São Paulo, quinta-feira, 08 de dezembro de 2005
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Lazer

O sudoku, que a Folha publica a partir de hoje, foi criado pelo matemático Leonhard Euler

Raciocínio lógico

LEANDRO BEGUOCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Na casa da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, o vício passou de pai para filha e de filha para neta. Há um mês, antes de uma viagem, Suzana ganhou do pai um livrinho com vários sudokus e ficou aficionada. Quando voltou ao Brasil, deixou que a filha de seis anos resolvesse alguns. "É o orgulho da mamãe", brinca a neurocientista, que é professora da UFRJ, além de entusiasta do sudoku, passatempo de nome japonês criado pelo matemático Leonhard Euler que, a partir de hoje, passa a ser publicado pela Folha.
O sudoku, palavra japonesa que significa "número solitário", consiste em um quadrado dividido em 81 casas. Em cada uma dessas casas, o jogador deve colocar números de 1 a 9 sem que o algarismo se repita na mesma linha, seja ela vertical ou horizontal.


O sudoku foi criado pelo matemático Leonhard Euler em 1783 para incentivar o interesse dos filhos pelos números


Acredita-se hoje que existam 6.670.903.752.021.072.936.960 jeitos diferentes de preencher as 81 casas do jogo, mas, como cada passatempo tem uma combinação inicial de algarismos predispostos, o que determina o patamar de dificuldade, a quantidade de sudokus diferentes que é possível criar é praticamente infinita.
Outro atrativo do jogo, além das chances ínfimas de se fazer duas vezes o mesmo, é que para cada sudoku existe apenas uma solução. De acordo com Suzana, além da satisfação de resolver um desafio novo a cada vez, o sudoku também tem outras vantagens. "É um jogo que exige concentração e raciocínio lógico e que ajuda a desenvolver a memória de trabalho e a capacidade de aprender a aprender, já que a pessoa precisa criar as próprias estratégias para solucionar o desafio."
Memória de trabalho, segundo a neurocientista, é a capacidade de trabalhar com várias informações ao mesmo tempo, como em um jogo de cartas. "Dependemos dessa memória para funcionar", diz ela.
Assim como muitas outras pessoas, Suzana deve ao juiz neozelandês Wayne Gould a popularização do sudoku no Ocidente. Em novembro de 2004, Gould convenceu o jornal inglês "The Times" a publicar o passatempo. "Conheci o jogo no Japão em 1997 e não consegui parar de fazê-lo. Então, decidi desenvolver um software que fizesse vários sudokus. O passo seguinte foi levar ao mundo essa diversão", diz Gould, que repassa os sudokus de graça a jornais do mundo inteiro e ganha dinheiro licenciando seu software.
Embora o nome do passatempo seja japonês, o sudoku foi criado pelo matemático suíço Leonhard Euler (1707-1783) em 1783 como uma forma de incentivar o interesse dos filhos pelos números. Após um longo tempo perdido entre livros, o jogo foi publicado pela primeira vez nos EUA, em 1979, em uma revista de jogos, mas sem alcançar sucesso de público.
O fim do ostracismo só veio em 1984. Naquele ano, o jogo foi introduzido no Japão e ganhou o nome pelo qual hoje é popular. Virou febre, virou livro e passou a ser publicado pelos grandes jornais do país naquele ano, tal como acontece atualmente nos países ocidentais.
Na Inglaterra, a W.H. Smith, uma rede de lojas de variedades, atribuiu o aumento de 700% na venda de uma de suas marcas de lápis ao jogo. Na Espanha, já começaram os primeiros campeonatos, em que os jogadores disputam quem preencherá primeiro as casas vazias. Nos Estados Unidos, há quem diga, com ironia, que é preciso criar grupos de apoio para os viciados em sudoku.


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