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São cerca de sete horas e 40 km percorridos em morros, rios e cachoeiras, e o maior beneficiado não é o corpo, mas a cabeça
Corrida de aventura light é gincana de adulto
Fotos Wladimir Togumi/Divulgação
![](../images/q1007200302.jpg) |
Trecho de trekking em Natividade da Serra
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![](../images/q1007200303.jpg) |
Consulta ao mapa |
PAULO PRIOLLI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A imagem que se tem da corrida de aventura é aquela mostrada na
televisão, em que os atletas, em petição de miséria, depois de percorrerem mais de 200 km sob condições hostis, cruzam em frangalhos a
linha de chegada de provas consagradas mundialmente, como a Eco-Challenge. Por isso o acesso a essas disputas radicais sempre foi restrito
a uma pequena elite de atletas forjados na têmpera do aço.
A novidade é que os mortais comuns já podem se valer das emoções
dessas corridas com uma boa dose de
conforto e muita segurança. Versões
light do esporte começam a pipocar
por todo o país. São provas curtas e
em áreas acessíveis e menos selvagens que a mata atlântica ou o interior da Nova Zelândia, áreas de disputa do circuito "profissional".
Quem pratica afirma que a corrida
de aventura é uma modalidade esportiva que engloba outras: trekking
(caminhada), mountain bike (bicicleta), canoagem e técnicas verticais como o rapel (descer paredões ou cachoeiras por meio de cordas), além
de navegação (orientação por meio
de bússola e mapas topográficos).
Por conta disso, quem se habilita deve estar preparado tecnicamente e
com um certo condicionamento físico.
Por ironia, o bom preparo físico
não garante o sucesso de ninguém na
prova. Para alcançar o objetivo e
cumprir a prova, o importante é saber trabalhar em equipe, ter domínio
de todas as técnicas necessárias e intimidade com conceitos como estratégia e planejamento. E nisso a corrida
de aventura parece mais uma gincana.
Some-se o fato de as provas serem
praticadas em belas paisagens, em
meio à natureza, com riachos murmurantes para a canoagem e cachoeiras invocadas para o rapel.
"Brinquedo de gente grande", define Sérgio Zolino, 35, que está implantando no Brasil essa versão light do
esporte, com provas curtas, de 40 km,
em média, e duração de sete horas.
Com a experiência de quem já sobreviveu a oito provas do Iron Man (a
mais dura prova de triatlo do mundo), no Havaí, Zolino quer acabar
com o estigma de esporte violento.
"O cara que não se sente seguro ou se
machuca ou abandona a prova. E a
gente não quer uma coisa nem outra,
até para a sobrevivência do esporte."
Existem aquelas pessoas muito
competitivas, que só entram em campo para ganhar, mas o clima geral entre os participantes é divertir-se com
pouco risco -porque, pelas próprias
circunstâncias, ele sempre existe.
"Meu objetivo é não chegar em último", diz Ernesto Haberkorn, empresário de 59 anos que "há muitos anos
procurava uma atividade esportiva
assim. O bom é que, a cada segundo,
tem um desafio, mas nada é perigoso". O empresário, que participa das
provas com as filhas, a mulher e o
genro, faz tudo no seu ritmo e não se
importa em perder tempo, no meio
do caminho, para admirar uma paisagem bonita ou entrar num riacho
para tomar banho. E ainda assim
não faz feio. Numa prova recente, no
interior de São Paulo, sua equipe
chegou em 27º lugar entre as 75 participantes.
Para cima e para baixo
Quem se aventura numa corrida dessas pedala vários quilômetros morro acima e morro abaixo, desce quilômetros de corredeiras em canoas, anda
outros tantos quilômetros a pé e ainda faz rapel na encosta de cachoeiras,
em paredões que podem passar dos
20 m de altura.
O risco de entorses, fraturas e estragos do gênero existe, mas a organização costuma dispor de serviço
de apoio, como equipe médica de
plantão.
"Seis, sete horas sem parar, pedalando, remando, correndo e escalando não é para qualquer um", diz o arquiteto Juliano Mariutti, de 28 anos, corredor desde os 15. "Como a corrida de aventura está na moda agora", ele formou
uma equipe com os amigos, a Weekend Adventure, chegando em quarto lugar numa prova no mês passado. Ter brevê de piloto e saber ler os mapas topográficos
ajudou muito, diz ele.
Aliás, toda a graça da brincadeira está concentrada no mapa do
trajeto da prova, que é entregue a
todos apenas na véspera da competição. Com ele, você pode descobrir a melhor estratégia para
cumprir aquele trajeto e aquelas
tarefas e "desenterrar o tesouro".
Daí começa-se a planejar a forma
mais eficiente de colocar a estratégia em prática. Esse é um dos prazeres dos marmanjos, pois há ainda a satisfação pelo cumprimento
de uma meta.
Não há premiação em dinheiro.
Ganha-se medalha e experiência.
Segundo os adeptos, o maior benefício das corridas de aventura é
mental. Haberkorn destaca o desenvolvimento da autoconfiança,
da competência, do companheirismo, da liderança e da garra. Diz
aplicar, muitas vezes, técnicas de
orientação no trânsito e em outras atividades cotidianas, aumentando muito a sua eficiência.
O empresário foi o responsável
direto por uma categoria nova no
calendário de corridas: a dos trabalhadores de empresas de tecnologia da informação. Em agosto,
passa a competir com seus funcionários e concorrentes na categoria que ajudou a criar.
De que essas provas dão um duro golpe no estresse nosso de cada
dia não há dúvida. Duram um final de semana inteiro, o que implica viajar, conviver com a sua
turma, com outras turmas, conhecer novos lugares no meio da
natureza e, ainda por cima, praticar esporte.
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