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saúde
Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade de Hiroshima associa mastigação a mal de Alzheimer
Dente por dente
TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL
O desenvolvimento do
mal de Alzheimer
pode estar relacionado a deficiências de
mastigação. A observação é fruto de investigações conduzidas
pelo centro de pesquisas sobre
crescimento e desenvolvimento do crânio e da face da Faculdade de Odontologia da Universidade de Hiroshima.
Coordenada pelo ortodontista Kazuo Tanne, a pesquisa
aponta que a degeneração dos
dentes causada pela mastigação imprópria promove a formação, no sistema nervoso
central, de placas da proteína
denominada beta, capazes de
danificar os neurônios e indicadoras do Alzheimer.
O experimento de Tanne foi
realizado com ratos. Inicialmente, ele comparou um grupo
de cobaias sem dentes a um
grupo normal. Os primeiros receberam alimentos moles, e os
outros, comida fibrosa. Exames
de tecidos do córtex cerebral
revelaram que neurônios dos
ratos desdentados estavam degenerados pelas placas de beta,
enquanto os ratos normais não
apresentavam alterações.
Em outro teste, Tanne comparou dois grupos de ratos com
dentições sadias, oferecendo
alimentos moles aos primeiros
e alimentos duros aos segundos. As placas apareceram novamente nos que receberam
alimentos moles. As descobertas evidenciam a necessidade
de preservar as funções mastigatórias e põem em xeque a
substituição da alimentação sólida pela pastosa, muito praticada por cuidadores de idosos.
O mais adequado, portanto, é
fazer a manutenção dentária
regularmente, para que as pessoas continuem aptas a ingerir
alimentos sólidos e fibrosos independentemente da idade.
"Os resultados enfatizam a
importância da mastigação para a estrutura e o funcionamento do sistema nervoso central, o
que contribui para a boa saúde
em geral", disse o pesquisador
Tanne à Folha, por e-mail.
DTM
Há dois anos, existe no Brasil
a especialidade em DTM (disfunção temporomandibular)
entre os dentistas. Pouco conhecida, a disfunção acomete a
articulação e os músculos que
realizam os movimentos da boca. Tem como característica lesões causadas por movimentos
desnecessários geralmente relacionados a hábitos como ranger os dentes (durante o dia ou
à noite), mascar chicletes e roer
as unhas.
A doença pode gerar sintomas como dor de cabeça crônica, dor de ouvido, problemas de
dicção e zumbidos, muitas vezes confundidos com sinais de
outros quadros, o que dificulta
bastante o seu diagnóstico.
Acomete mais as mulheres do
que os homens -a proporção é
de um caso masculino para cada nove femininos, apontam os
especialistas.
"A DTM não mata, mas causa
morbidade. Quem tem sente
dor e apresenta dificuldades
para comer, falar, beijar. Vai
perdendo qualidade de vida e
desenvolvendo problemas
emocionais", explica Antônio
Sérgio Guimarães, professor de
odontologia e responsável pelo
Ambulatório de Disfunção
Temporomandibular e Dor
Orofacial do Hospital São Paulo da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
A professora aposentada Vera Lucia Aguiar Silva, 59, levou
28 anos para diagnosticar sua
DTM. "Sofria dores de cabeça
horríveis. Tomava vários remédios diariamente. Passei por
muitos dentistas e até por psiquiatras, extraí dentes, fiz cirurgias desnecessárias. Além
de ser castigada pela dor, sentia
uma revolta terrível de viver
naquele sofrimento sem perspectiva de melhora", relata.
Vera está recebendo tratamento na Unifesp desde 2003 e
diz que hoje não sente mais dor.
"Mas há muitas seqüelas psicológicas de tantos anos de sofrimento", conta.
Antônio Sérgio Guimarães
comenta que há um perfil psicológico característico das pessoas que desenvolvem a DTM e
defende uma abordagem multidisciplinar que inclua a intervenção psicológica. "Geralmente os pacientes são pessoas
muito contidas, que não costumam dizer "não" e que se dedicam muito mais aos outros do
que a si mesmos. É preciso se
conscientizar dos movimentos
desnecessários e, paralelamente, promover uma mudança
comportamental", aponta.
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