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São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Técnica de publicidade não funciona na educação

Recebi duas questões -uma enviada por mãe e outra, por professora- que, apesar de distintas, podem ser pensadas em conjunto. A da mãe veio curta e grossa: "Como faço para meu filho entender que é preciso obedecer e que tudo o que faço e exijo é para o bem dele?". A questão da professora: "Quando um aluno apresenta comportamento altamente agressivo na escola, será que uma saída não é a expulsão para que os que ficam entendam que ter limites é para o bem deles?". Vamos refletir sobre um dos pontos que elas colocam.
Que coisa mais impertinente o comportamento dessas crianças e desses adolescentes, não? Por mais que os adultos argumentem, eles não entendem que seus pais e professores, mesmo quando tomam atitudes mais enérgicas e desagradáveis, só fazem isso pelo bem de seus filhos e pupilos! Assim fica difícil orientar -pensam muitos educadores-, pois a criançada e os adolescentes não querem saber de obedecer por bem. E então, como é que faz?
Creio que pais e professores já perceberam que o poder da argumentação não funciona quando a questão é obediência. E esse é o dilema das leitoras que enviaram suas questões: como fazer para ser obedecido sem ter de apelar para o uso -e abuso- do poder? Mandar, pura e simplesmente, não tem dado certo por diversos motivos. Por isso, ingenuamente, pais e professores acreditaram que a outra alternativa seria usar a mesma lógica que dá certo em publicidade: a de persuadir e convencer filhos e alunos de como é bom para eles obedecer aos mestres e aos pais. Dito assim parece até brincadeira, mas é exatamente como os pais têm agido. Claro que não funciona.
Os pais, para que sejam obedecidos por seus filhos mesmo a contragosto, precisam de, no mínimo, duas condições. A primeira é determinar com convicção, ou seja, com a certeza de que a imposição, mesmo que difícil de ser cumprida, é necessária. E isso dá certo. Basta pensar em uma única situação: a ida do filho à escola.
Os pais têm certeza absoluta de que isso é bom para o filho, mesmo que ele resista, reclame, relute, queira desistir. Os pais insistem com total segurança na sua decisão. E os filhos vão à escola mesmo não gostando.
A outra condição é impor com autoridade. E, como já conversamos a respeito por diversas outras vezes, isso não tem sido fácil.
Mesmo agindo dessa maneira, os pais não têm garantia nenhuma de que serão atendidos com resignação pelos filhos, que terão a obediência como resposta. E aí é que começa a aventura de verdade, o jogo da educação: a administração dos conflitos e dos confrontos que o ato de educar supõe. Negociar, ceder quando dá, ouvir e considerar, ensinar a limitação da vida em família e em sociedade, sinalizar a liberdade possível e a impossível, respeitar e se fazer respeitar, por exemplo, fazem parte dessa trama. Também faz parte saber que os filhos não aprendem nada definitivamente até atingir a maturidade, quando, então, podem decidir por conta e risco o que fazer e arcar com as consequências.
Portanto insistir, persistir e ser paciente são qualidades básicas e essenciais aos pais. E isso é necessário tanto nas coisas mais simples do cotidiano -como lembrar o filho diariamente de que ele precisa tomar banho- quanto nas mais complexas -como fazê-lo cumprir o horário determinado para chegar das festas.
Ordenar, impor, determinar qualquer coisa aos filhos não é mesmo fácil. Mas, em muitas situações, é preciso, e os pais sabem disso. Para suportar esse duro papel, é bom lembrar que, mais cedo ou mais tarde, eles deixarão esse lugar de dependência e de falta de autonomia. Eles vão, sim, superar seus pais e os limites que eles significam. E podem chegar lá com uma bússola que aponta o norte e, assim, se localizarem considerando a própria vida. Ou, então, sem referência nenhuma para se nortear em seus rumos. Sabemos o que pode ser melhor.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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