|
Próximo Texto | Índice
Outras idéias
Wilson Jacob Filho
O "plano B"
[...] O DETERMINADO CHEGA AONDE PLANEJOU, ESCOLHENDO O MELHOR CAMINHO; O
TEIMOSO FICA NO CAMINHO PREVIAMENTE ESCOLHIDO, TENTANDO FAZER COM QUE
ELE O LEVE AO SEU OBJETIVO
Ao perceber que não
poderia manifestar
pessoalmente os
meus votos na comemoração do 21º aniversário de
um amigo, resolvi lhe escrever
uma mensagem que fosse além
dos votos de felicidade eterna e
de pleno sucesso, existentes só
nos domínios da fantasia.
O que recomendar, porém, a
quem acaba de atingir a plenitude do seu desenvolvimento
físico e que mal começa a perceber os limites da sua capacidade psíquica e cognitiva?
Reportei-me ao passado,
buscando entender o que eu
gostaria de ter compreendido
na mesma idade e que poderia
me ter sido útil dali em diante.
Nada encontrei ligado a um tema específico nem senti falta
de qualquer previsão importante que, na época, teria sido
útil para a tomada de decisões.
Primeira conclusão: andar a
gente aprende andando.
Mesmo assim insisti, relembrando os sonhos daquela idade. Percebi que alguns se realizaram exatamente como eu imaginara, enquanto outros
chegaram perto. A maioria, porém, ficou no fértil universo do
imaginário. Por outro lado,
grande parte das realizações
atuais não estava entre as expectativas de outrora. Curiosamente, dessa aparente dissonância entre o sonho e a realidade só restou um sentimento
de desagrado quando não houve uma solução alternativa. Segunda conclusão: sonhar é fundamental; realizar é opcional.
Pronto, descobri o que gostaria de dizer a quem tem muitos
anseios atuais e uma longa expectativa de vida para edificá-los. Não há por que limitá-los
por serem aparentemente irrealizáveis. Mais importante é
encontrar mais de um caminho
para atingir cada objetivo. Assim, haverá menor risco de nos
tornarmos reféns de uma condição isolada. O "plano B" passa
a ser uma boa alternativa quando o "A" se mostra inviável.
Tenho aprendido muito sobre esse assunto com aqueles
que já viveram mais do que eu e
cujas experiências demonstram que o conjunto da obra
depende muito mais da capacidade de encontrar o melhor caminho durante a viagem do que
de tê-lo idealizado nos mínimos detalhes antes de iniciá-la.
Assim entendendo, fica mais
simples diferençar a determinação necessária para que o objetivo seja alcançado da teimosia que impede a escolha de um
plano alternativo. Para isso, o
tempo é um grande aliado.
Sempre poderemos aprender a
preparar vias alternativas para
chegar aonde queremos desde
que tenhamos a flexibilidade
necessária para reconhecer um
obstáculo intransponível.
Terceira conclusão: o determinado chega aonde planejou,
escolhendo o melhor caminho.
O teimoso fica no caminho
previamente escolhido, tentando fazer com que ele o leve
ao seu objetivo.
Escrevi, finalmente, a mensagem. Além de lhe desejar
uma vida longa e repleta de desafios, recomendei que fosse
generoso consigo mesmo, dando-se muitas opções para a
realização dos seus sonhos.
Não há motivo para pressa. A
arte de escolher acertadamente é tarefa para o longo prazo.
Os idosos que conheço que estão satisfeitos com a vida seguem criando seus "planos B".
Talvez seja essa uma das
principais estratégias para fazer da longevidade um caminho igualmente interessante, a
despeito de quanto cada um já
o tenha percorrido.
WILSON JACOB FILHO , professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de
Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor
de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp
Próximo Texto: Pergunte aqui Índice
|