São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004
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O mesmo tempo para diferentes gerações

"O tempo está passando muito depressa porque a gente está ocupando muito o tempo"

No espetáculo musical "Paisagem Paulistana", adolescentes e idosos atuaram com base na obra do compositor paulistano Paulo Vanzolini, provando que nem sempre o tempo é uma barreira que distancia as gerações. A peça fez parte do "Programa de Educação para o Envelhecer Saudável", realizado neste ano no Sesc Itaquera, em São Paulo. Abaixo, alguns integrantes da trupe contam um pouco dessa experiência.

EQUILÍBRIO - Como é trabalhar com pessoas mais novas?
MARCO ANTÔNIO DA SILVA, 55 -
Estou fazendo um esforço para aproveitar bem esse tempo, apesar da minha idade. Achei legal essa fusão entre adolescentes e o pessoal da terceira idade. Aquele tempo que muitas vezes você pensa estar perdido, usamos adquirindo uma nova experiência com eles, brincando e conversando.
CONCEIÇÃO ROCHA DA SILVA, 59 - Foi a melhor coisa que aconteceu comigo. Eles são muito atenciosos, carinhosos. Eu já tinha até esquecido o jeito dos jovens, pois meus filhos estão todos grandes.
MARIA JOANA DE OLIVEIRA, 64 - Esses jovens daqui são diferentes. Tem jovem que não quer lidar com o idoso. Há uns que têm vergonha até dos próprios pais. Acham os pais quadrados.
ODETE DE PAULA BONIFÁCIO, 78 - Tem aquele prazer de encontrar e de conversar. Conselho não precisa dar porque eles são umas belezas. Dá para aprender com a alegria e a amizade.

EQUILÍBRIO - Como é trabalhar com os mais velhos?
DIEGO DE SOUZA TIAGO, 15 -
Algumas vezes, eles são piores que nós, são mais moleques que a gente. Idade não é o mais importante. Idade não é nada perto do que eles fazem.
JONATAS RODRIGUES, 18 - Eles têm muita disposição. Eu tinha um preconceito com a terceira idade, pensava que todos eram carrancudos. Depois que comecei a trabalhar com eles, mudei.
RODRIGO JUSTINO, 18 - Você aprende muito com o pessoal mais velho. É legal, a gente descobre que nunca é tarde para começar as coisas.
EQUILÍBRIO - Qual a relação de vocês com o tempo?
APARECIDA PAIVA, 83 -
O tempo para mim é o momento. Tudo que acontece naquele momento. Não há necessidade de pensar no futuro. O passado, eu já esqueci. Então, o tempo é o momento.
É agora.
IOLANDA RAMOS, 63 - Não tenho tempo para jogar fora. Estou aqui e já estou pensando o que fazer em casa. Não fico parada. Não tenho tempo para ficar no portão. Eu não gosto. Tempo livre eu não tenho, não. Meu dia é preenchido o tempo todo.

EQUILÍBRIO - Vocês têm a sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido?
JONATAS RODRIGUES, 18 -
Parece que ontem eu fiz cinco anos e já estou com 18. Tenho que me preparar, fazer tudo que esse pessoal já fez, construir uma vida em cima da minha. Todo pai de ator amador fala que isso não leva a futuro algum, para procurar um emprego ou arrumar alguma coisa para fazer. Pelo menos dentro da minha casa tem uma pressão do caramba. Minha mãe já amanhece falando isso. Mas tenho que andar com as minhas pernas.
ODETE DE PAULA BONIFÁCIO, 78 - Acho que o tempo está passando muito depressa porque a gente está ocupando muito o tempo, né? A gente faz ginástica, vem para o teatro, vem para o ensaio, faz serviço em casa, corre para lá e paga as contas. O tempo vai passando e, num instantinho, acaba. Se você faz mais coisas, o tempo passa mais depressa.


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