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foco nela
ONG importa aparelho inédito para deficiente
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Um acidente de carro transformou a vida de uma jovem de 26 anos num desafio.
Tetraplégica, a psicóloga e publicitária
Mara Gabrilli não apenas reagiu como
está sempre surpreendendo. Acaba de
importar dos Estados Unidos, por meio
da ONG que dirige, o PPP (Projeto Próximo Passo), uma terapia inédita no Brasil.
Trata-se de um equipamento, o Parastep
System, que possibilita a uma pessoa
com paralisia decorrente de lesão medular que possa caminhar. Com ele, Gabrilli, por exemplo, dá 200 passos fora da cadeira de rodas. Uma bela notícia para
mais de 5% da população brasileira com
deficiências relacionadas à locomoção.
"Nosso objetivo é tirar uma pessoa da cama e levar para a cadeira. Tirar outra de casa e fazer com que vire um atleta. Pegar um atleta e transformá-lo num campeão. Dar um "up"
na vida. Acreditamos no esporte como reabilitação e reinserção social. Isso sem esquecer a saúde"
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Folha - Como funciona o Parastep
System?
Mara Gabrilli - É um estimulador de seis
canais que monitora seis músculos. É colocado nos quadríceps, músculo da coxa
que deixa o joelho estendido, nos glúteos,
que faz a pessoa ficar reta, e embaixo do
joelho, nos tibiais anteriores. Tem um andador com um botão que o próprio paraplégico aperta para andar. O estimulador
trabalha os músculos, descarrega peso na
perna, faz a marcha, mantém o tônus,
promove um exercício cardiorrespiratório, exige muito, mas com bons resultados. Seis pessoas estão usando há pouco
mais de um mês, e todas já sentiram diferença na musculatura da coxa. Eu chego
a andar 200 passos. Para quem não anda
é maravilhoso!
Folha - O tratamento é gratuito?
Gabrilli - É pago e funciona na Fórmula
Academia, onde é a sede do PPP. Os alunos do PPP têm outro preço dos da Fórmula, mas usam a estrutura da academia.
Folha - Como é dividido seu tempo hoje?
Gabrilli - Procuro reservar minhas manhãs para o corpo. Em um dia, ando pendurada; em outro, faço o Parastep; no outro, piscina; depois, alongamento. Tudo
intercalado e com muita eletroestimulação no corpo inteiro. Durante as tardes,
estou no PPP, administrando e fazendo
contatos com as empresas. E, de noite, há
um ano e meio, eu namoro.
Folha - Como funciona o PPP?
Gabrilli - É uma ONG que, desde 1997,
trabalha para melhorar a vida do deficiente físico. A gente faz isso por meio de
fomento à pesquisa de cura da paralisia
em parceria com alguns dos maiores laboratórios do Brasil. Na área de reabilitação, trabalhamos com um conceito bastante inovador, porque fazemos isso dentro de uma academia de ginástica e respeitando uma filosofia de inclusão, mantendo o deficiente físico com outras pessoas. Em outra área, trabalhamos com
atletas deficientes.
Folha - Como é esse projeto com os atletas?
Gabrilli - Nosso objetivo é tirar a pessoa
da cama e levar para a cadeira. Tirar outra de casa e fazer com que vire um atleta.
Pegar um atleta e transformá-lo num
campeão. Dar um "up" na vida das pessoas. Acreditamos no esporte como reabilitação e reinserção social. Isso sem esquecer a saúde e a melhora da auto-estima. Patrocinamos essa equipe de basquete em rodas que, em menos de dois
anos, saiu do 18º lugar da segunda divisão para o primeiro lugar da primeira divisão. Oferecemos aos atletas nutricionistas, fisioterapeutas, médicos, preparador
físico, técnico, e eles dão um duro. A
maioria não paga, e temos alguns patrocínios para levar o projeto adiante.
Folha - E que avanços na recuperação tiveram os alunos?
Gabrilli - Começamos o programa aqui
neste ano. É cedo para falar, mas já estamos vendo muita diferença em várias
pessoas. Um aluno, por exemplo, cuja
perna nunca respondeu a uma eletroestimulação, há dois meses vem obtendo
respostas dela. Na academia, trabalhamos muito com a auto-estima da pessoa.
Ele tem uma perna mais curta que a outra, mas ele nada numa piscina ao lado do
Xuxa. Então, não está isolado num hospital branco onde todo mundo tem um
problema igual ao dele. Aqui, cada um
tem e administra um tipo de problema.
Folha - Quais as outras campanhas do
PPP?
Gabrilli - Uma delas chama-se Prato para o PPP, com atuação em São Paulo e no
Nordeste. São sete restaurantes que criaram um prato especial no cardápio.
Quando o cliente pede esse prato, o restaurante reverte uma quantia para nós, e
o cliente ganha uma obra de arte. É um
prato de louça da Schimidt desenhado
por diferentes artistas. Todos os nossos
projetos envolvem arte, gastronomia etc.
como forma de não ficar passando o chapéu. Nossa próxima campanha, o PPP
Pizza, será desenvolvida com pizzarias
da cidade. As pessoas vão ganhar aventais com intervenções artísticas. Zélia
Duncan e Zeca Baleiro, por exemplo, fizeram frases para os aventais. Temos
ainda o projeto PPP in Concert, que vai
promover um show dos Paralamas do
Sucesso e de convidadas como Zélia
Duncan, Luciana Mello e Ivete Sangalo.
Outro trabalho a ser desenvolvido é uma
ópera que há mais de cem anos não é
executada no Brasil e que será dirigida
pela Marília Pêra.
Folha - Para terminar, qual o seu recado?
Gabrilli - Atenção, empresas: a gente
precisa de apoio. Oferecemos uma parceria em que as empresas, além de aparecerem dando apoio a projetos de relevância e responsabilidade social, também têm isenção de Imposto de Renda.
Projeto Próximo Passo: www.ppp.org.br, tel.
0/xx/11/3094-3100, ramal 153.
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