São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007
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Outras idéias

Wilson Jacob Filho

O "plano B"

[...] O DETERMINADO CHEGA AONDE PLANEJOU, ESCOLHENDO O MELHOR CAMINHO; O TEIMOSO FICA NO CAMINHO PREVIAMENTE ESCOLHIDO, TENTANDO FAZER COM QUE ELE O LEVE AO SEU OBJETIVO

Ao perceber que não poderia manifestar pessoalmente os meus votos na comemoração do 21º aniversário de um amigo, resolvi lhe escrever uma mensagem que fosse além dos votos de felicidade eterna e de pleno sucesso, existentes só nos domínios da fantasia.
O que recomendar, porém, a quem acaba de atingir a plenitude do seu desenvolvimento físico e que mal começa a perceber os limites da sua capacidade psíquica e cognitiva?
Reportei-me ao passado, buscando entender o que eu gostaria de ter compreendido na mesma idade e que poderia me ter sido útil dali em diante. Nada encontrei ligado a um tema específico nem senti falta de qualquer previsão importante que, na época, teria sido útil para a tomada de decisões. Primeira conclusão: andar a gente aprende andando.
Mesmo assim insisti, relembrando os sonhos daquela idade. Percebi que alguns se realizaram exatamente como eu imaginara, enquanto outros chegaram perto. A maioria, porém, ficou no fértil universo do imaginário. Por outro lado, grande parte das realizações atuais não estava entre as expectativas de outrora. Curiosamente, dessa aparente dissonância entre o sonho e a realidade só restou um sentimento de desagrado quando não houve uma solução alternativa. Segunda conclusão: sonhar é fundamental; realizar é opcional.
Pronto, descobri o que gostaria de dizer a quem tem muitos anseios atuais e uma longa expectativa de vida para edificá-los. Não há por que limitá-los por serem aparentemente irrealizáveis. Mais importante é encontrar mais de um caminho para atingir cada objetivo. Assim, haverá menor risco de nos tornarmos reféns de uma condição isolada. O "plano B" passa a ser uma boa alternativa quando o "A" se mostra inviável.
Tenho aprendido muito sobre esse assunto com aqueles que já viveram mais do que eu e cujas experiências demonstram que o conjunto da obra depende muito mais da capacidade de encontrar o melhor caminho durante a viagem do que de tê-lo idealizado nos mínimos detalhes antes de iniciá-la.
Assim entendendo, fica mais simples diferençar a determinação necessária para que o objetivo seja alcançado da teimosia que impede a escolha de um plano alternativo. Para isso, o tempo é um grande aliado. Sempre poderemos aprender a preparar vias alternativas para chegar aonde queremos desde que tenhamos a flexibilidade necessária para reconhecer um obstáculo intransponível.
Terceira conclusão: o determinado chega aonde planejou, escolhendo o melhor caminho. O teimoso fica no caminho previamente escolhido, tentando fazer com que ele o leve ao seu objetivo.
Escrevi, finalmente, a mensagem. Além de lhe desejar uma vida longa e repleta de desafios, recomendei que fosse generoso consigo mesmo, dando-se muitas opções para a realização dos seus sonhos. Não há motivo para pressa. A arte de escolher acertadamente é tarefa para o longo prazo. Os idosos que conheço que estão satisfeitos com a vida seguem criando seus "planos B".
Talvez seja essa uma das principais estratégias para fazer da longevidade um caminho igualmente interessante, a despeito de quanto cada um já o tenha percorrido.


WILSON JACOB FILHO , professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)

wiljac@usp.br


Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp


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