São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004
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Reflexões do mestre Paulinho

" (...) me perdoe a pressa/É a alma dos nossos negócios/Oh! Não tem de quê/Eu também só ando a cem/
Quando é que você telefona?/Precisamos nos ver por aí/Pra semana, prometo talvez nos vejamos/Quem sabe? (...)"


("Sinal Fechado",
Paulinho da Viola, 1969)


"Há um tempo cronológico baseado nos dados que temos dos ciclos da natureza, do sol e das marés, definido pela seleção desses fenômenos, mas de qualquer maneira é uma coisa subjetiva. Pode ser objetivo dividir o dia em 24 horas para você se situar. Esse é um tempo que a gente percebe e aceita.
O outro tempo eu acho mais complicado, que é relacionado à cultura como um todo. Eu tenho a sensação de que tudo o que eu vivi, tudo o que eu experimentei, está vivo em mim. Eu não vivo no passado, é o passado que vive em mim. Quando você se sensibiliza com uma obra feita há 300 anos, se ela lhe toca, lhe emociona, é porque ainda está viva. Tudo para mim é hoje e agora. Eu ouço obras do Pixinguinha e sei que elas foram feitas no século passado.Eu vivo aquilo. Ela não só me emociona, mas é como se fizesse parte do meu ser. Esse tempo é o tempo da minha vida.
E eu acho que essa vida não se esgota. Não posso falar nada sobre
o depois, ninguém pode. Mas acho que a vida segue. A morte é só um detalhe na vida da pessoa, assim como o nascimento. Quando uma coisa não me interessa, não me toca, pra mim ela morreu."
"Eu não costumo brigar com o tempo. Se briga muito com o tempo, principalmente, quando você quer ficar imutável, não quer envelhecer, não quer ter rugas, o cabelo fica branco e você quer pintar. Isso faz parte desse ciclo. Mas acho que a pessoa tem de cuidar da saúde. Não fazer loucuras para não perder a saúde. Falo de um tempo que não pode ser medido, que ninguém pode controlar. É daí que eu tentava explicar minha não-saudade. Eu sei respeitar os ciclos. Já perdi minha avó, que eu adorava, minha madrinha, que eu adorava. Às vezes eu fecho os olhos e é como se eu tivesse conversando com elas. Eu sei que não estão mais aqui, mas eu ouço as suas vozes. Elas estão vivas em mim."
"Eu também tenho a sensação de que o tempo passa depressa. Não sei explicar isso, não. Eu sei que, quando eu era garoto, principalmente, eu achava que o tempo era muito grande. Hoje, eu já acho o contrário. O tempo passa realmente muito rápido. O ano já está acabando e é muito pouco. Eu quero controlar tudo e não há resistência física que agüente. O próprio corpo exige que você descanse. Muitas vezes, você abre muitas frentes e aí fica querendo resolver aquilo, depois tem que pular para outra."


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