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DERMATOLOGIA
Pele em perigo
Usar remédio para
tratar verrugas sem orientação
pode provocar
lesões e cicatrizes,
além de mascarar
problemas mais graves, afirmam
dermatologistas
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Sociedade Brasileira
de Dermatologia - regional São Paulo alerta médicos e pacientes sobre o uso sem orientação
de remédios para tratar verrugas. Essas drogas são disponíveis em farmácia e podem ser
adquiridas sem receita médica.
No entanto, podem causar
inflamações e cicatrizes na região da verruga e esconder algum problema mais sério, como uma lesão pré-cancerosa.
"O problema todo é o diagnóstico da verruga. O leigo dá esse
nome a toda lesão levantada na
pele, mas cabe ao médico avaliar qual é a causa da lesão", diz
o dermatologista Luiz Henrique Paschoal, professor da Faculdade de Medicina do ABC.
Além de não conseguir identificar o tipo de lesão, outra dificuldade do paciente está em
completar o tratamento corretamente e aplicar o produto somente no local atingido. "Em
alguns casos, indicamos a continuação do tratamento em casa. E já vemos muita complicação, porque o paciente usa errado, mesmo tendo passado no
consultório. Imagina fazer isso
sem uma triagem? É um perigo
vender esse tipo de produto diretamente ao paciente", alerta
a dermatologista Eliandre Palermo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Dermatológica.
Os dois especialistas conhecem casos de pacientes que sofreram queimaduras na pele ou
que tentaram tratar uma lesão
pré-cancerosa em casa e demoraram para iniciar o tratamento adequado.
A manipulação das verrugas
em casa também pode dificultar o diagnóstico do dermatologista. "Tem paciente que aplica
loções de própolis, de calêndula. Chega ao consultório com a
lesão tão machucada que não
consigo fazer a avaliação", afirma Palermo.
Um dos produtos vendidos
sem receita médica utiliza o
princípio da criocirurgia -tratamento a frio extremo que
causa morte das células ao redor da verruga e impede o crescimento do vírus causador.
Se mal aplicado, pode provocar dor, inflamação, infecção e
cicatriz. Se a verruga estiver
próxima a alguma articulação,
o uso errado dessa técnica pode
dificultar a movimentação. Na
base da unha, pode alterar seu
crescimento -ela cresce permanentemente disforme.
O médico também precisa fazer uma avaliação dos medicamentos usados pelo paciente.
Usuários de anticoagulantes,
por exemplo, não devem se
submeter a esse procedimento,
sob o risco de formação de bolhas de sangue.
"Aspirina, vitamina e ginkgo
biloba já podem alterar a coagulação, é preciso saber ao certo o que a pessoa toma. O médico pode ter um resultado ruim
com a técnica, mas saberá dar
continuidade ao tratamento e
resolver isso. Será que a empresa vai dar o mesmo suporte?",
indaga o dermatologista Reinaldo Tovo Filho, do Hospital
Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - regional São Paulo.
As verrugas acometem de 7%
a 12% da população e são mais
frequentes em crianças, atingindo de 10% a 20% delas. São
causadas pelas mais de cem variedades do HPV (papiloma vírus humano), transmitidas por
contato físico. As lesões surgem
com mais frequência em mãos,
pés e órgãos genitais.
Há ainda outras lesões formadas por um tecido fibroso
mole, chamadas de nevos, que
se confundem com as verrugas.
Um tipo de nevo, o melanoma plantar (tipo de câncer de
pele), tem características diferentes de outros melanomas e
pode surgir sem pigmentação.
"A pessoa pensa que é verruga.
Se aplicar produto sem orientação, vai irritar a lesão e ela vai se
multiplicar. É quase como cutucar o fogo", explica Palermo.
Segundo ela, 90% das lesões
são benignas, e algumas só são
tratadas por motivos estéticos.
"Nesses casos, pode ser indicado laser ou cirurgia corretiva.
Passar um ácido não resolve e
ainda pode deixar uma marca."
Nos outros casos, o tratamento pode ser feito com medicamentos, cremes e ácidos,
aplicados em consultório ou
em casa, com orientação do
dermatologista.
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