São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2004
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Sobre grilos e relógios

Aos oito anos, o índio Piracumã Yawalapíti, 50, viu um homem branco, quando deixou a aldeia dos Yawalapíti, no Alto Xingu (MT), e voou para São Paulo, onde passou oito meses. Piracumã, que trabalha há 20 na Funai (Fundação Nacional do Índio). "Não pensava a respeito do tempo. Não entedia o relógio. Olhava o tempo pela altura do sol. Hoje os jovens usam relógios na aldeia, mas é para enfeite. Nosso tempo é o grilo. Quando o grilo canta é hora de acordar.
À noite, os mais velhos contam histórias. Quando acaba a história, é hora de dormir." Segundo ele, cada um come na hora que sentir fome. Alguns yawalapítis incorporaram a correria do final de ano. "Os índios estão pegando essa mania, mas não é normal.
"Lá, o ano acaba em meados de novembro, durante a época das chuvas, e começa em março, na seca. Neste ínterim, o tempo "acaba". É hora de ficar recolhido dentro da oca, ouvindo histórias sobre o tempo.


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