São Paulo, quinta-feira, 09 de agosto de 2007
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Rosely Sayão

O que há nas mochilas

N o ato de observar os mais novos, distanciados das nossas decisões em relação a eles, é que podemos apreender o resultado das ações que tomamos, principalmente as que visam a construção do futuro, ou seja, as educativas. E, às vezes, essa observação nos mostra que cometemos equívocos. Pois é a reflexão entre o que miramos -nosso objetivo- e o que conseguimos promover -o resultado- que possibilita a correção de rumos e a troca de estratégias para que nos aproximemos mais do pretendido. Considerando esse ponto de vista, vamos pensar hoje em uma questão bem trivial: o material que os alunos levam para a escola e como o levam.
Deveríamos parar em frente a uma escola para constatar: o tamanho das mochilas é descomunal. E o fenômeno não é recente, tanto que vários profissionais já avisaram que crianças podem sofrer prejuízos por carregar peso. Frente a essa informação, a solução pareceu lógica: trocar pastas e bolsas por malas com rodinhas e mochilas enormes. O interessante é que não paramos para pensar na necessidade de tanto material. Pedi para a mãe de um garoto de seis anos me mostrar a mochila dele, que não era das maiores. Primeira surpresa: ela vinha com uma lancheira. A mochila enorme não reservava espaço para o lanche.
Abri a mochila e tive a segunda surpresa: dentro, apenas uma roupa e uma agenda. Abri a agenda: já no reinício dos trabalhos escolares, apenas meia dúzia de comunicações entre professora e mãe. Uma agenda digna de um adulto nas mãos de uma criança serve para quê? Perguntei as razões da mãe para mandar uma troca de roupa, e ela contou que essa é uma solicitação da escola. Uma criança não pode ficar suja por algumas horas? Por que uma mochila tão grande? "Porque todos os alunos têm", disse a mãe. E tem mais: alunos dessa idade que fazem natação na escola, por exemplo, além da roupa de banho, levam roupão, touca e outras tranqueiras. Ou seja: ir para a escola equivale a uma viagem ou a uma ida ao clube.
As mochilas dos mais velhos também contêm as indefectíveis agendas -conseguimos burocratizar a vida escolar de nossos alunos!- e livros didáticos, apostilas, mais livros didáticos e apostilas, um caderno para cada disciplina, folhas avulsas etc. A pergunta que precisamos fazer é: avaliamos o ensino por quilo? Parece. Voltemos ao eixo de nossa reflexão: o que procuramos atingir com o material escolar e o que de fato conseguimos? Pelo jeito, cometemos alguns equívocos nessa questão.


ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br


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