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s.o.s família - rosely sayão
Técnica de publicidade não funciona na educação
Recebi duas questões -uma enviada por mãe e outra, por professora- que, apesar de distintas, podem ser pensadas em conjunto. A da mãe veio curta e grossa: "Como faço para meu filho entender que é preciso obedecer e que tudo o que faço e exijo é para o bem dele?". A questão da professora: "Quando um
aluno apresenta comportamento altamente
agressivo na escola, será que uma saída não é a
expulsão para que os que ficam entendam que
ter limites é para o bem deles?". Vamos refletir
sobre um dos pontos que elas colocam.
Que coisa mais impertinente o comportamento dessas crianças e desses adolescentes,
não? Por mais que os adultos argumentem,
eles não entendem que seus pais e professores,
mesmo quando tomam atitudes mais enérgicas e desagradáveis, só fazem isso pelo bem de
seus filhos e pupilos! Assim fica difícil orientar
-pensam muitos educadores-, pois a criançada e os adolescentes não querem saber de
obedecer por bem. E então, como é que faz?
Creio que pais e professores já perceberam
que o poder da argumentação não funciona
quando a questão é obediência. E esse é o dilema das leitoras que enviaram suas questões:
como fazer para ser obedecido sem ter de apelar para o uso -e abuso- do poder? Mandar,
pura e simplesmente, não tem dado certo por
diversos motivos. Por isso, ingenuamente,
pais e professores acreditaram que a outra alternativa seria usar a mesma lógica que dá certo em publicidade: a de persuadir e convencer
filhos e alunos de como é bom para eles obedecer aos mestres e aos pais. Dito assim parece
até brincadeira, mas é exatamente como os
pais têm agido. Claro que não funciona.
Os pais, para que sejam obedecidos por seus
filhos mesmo a contragosto, precisam de, no
mínimo, duas condições. A primeira é determinar com convicção, ou seja, com a certeza
de que a imposição, mesmo que difícil de ser
cumprida, é necessária. E isso dá certo. Basta
pensar em uma única situação: a ida do filho à
escola.
Os pais têm certeza absoluta de que isso é
bom para o filho, mesmo que ele resista, reclame, relute, queira desistir. Os pais insistem
com total segurança na sua decisão. E os filhos
vão à escola mesmo não gostando.
A outra condição é impor com autoridade.
E, como já conversamos a respeito por diversas outras vezes, isso não tem sido fácil.
Mesmo agindo dessa maneira, os pais não
têm garantia nenhuma de que serão atendidos
com resignação pelos filhos, que terão a obediência como resposta. E aí é que começa a
aventura de verdade, o jogo da educação: a administração dos conflitos e dos confrontos
que o ato de educar supõe. Negociar, ceder
quando dá, ouvir e considerar, ensinar a limitação da vida em família e em sociedade, sinalizar a liberdade possível e a impossível, respeitar e se fazer respeitar, por exemplo, fazem
parte dessa trama. Também faz parte saber
que os filhos não aprendem nada definitivamente até atingir a maturidade, quando, então, podem decidir por conta e risco o que fazer e arcar com as consequências.
Portanto insistir, persistir e ser paciente são
qualidades básicas e essenciais aos pais. E isso
é necessário tanto nas coisas mais simples do
cotidiano -como lembrar o filho diariamente de que ele precisa tomar banho- quanto
nas mais complexas -como fazê-lo cumprir
o horário determinado para chegar das festas.
Ordenar, impor, determinar qualquer coisa
aos filhos não é mesmo fácil. Mas, em muitas
situações, é preciso, e os pais sabem disso. Para suportar esse duro papel, é bom lembrar
que, mais cedo ou mais tarde, eles deixarão esse lugar de dependência e de falta de autonomia. Eles vão, sim, superar seus pais e os limites que eles significam. E podem chegar lá com
uma bússola que aponta o norte e, assim, se localizarem considerando a própria vida. Ou,
então, sem referência nenhuma para se nortear em seus rumos. Sabemos o que pode ser
melhor.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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