São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010
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DERMATOLOGIA

Pele em perigo

Usar remédio para tratar verrugas sem orientação pode provocar lesões e cicatrizes, além de mascarar problemas mais graves, afirmam dermatologistas

JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Sociedade Brasileira de Dermatologia - regional São Paulo alerta médicos e pacientes sobre o uso sem orientação de remédios para tratar verrugas. Essas drogas são disponíveis em farmácia e podem ser adquiridas sem receita médica.
No entanto, podem causar inflamações e cicatrizes na região da verruga e esconder algum problema mais sério, como uma lesão pré-cancerosa. "O problema todo é o diagnóstico da verruga. O leigo dá esse nome a toda lesão levantada na pele, mas cabe ao médico avaliar qual é a causa da lesão", diz o dermatologista Luiz Henrique Paschoal, professor da Faculdade de Medicina do ABC.
Além de não conseguir identificar o tipo de lesão, outra dificuldade do paciente está em completar o tratamento corretamente e aplicar o produto somente no local atingido. "Em alguns casos, indicamos a continuação do tratamento em casa. E já vemos muita complicação, porque o paciente usa errado, mesmo tendo passado no consultório. Imagina fazer isso sem uma triagem? É um perigo vender esse tipo de produto diretamente ao paciente", alerta a dermatologista Eliandre Palermo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.
Os dois especialistas conhecem casos de pacientes que sofreram queimaduras na pele ou que tentaram tratar uma lesão pré-cancerosa em casa e demoraram para iniciar o tratamento adequado.
A manipulação das verrugas em casa também pode dificultar o diagnóstico do dermatologista. "Tem paciente que aplica loções de própolis, de calêndula. Chega ao consultório com a lesão tão machucada que não consigo fazer a avaliação", afirma Palermo.
Um dos produtos vendidos sem receita médica utiliza o princípio da criocirurgia -tratamento a frio extremo que causa morte das células ao redor da verruga e impede o crescimento do vírus causador.
Se mal aplicado, pode provocar dor, inflamação, infecção e cicatriz. Se a verruga estiver próxima a alguma articulação, o uso errado dessa técnica pode dificultar a movimentação. Na base da unha, pode alterar seu crescimento -ela cresce permanentemente disforme.
O médico também precisa fazer uma avaliação dos medicamentos usados pelo paciente. Usuários de anticoagulantes, por exemplo, não devem se submeter a esse procedimento, sob o risco de formação de bolhas de sangue.
"Aspirina, vitamina e ginkgo biloba já podem alterar a coagulação, é preciso saber ao certo o que a pessoa toma. O médico pode ter um resultado ruim com a técnica, mas saberá dar continuidade ao tratamento e resolver isso. Será que a empresa vai dar o mesmo suporte?", indaga o dermatologista Reinaldo Tovo Filho, do Hospital Sírio-Libanês e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia - regional São Paulo.
As verrugas acometem de 7% a 12% da população e são mais frequentes em crianças, atingindo de 10% a 20% delas. São causadas pelas mais de cem variedades do HPV (papiloma vírus humano), transmitidas por contato físico. As lesões surgem com mais frequência em mãos, pés e órgãos genitais.
Há ainda outras lesões formadas por um tecido fibroso mole, chamadas de nevos, que se confundem com as verrugas.
Um tipo de nevo, o melanoma plantar (tipo de câncer de pele), tem características diferentes de outros melanomas e pode surgir sem pigmentação. "A pessoa pensa que é verruga. Se aplicar produto sem orientação, vai irritar a lesão e ela vai se multiplicar. É quase como cutucar o fogo", explica Palermo.
Segundo ela, 90% das lesões são benignas, e algumas só são tratadas por motivos estéticos. "Nesses casos, pode ser indicado laser ou cirurgia corretiva. Passar um ácido não resolve e ainda pode deixar uma marca."
Nos outros casos, o tratamento pode ser feito com medicamentos, cremes e ácidos, aplicados em consultório ou em casa, com orientação do dermatologista.




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