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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Exigir obediência sem medo de ser autoritário

Recebo um volume grande de correspondência de pais e professores comentando situações do cotidiano que envolvem a educação. Recentemente, li e reli a maioria das mensagens que tenho arquivadas para organizar os assuntos em temas e levantar os mais frequentes. Mas sabem que notei um fato bem interessante? A palavra obediência quase não é usada por ninguém. Por que será?
Talvez porque nem pais nem professores queiram ser -nem mesmo parecer- autoritários quando educam seus filhos e alunos. Quem teve pais autoritários ou frequentou escolas assim sabe muito bem que fica mais difícil traçar um rumo na vida com a pressão do autoritarismo. Essa já é uma boa razão para querer educar de um jeito diferente.
Acontece que não ser autoritário não significa, de modo nenhum, não ocupar o lugar de autoridade que ser pai, ser mãe ou ser professor implica. E autoridade supõe obediência. Sem obediência, a autoridade perde o sentido, deixa de ser autoridade. E sem ela a assimetria na relação educativa deixa de existir.
Ocorre que ocupar esse lugar exige comprometimento, dá trabalho e traz responsabilidade. Para falar bem a verdade, é um ônus exercer esse papel porque é preciso estar atento o tempo todo para que ele não se esvazie. Como tem sido cada vez mais difícil sustentar esse lugar, responsabilizar filhos e alunos pela fragilidade do vínculo com a autoridade parece ter sido um caminho quase natural. E a discussão mudou totalmente de foco. Deixamos de falar em obediência e passamos a falar em limites.
Vejam que processo interessante percorremos. Falar em obediência supõe no mínimo dois sujeitos envolvidos: aquele que exerce a autoridade que lhe cabe naquele momento e aquele que precisa responder com um mínimo de obediência para manter o vínculo, a relação. Ao falarmos em limites, podemos supor apenas um sujeito.
Quando uma mãe diz, por exemplo, "meu filho não tem limites", parece até que ela não está implicada na questão, que ela não tem nada a ver com o fato que descreve. Quando um professor diz que seus alunos não aceitam limites, ele também não se põe na situação, não credita a ele nenhuma responsabilidade pelo fato. E foi assim, sem nos darmos conta, que passamos a colocar todo o fardo do trabalho educativo nas costas de crianças e adolescentes. A história é com eles; eles precisam aceitar os limites e respeitá-los.
Vamos deixar de lado esse constrangimento com a palavra obediência e seu conceito. Mas para isso é preciso, ao mesmo tempo, aceitar que a obediência não precisa ser passiva. Ela pode ser uma obediência participativa, mas, para que assim seja, depende de como os pais e professores exercem a tal autoridade.
Em primeiro lugar, é bom discriminar que são poucas, bem poucas, as situações em que a obediência é uma exigência absoluta. Ao fazerem isso, pais e professores se poupam e preservam seu papel de autoridade. Para que se desgastar querendo que o filho aceite que é preciso vestir determinada roupa ou colocar a roupa suja no cesto, por exemplo? Por que exigir obediência em situações tão banais? Bem mais simples é a orientação segura e firme nessas ocasiões. Não providenciar a lavagem de roupas que não estejam no local e combinar previamente a situação é bem mais efetivo, assim como deixar que o filho passe frio ou desconforto usando a roupa que escolheu.
Já ir para a escola é uma obrigação, da qual é preciso exigir a obediência, pura e simples. Os pais percebem isso e dessa questão, em geral, não abrem mão. Sabem, portanto, exercer a autoridade quando é preciso. E sem receio de serem autoritários.
Por último, é bom lembrar que, se há autoridade, há embate; se há regra, há transgressão; se há filhos, haverá desobediências também.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha); e-mail: roselys@uol.com.br


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