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Rosely Sayão
O que há nas mochilas
N o ato de observar os
mais novos, distanciados das nossas decisões em relação a
eles, é que podemos apreender
o resultado das ações que tomamos, principalmente as que visam a construção do futuro, ou
seja, as educativas. E, às vezes,
essa observação nos mostra
que cometemos equívocos.
Pois é a reflexão entre o que
miramos -nosso objetivo- e o
que conseguimos promover -o
resultado- que possibilita a
correção de rumos e a troca de
estratégias para que nos aproximemos mais do pretendido.
Considerando esse ponto de
vista, vamos pensar hoje em
uma questão bem trivial: o material que os alunos levam para
a escola e como o levam.
Deveríamos parar em frente
a uma escola para constatar: o
tamanho das mochilas é descomunal. E o fenômeno não é recente, tanto que vários profissionais já avisaram que crianças podem sofrer prejuízos por
carregar peso. Frente a essa informação, a solução pareceu lógica: trocar pastas e bolsas por
malas com rodinhas e mochilas
enormes. O interessante é que
não paramos para pensar na
necessidade de tanto material.
Pedi para a mãe de um garoto
de seis anos me mostrar a mochila dele, que não era das
maiores. Primeira surpresa: ela
vinha com uma lancheira. A
mochila enorme não reservava
espaço para o lanche.
Abri a mochila e tive a segunda surpresa: dentro, apenas
uma roupa e uma agenda. Abri
a agenda: já no reinício dos trabalhos escolares, apenas meia
dúzia de comunicações entre
professora e mãe. Uma agenda
digna de um adulto nas mãos de
uma criança serve para quê?
Perguntei as razões da mãe para mandar uma troca de roupa,
e ela contou que essa é uma solicitação da escola. Uma criança não pode ficar suja por algumas horas? Por que uma mochila tão grande? "Porque todos os alunos têm", disse a mãe.
E tem mais: alunos dessa idade que fazem natação na escola,
por exemplo, além da roupa de
banho, levam roupão, touca e
outras tranqueiras. Ou seja: ir
para a escola equivale a uma
viagem ou a uma ida ao clube.
As mochilas dos mais velhos
também contêm as indefectíveis agendas -conseguimos
burocratizar a vida escolar de
nossos alunos!- e livros didáticos, apostilas, mais livros didáticos e apostilas, um caderno
para cada disciplina, folhas
avulsas etc. A pergunta que
precisamos fazer é: avaliamos o
ensino por quilo? Parece.
Voltemos ao eixo de nossa reflexão: o que procuramos atingir com o material escolar e o
que de fato conseguimos? Pelo
jeito, cometemos alguns equívocos nessa questão.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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