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s.o.s família - rosely sayão
Exigir obediência sem medo de ser autoritário
Recebo um volume grande de correspondência de pais e professores comentando
situações do cotidiano que envolvem a educação. Recentemente, li e reli a maioria das mensagens que tenho arquivadas para organizar
os assuntos em temas e levantar os mais frequentes. Mas sabem que notei um fato bem
interessante? A palavra obediência quase não
é usada por ninguém. Por que será?
Talvez porque nem pais nem professores
queiram ser -nem mesmo parecer- autoritários quando educam seus filhos e alunos.
Quem teve pais autoritários ou frequentou escolas assim sabe muito bem que fica mais difícil traçar um rumo na vida com a pressão do
autoritarismo. Essa já é uma boa razão para
querer educar de um jeito diferente.
Acontece que não ser autoritário não significa, de modo nenhum, não ocupar o lugar de
autoridade que ser pai, ser mãe ou ser professor implica. E autoridade supõe obediência.
Sem obediência, a autoridade perde o sentido,
deixa de ser autoridade. E sem ela a assimetria
na relação educativa deixa de existir.
Ocorre que ocupar esse lugar exige comprometimento, dá trabalho e traz responsabilidade. Para falar bem a verdade, é um ônus exercer esse papel porque é preciso estar atento o
tempo todo para que ele não se esvazie. Como
tem sido cada vez mais difícil sustentar esse lugar, responsabilizar filhos e alunos pela fragilidade do vínculo com a autoridade parece ter
sido um caminho quase natural. E a discussão
mudou totalmente de foco. Deixamos de falar
em obediência e passamos a falar em limites.
Vejam que processo interessante percorremos. Falar em obediência supõe no mínimo
dois sujeitos envolvidos: aquele que exerce a
autoridade que lhe cabe naquele momento e
aquele que precisa responder com um mínimo de obediência para manter o vínculo, a relação. Ao falarmos em limites, podemos supor
apenas um sujeito.
Quando uma mãe diz, por exemplo, "meu
filho não tem limites", parece até que ela não
está implicada na questão, que ela não tem nada a ver com o fato que descreve. Quando um
professor diz que seus alunos não aceitam limites, ele também não se põe na situação, não
credita a ele nenhuma responsabilidade pelo
fato. E foi assim, sem nos darmos conta, que
passamos a colocar todo o fardo do trabalho
educativo nas costas de crianças e adolescentes. A história é com eles; eles precisam aceitar
os limites e respeitá-los.
Vamos deixar de lado esse constrangimento
com a palavra obediência e seu conceito. Mas
para isso é preciso, ao mesmo tempo, aceitar
que a obediência não precisa ser passiva. Ela
pode ser uma obediência participativa, mas,
para que assim seja, depende de como os pais
e professores exercem a tal autoridade.
Em primeiro lugar, é bom discriminar que
são poucas, bem poucas, as situações em que a
obediência é uma exigência absoluta. Ao fazerem isso, pais e professores se poupam e preservam seu papel de autoridade. Para que se
desgastar querendo que o filho aceite que é
preciso vestir determinada roupa ou colocar a
roupa suja no cesto, por exemplo? Por que exigir obediência em situações tão banais? Bem
mais simples é a orientação segura e firme nessas ocasiões. Não providenciar a lavagem de
roupas que não estejam no local e combinar
previamente a situação é bem mais efetivo, assim como deixar que o filho passe frio ou desconforto usando a roupa que escolheu.
Já ir para a escola é uma obrigação, da qual é
preciso exigir a obediência, pura e simples. Os
pais percebem isso e dessa questão, em geral,
não abrem mão. Sabem, portanto, exercer a
autoridade quando é preciso. E sem receio de
serem autoritários.
Por último, é bom lembrar que, se há autoridade, há embate; se há regra, há transgressão;
se há filhos, haverá desobediências também.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail:
roselys@uol.com.br
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