São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ai, que vontade que dá

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

A primeira corrida, como tantas outras primeiras vezes, a gente nunca esquece. O queimar nos pulmões, as pernas bambeando, fazendo que não vão, mas indo, o sangue pulsando firme, o bater dos pés no asfalto, ultrapassar mais um e mais outro, chegar como um conquistador.
Dói tudo, e a gente jura que nunca mais. E na semana seguinte já está pensando na próxima.
O corredor começa a se avaliar, se dá ares de atleta, calcula tempos, pensa que pode melhorar, sabe que pode ser mais rápido, vai, sim, correr mais.
Nós estamos sempre insatisfeitos, queremos mais da vida, de nós mesmos. Dá vontade de puxar só mais um tantinho, forçar apenas um passo, ir além.
Falamos em romper limites, mas nem sempre percebemos que isso é uma grande bobagem.
O corpo dá só o que tem. Se for além, rompe, quebra, luxa, torce, arrebenta, falece. Nós podemos, sim, ampliar os limites de nossos corpos, treinar mais, aos poucos, construindo um ser mais forte, mais resistente, mais rápido. Mas chega um ponto em que não vai mais.
O principal é construir um ser que possa se reconhecer e saber até onde vai: essa é talvez a maior conquista. Ouvir os reclames do corpo, perceber essa mensagem interior e fazer dela a sua força, seja no treininho domingueiro, seja na prova mais sonhada. É preciso correr assim para seguir inteiro, vivo, em um pedaço só. E feliz, descontente, sempre querendo um pouquinho mais.


Rodolfo Lucena, 50, é ultramaratonista e autor de "Maratonando, Desafios e Descobertas nos Cinco Continentes" (ed. Record); escreve no blog + Corrida (www.folha.com.br/rodolfolucena)


Texto Anterior: Vítimas do esporte
Próximo Texto: Neurociência - Suzana Herculano-Houzel: Dormindo nas nuvens
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.