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São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003
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foco nela

ONG importa aparelho inédito para deficiente

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um acidente de carro transformou a vida de uma jovem de 26 anos num desafio. Tetraplégica, a psicóloga e publicitária Mara Gabrilli não apenas reagiu como está sempre surpreendendo. Acaba de importar dos Estados Unidos, por meio da ONG que dirige, o PPP (Projeto Próximo Passo), uma terapia inédita no Brasil. Trata-se de um equipamento, o Parastep System, que possibilita a uma pessoa com paralisia decorrente de lesão medular que possa caminhar. Com ele, Gabrilli, por exemplo, dá 200 passos fora da cadeira de rodas. Uma bela notícia para mais de 5% da população brasileira com deficiências relacionadas à locomoção.


"Nosso objetivo é tirar uma pessoa da cama e levar para a cadeira. Tirar outra de casa e fazer com que vire um atleta. Pegar um atleta e transformá-lo num campeão. Dar um "up" na vida. Acreditamos no esporte como reabilitação e reinserção social. Isso sem esquecer a saúde"


Folha - Como funciona o Parastep System?
Mara Gabrilli -
É um estimulador de seis canais que monitora seis músculos. É colocado nos quadríceps, músculo da coxa que deixa o joelho estendido, nos glúteos, que faz a pessoa ficar reta, e embaixo do joelho, nos tibiais anteriores. Tem um andador com um botão que o próprio paraplégico aperta para andar. O estimulador trabalha os músculos, descarrega peso na perna, faz a marcha, mantém o tônus, promove um exercício cardiorrespiratório, exige muito, mas com bons resultados. Seis pessoas estão usando há pouco mais de um mês, e todas já sentiram diferença na musculatura da coxa. Eu chego a andar 200 passos. Para quem não anda é maravilhoso!

Folha - O tratamento é gratuito?
Gabrilli -
É pago e funciona na Fórmula Academia, onde é a sede do PPP. Os alunos do PPP têm outro preço dos da Fórmula, mas usam a estrutura da academia.

Folha - Como é dividido seu tempo hoje?
Gabrilli -
Procuro reservar minhas manhãs para o corpo. Em um dia, ando pendurada; em outro, faço o Parastep; no outro, piscina; depois, alongamento. Tudo intercalado e com muita eletroestimulação no corpo inteiro. Durante as tardes, estou no PPP, administrando e fazendo contatos com as empresas. E, de noite, há um ano e meio, eu namoro.

Folha - Como funciona o PPP?
Gabrilli -
É uma ONG que, desde 1997, trabalha para melhorar a vida do deficiente físico. A gente faz isso por meio de fomento à pesquisa de cura da paralisia em parceria com alguns dos maiores laboratórios do Brasil. Na área de reabilitação, trabalhamos com um conceito bastante inovador, porque fazemos isso dentro de uma academia de ginástica e respeitando uma filosofia de inclusão, mantendo o deficiente físico com outras pessoas. Em outra área, trabalhamos com atletas deficientes.

Folha - Como é esse projeto com os atletas?
Gabrilli -
Nosso objetivo é tirar a pessoa da cama e levar para a cadeira. Tirar outra de casa e fazer com que vire um atleta. Pegar um atleta e transformá-lo num campeão. Dar um "up" na vida das pessoas. Acreditamos no esporte como reabilitação e reinserção social. Isso sem esquecer a saúde e a melhora da auto-estima. Patrocinamos essa equipe de basquete em rodas que, em menos de dois anos, saiu do 18º lugar da segunda divisão para o primeiro lugar da primeira divisão. Oferecemos aos atletas nutricionistas, fisioterapeutas, médicos, preparador físico, técnico, e eles dão um duro. A maioria não paga, e temos alguns patrocínios para levar o projeto adiante.

Folha - E que avanços na recuperação tiveram os alunos?
Gabrilli -
Começamos o programa aqui neste ano. É cedo para falar, mas já estamos vendo muita diferença em várias pessoas. Um aluno, por exemplo, cuja perna nunca respondeu a uma eletroestimulação, há dois meses vem obtendo respostas dela. Na academia, trabalhamos muito com a auto-estima da pessoa. Ele tem uma perna mais curta que a outra, mas ele nada numa piscina ao lado do Xuxa. Então, não está isolado num hospital branco onde todo mundo tem um problema igual ao dele. Aqui, cada um tem e administra um tipo de problema.

Folha - Quais as outras campanhas do PPP?
Gabrilli -
Uma delas chama-se Prato para o PPP, com atuação em São Paulo e no Nordeste. São sete restaurantes que criaram um prato especial no cardápio. Quando o cliente pede esse prato, o restaurante reverte uma quantia para nós, e o cliente ganha uma obra de arte. É um prato de louça da Schimidt desenhado por diferentes artistas. Todos os nossos projetos envolvem arte, gastronomia etc. como forma de não ficar passando o chapéu. Nossa próxima campanha, o PPP Pizza, será desenvolvida com pizzarias da cidade. As pessoas vão ganhar aventais com intervenções artísticas. Zélia Duncan e Zeca Baleiro, por exemplo, fizeram frases para os aventais. Temos ainda o projeto PPP in Concert, que vai promover um show dos Paralamas do Sucesso e de convidadas como Zélia Duncan, Luciana Mello e Ivete Sangalo. Outro trabalho a ser desenvolvido é uma ópera que há mais de cem anos não é executada no Brasil e que será dirigida pela Marília Pêra.

Folha - Para terminar, qual o seu recado?
Gabrilli -
Atenção, empresas: a gente precisa de apoio. Oferecemos uma parceria em que as empresas, além de aparecerem dando apoio a projetos de relevância e responsabilidade social, também têm isenção de Imposto de Renda.


Projeto Próximo Passo: www.ppp.org.br, tel. 0/xx/11/3094-3100, ramal 153.


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