São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004
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Fitness

Academias investem em atividades circenses como trapézio e cama elástica para atrair novos clientes

Sob a tenda (imaginária) de um circo

ROGER PERESSINOTTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cama elástica, cordas, coreografias de dança e luta. As cenas não são mais restritas aos picadeiros de circo: academias de ginástica começaram a complementar os exercícios realizados em aparelhos de musculação, cujo investimento é considerado elevado, com inspiração circense. O movimento, que atinge cerca de 2.000 academias no Brasil -segundo a empresa Body Systems, uma das que oferecem o serviço-, passa pela ginástica rítmica em minitrampolins, por aulas de simulação de boxe e por atividades diretamente ligadas ao mundo do circo, como acrobacia, trapézio, malabarismo e o chamado "fitness acrobático".
De acordo com Paulo Akiau, diretor-presidente da Body Systems, a ginástica focada somente na musculação está esgotada. Alunos demonstram desânimo por ter de passar por dor e sofrimento para obter resultados no corpo. Por isso, a saída é transformar as academias em locais de entretenimento saudável. "Na década passada, buscava-se resultados e o aluno se sujeitava à tortura e à dor. Mas a tendência atual é a academia se transformar num centro de entretenimento, o que ajuda a explicar a questão lúdica do circo sendo explorada na ginástica", explica Akiau.
As próprias academias vêm perdendo alunos para escolas tradicionais de circo. Percebendo essa tendência, empresas como a de Akiau, e a FitPro, da professora de educação física Cida Conti, desenvolveram aulas coreografadas utilizando música e minitrampolins nos exercícios.
Cada empresa batiza os exercícios com nomes diferentes. "Jump Fit" (da FitPro) ou "Power Jump" (da Body Systems), além de seus complementos, seguem a mesma idéia: suar e exercitar o corpo com a diversão dos saltos em uma pequena cama elástica. "Os alunos buscam hoje aliar saúde mental à corporal. E nessas aulas a sociabilidade é maior, há a questão lúdica do circo e é uma forma de reaprender a brincar fazendo exercício. Muitos se sentem ridículos pulando, mas é um ridículo gostoso, que ajuda a combater o estresse", conta Paola Michelotti von Uhlendorff, gerente técnica de ginástica da Companhia Athlética do Morumbi Shopping, em São Paulo.
A modalidade é tão concorrida que a academia teve de abrir mais espaço e horários para atender a demanda. "Tem gente que ainda fica de fora das aulas da noite", afirma.

BENEFÍCIOS
O movimento não se restringe somente às grandes academias. Marcio de Lima, professor de Educação Física da Health, explica que estúdios menores têm conseguido atrair mais alunos com um investimento inferior, se comparado ao gasto na compra de equipamentos de musculação. "É uma tendência fascinante, que trabalha o corpo e o aspecto motivacional, deixando as aulas repleta de alunos", conta.
Segundo as duas maiores empresas que vendem técnicas circenses nas academias, são mais de 40 mil praticantes no país. "Estamos trilhando o caminho inverso do que sempre aconteceu nessa área: ao invés de importar métodos, estamos exportando", comemora Cida Conti, que treinou uma equipe na cidade do Porto, em Portugal, na semana passada, e já vendeu o método para a Argentina.
Professores reconhecem os efeitos benéficos para o corpo, como reativação da circulação sangüínea, a redução de celulite, o relaxamento, a prevenção da osteoporose e o aumento da resistência cardiovascular, tudo em forma de brincadeira.
Nem por isso significa que não existam regras e técnicas apropriadas para conseguir conquistar o aluno pela diversão e pelos benefícios à saúde. É a mesma preocupação com aulas de simulação de luta e boxe, no qual as técnicas são ensinadas com todos os exercícios exigidos de um lutador, sem necessariamente o contato físico.
A Companhia Athlética mantém, em São Paulo, um ringue de luta em três filiais (localizadas nos shoppings SP Market, Anália Franco e Brooklin), além das unidades de Belo Horizonte e Rio de Janeiro.

TRAPÉZIO
O mundo do circo não está restrito somente à ginástica, já que algumas têm também um minipicadeiro montado para aulas de acrobacia. É o que acontece na própria Companhia Athlética do Shopping Anália Franco, onde, de um pé-direito de oito metros, desenrola-se do teto o tecido usado na acrobacia e pende-se o trapézio, igualmente desafiador. "Queremos dar ao aluno o maior número de experiências da ginástica no circo, trabalhando a consciência corporal", diz Roberta Claro Ferreira, gerente de esportes da unidade da Companhia Athlética.
Inspirados pela companhia francesa Cirque du Soleil -não apenas pelos movimentos, mas pela música-, crianças de sete a 10 anos e adultos praticam atividades típicas de circo dentro da academia.
Segundo Gustavo Alejandro Rodrigues, professor de "fitness acrobático" da Fórmula do Shopping Eldorado, as aulas trabalham todos os grupos musculares, costas e membros inferiores. "Não que não seja importante a musculação, pois é preciso de preparo para fazer acrobacias. Mas a grande diferença é que na aula de 'fitness acrobático' usamos peso livre, o peso do seu próprio corpo. Você desenvolve uma visão espacial corporal melhor, virando de ponta cabeça", explica.
Além do exercício, a aula pode eliminar o estresse. É preciso atenção nos movimentos, pois qualquer erro pode ser prejudicial. "Mas é também por isso que o aluno esquece o mundo lá fora: é uma atividade gostosa e precisa ficar atento no que está fazendo para não se machucar", diz Rodrigues.


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