Rodrigo Bertolli/Divulgação

O bosque que pertence ao spa

São seis anos de funcionamento e quase 5.000 internações. A perda de peso varia de 8% a 10% entre as mulheres, chegando a 12% entre os homens. Mas, mesmo com esses bons resultados, o São Pedro Spa Médico, em Sorocaba (SP), desmistifica a idéia de que spa é lugar exclusivo para grandes obesos, onde se passa muita fome e muito desconforto, submetendo-se a um lufa-lufa infindável a mando de verdadeiros carrascos, como aqueles sargentos dos filmes de cadetes do Exército norte-americano. Naturalmente esbelta, a filósofa Branca Jurema Ponce, 50, vice-reitora comunitária da PUC-SP, emagreceu apenas 3 kg durante sua estada no spa. Mas o efeito do descanso e dos cuidados intensos eram evidentes. Bronzeada, desintoxicada e com o check-up em dia, ela cumpriu o bê-à-bá proposto pela clínica: desfrutou de férias de saúde. Ponce foi para o spa acompanhada por Lenita, sua filha de 19 anos. Estudante de teatro, ela perdeu 5 kg e ganhou condicionamento físico. "Nunca pensei que fosse dizer isso, mas adorei ficar aqui", disse Lenita, já planejando um retorno em breve e uma cirurgia plástica, agora possível graças ao emagrecimento. Prestes a voltar para casa, a filósofa afirmou estar determinada a manter pelo menos alguns dos hábitos adotados durante sua permanência, como as caminhadas diárias. "Eu estava tão estressada, funcionando no automático, que só agora percebi o quanto estava exaurida; tiraram um trator da minha cabeça e dois elefantes das minhas costas", disse, bem-humorada, no décimo dia de sua primeira internação no São Pedro. Sim, internação. O São Pedro é um spa médico por excelência, que não abre mão dessa prerrogativa. Quem lá se hospeda é tratado como paciente. A rotina prevê exames laboratoriais completos, check-up clínico nas mais variadas especialidades médicas e ainda um controle individual das atividades diárias. Incluindo, claro, a folclórica revista, feita logo após o check in, em que a bagagem do paciente é examinada para evitar "contrabando" de guloseimas.

Conscientização
"Analisamos o paciente individualmente, levando em conta suas características fisiológicas, emocionais e psicológicas", afirma o pneumologista Sérgio dos Santos, diretor clínico do spa. "Nosso trabalho vislumbra o paciente como um todo, com a meta de conscientizá-lo sobre a prevenção, o tratamento e a reabilitação para uma qualidade de vida melhor e perene, dentro e fora daqui", explica. Segundo ele, essa dinâmica justifica a exigência de dez dias para a primeira internação. Feito o diagnóstico, cada um recebe orientações para montar sua própria agenda. Um exemplo? Caminhada matinal no bosque, seguida de aula de tênis e hidroginástica; papinho e banho de sol; após o almoço, descanso, alongamento, aula de ioga, hidroginástica e banho de sol novamente. Cansou? É só aportar no centro estético e relaxar nas mãos de uma das esteticistas que fazem massagem, hidratação corporal, terapia das pedras quentes e outros dengos do gênero. Depois do jantar, às 20h, ou da ceia -a sexta e última refeição do dia, por volta das 22h-, sempre há uma programação organizada pela equipe de recreação. Nem sempre funciona, mas eles criam vários programas, como idas à cidade -monitoradas para evitar escapadas à padaria- para assistir a um filme ou a uma peça de teatro e luaus regados a sucos dietéticos à beira da piscina, ao som de música ao vivo e com direito a karaokê. O lazer pode incluir ainda um bingo ao estilo das paróquias do interior ou jogos de salão como o dicionário, o predileto dos escritores Fernando Moraes e Mário Prata, ambos frequentadores assíduos do spa. Prata, aliás, inspirou-se em suas estadas no São Pedro para escrever "Diário de um Magro" (ed. Globo), uma coletânea de divertidas crônicas sobre o universo de um spa.

Autonomia
Apesar das muitas atividades de dia e à noite, é o paciente quem determina o ritmo de sua temporada no São Pedro. Desde que cumpra as normas médicas e nutricionais do spa, o paciente pode, por exemplo, optar somente por atividades mais tranquilas, como aulas de ioga e de alongamento, banhos de ofurô e massagens como a oriental, que é feita numa tenda ao ar livre.
A rotina é conduzida por uma equipe simpática, integrada e bem treinada, que respeita as opções do paciente. Por isso ninguém corre o risco de ser interpelado por um apito se decidir resguardar-se num dos vários recantos do pequeno bosque, na silenciosa capela ou ao longo das alamedas arborizadas por onde se espalham bancos de madeira em estilo colonial, ideais para meditar, olhar as nuvens e pensar na vida.


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