São Paulo, quinta-feira, 08 de setembro de 2005
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S.O.S. família

Rosely Sayão

Estudo do meio não é passeio

Duas leitoras que têm filhos em idades diferentes questionam os passeios que as escolas promovem com seus alunos. A primeira quer saber se é da alçada da escola levar seus alunos para brincar em centros de diversões, por exemplo. A outra relata um caso acontecido na escola que seu filho freqüenta para fazer o questionamento.


Se os pais não concordarem com a proposta da escola para alguma atividade externa, basta não autorizar o filho a ir. Nenhum problema com isso


Conta ela, em nome de um grupo de várias mães, que a escola promoveu um passeio a uma cidade vizinha para alunos da primeira série para que fosse realizado o que eles chamam de "estudo do meio", recurso pedagógico utilizado na matéria de ciências. Ocorre que a mãe de um dos alunos nessa série não quis autorizar a ida do filho, mas também não conseguiu bancar a ausência dele no passeio. Mas ela conseguiu convencer a escola a ir junto. Porém, a escola não tornou público o fato. As outras mães só souberam do ocorrido por vias bem tortuosas. Resultado: esse grupo de mães questiona a atitude da escola, tanto em relação ao passeio quanto à permissão dada a uma mãe.
Não é de hoje que as escolas usam a estratégia de promover pequenas excursões de um ou mais dias com seus alunos. Muitas delas têm um foco educacional bem claro nessas atividades: são complementos de matérias estudadas teoricamente nas aulas. Tais escolas trabalham previamente com seus alunos os conteúdos a serem pesquisados e, no local, eles têm de realizar tarefas, que serão avaliadas no retorno. Trabalham também as regras e normas de convivência que estarão em vigor na viagem, bem como as penalidades previstas em caso de faltas cometidas. Além disso, os alunos vão acompanhados de um número suficiente de professores para tutelar todos em seus trabalhos e em seus passeios.
Outras escolas, entretanto, agem de modo irresponsável. Acreditam que levar seus alunos a passeios sedutores a eles e sem relação alguma com o conhecimento tem alguma valia. Algumas argumentam que, se as crianças não fossem levadas pela escola a determinados lugares, elas nunca teriam tal oportunidade, já que os pais não as levam. Ora, cada criança tem a família que tem e o papel da escola não é o de suprir as faltas que os pais impõem à vida dos filhos.
Há ainda passeios que, aparentemente, têm um caráter de conhecimento, mas, quando praticados, não permitem tal aproveitamento pelos alunos. É o caso de levar alunos de várias classes juntas para conhecer uma determinada parte da cidade, por exemplo, sem discutir os comportamentos necessários no espaço público, principalmente considerando a presença de tantos colegas e poucos professores. Um professor conseguir administrar sozinho uma sala com 35 alunos na escola já é um grande feito. Mas esperar que ele consiga o mesmo num espaço aberto e com tantos estímulos e pessoas presentes já é outra história. E mais: escolas têm feito esses passeios com alunos das séries iniciais, como o caso citado por nossa leitora. Alunos das primeiras séries estão começando a aprender o que significa ser aluno. Terão, no mínimo, oito anos para isso. Esses programas bem que podem ser feitos mais tarde, com melhor aproveitamento e aprendizado para todos.
Quanto aos pais, se não concordarem com a proposta da escola para alguma atividade externa, basta não autorizar o filho a ir. Nenhum problema com isso. Até pode ser que o filho reclame, que tente forçar a barra já que sair com colegas sempre soa como promessa de uma boa diversão. Mas ele supera facilmente essa ausência. Além disso, quando reunidos em grupo, os pais podem e devem argüir a escola a respeito da inserção desse tipo de atividade em seu projeto pedagógico.
Ensinar o aluno a conviver no espaço público, a ser pesquisador, a fazer a leitura do mundo em que vive é, sim, papel da escola. E o começo disso tudo deve ocorrer lá mesmo, no seu espaço. Agora, passear com a criançada, isso é papel da família.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br



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