do cérebro.
Até onde se sabe, não há
regiões silenciosas ou de reserva no cérebro, e, certamente, o cérebro não é 90%
reserva. Cada pedaço tem
sua função específica e, ainda
que ela seja desconhecida
aqui e ali, imagens do cérebro em funcionamento mostram que ele inteiro trabalha
e consome energia o tempo
todo, inclusive enquanto você dorme. Certo, ora umas
regiões trabalham mais, ora
menos. Mas todas estão ativas, a postos e têm seu papel.
Por isso, você não precisa
perder 90% do cérebro para
sofrer conseqüências graves.
Perca o equivalente a um dedal no lugar certo e, por
exemplo, você pode ser privado da fala ou da visão.
Também é engano acreditar que você só use 10% da
sua capacidade cerebral.
Basta lembrar que, para calcular o uso dos tais 10%, seria
preciso conhecer o limite, os
100% dessa capacidade.
Quem seria essa referência
que usa 100% da sua capacidade cerebral? Contra as
aparências, não seria um gênio, mas um infeliz que não
poderia aprender mais nada.
Na verdade, leitor, você já
usa 100% do seu cérebro.
Usa tanto o hemisfério direito quanto o esquerdo, usa todas as estruturas, tem todos
os neurônios capazes e funcionais. E, ainda assim, pode
se esforçar e aprender coisas
novas todos os dias, falar novas línguas, tornar-se pintor,
esgrimista ou costureiro. A
razão? O que faz a diferença
não é quanto do cérebro você usa, e sim como você o
usa: o que exige do seu cérebro, como o trata, que informações lhe oferece, como as
explora e as combina. Não se
preocupe, portanto, em usar
mais do seu cérebro, pois você já utiliza 100% dele. Preocupe-se em usá-lo melhor!
SUZANA HERCULANO-HOUZEL, neurocientista, é professora da UFRJ e autora de "O Cérebro Nosso de Cada Dia" (ed. Vieira & Lent) e de "O Cérebro em Transformação" (ed. Objetiva) @ - suzanahh@folhasp.com.br [...] Até onde se sabe, não há regiões silenciosas ou de reserva no cérebro, e, certamente, o cérebro não é 90% reserva Texto Anterior: Saúde: Dente por dente Próximo Texto: Jardim para comer Índice |
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