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Sintomas como cansaço e dores musculares surpreendem os pacientes anos depois da doença e confundem até os médicos
Síndrome dificulta rotina de quem teve poliomielite
Marcelo Barabani/Folha Imagem
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Bernardete Olivério sentia dor e fraqueza
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DANIELLE BORGES
DA REPORTAGEM LOCAL
Há cinco anos, o clínico-geral Roberto Seixas, 53, começou a se sentir mais cansado. O corredor do hospital que ele percorria
diariamente passou a parecer cada vez mais
longo. "Precisava parar para descansar. Sentia muita fraqueza e cansaço", diz ele. Mesmo sendo médico, Seixas precisou pesquisar para
descobrir que estava com síndrome pós-pólio, problema que acomete pessoas que, como
ele, tiveram poliomielite.
Embora o médico francês Jean-Martin
Charcot (1825-1893), considerado um dos
pais da neurologia moderna, já chamasse a
atenção para a síndrome em 1876, pouco se
sabe sobre ela. Até no meio médico a síndrome permanece desconhecida, e seus sintomas
-dores musculares, cansaço, fadiga e alterações no sono- são facilmente confundidos
com estresse.
Isso é um complicador para boa parte dos
pacientes que tiveram pólio há 20 ou 30 anos e
imaginam ter superado as limitações que a
doença lhes infringiu. Uma pesquisa realizada
pelo setor de doenças neuromusculares da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
aponta que entre 60% e 80% deles sofrem
com a síndrome pós-pólio atualmente, mas é
difícil chegar ao diagnóstico correto, o que incentivou os próprios pacientes a se organizarem (leia mais na pág. ao lado).
Um exemplo da falta de informação é o caso
da professora Bernardete Estrela Olivério, 48.
A pólio que ela teve aos noves meses de idade
causou problemas no desenvolvimento na
perna direita. Após anos de fisioterapia, em
1997, ela começou a sentir dores no membro
afetado pela doença. Em nenhum momento,
porém, a professora relacionou esses sintomas com a pólio. "Comecei a sentir fraqueza
para andar até que, um dia, não consegui sair
do lugar", relembra.
Depois disso, Olivério começou uma via-sacra de cinco anos por consultórios de neurologistas e ortopedistas. "Todos faziam perguntas sobre meu histórico de saúde, mas nenhum mencionou a síndrome." A resposta
veio quando ela leu um artigo assinado por
Seixas. "Eu me identifiquei com todos os sintomas descritos por ele."
Hipótese
A medicina ainda não chegou a
uma conclusão sobre o que causa a síndrome
pós-pólio. De acordo com uma tese que tem
sido aceita nos últimos anos, a doença pode
estar associada à morte, por esgotamento, dos
neurônios responsáveis pelo movimento.
"Com a poliomielite, boa parte dos neurônios
motores morre, e os que sobram são condicionados a trabalhar por três ou até por cinco
neurônios", explica Berenice Cataldo, do Ambulatório de Doenças Neuromusculares da
Santa Casa de São Paulo.
"As primeiras manifestações da síndrome
são a fadiga e a fraqueza muscular, como se as
fibras estivessem perdendo a força", diz Rogério Carvalho de Castro, ortopedista da AACD
(Associação de Assistência à Criança Deficiente). No entanto esses sintomas nem sempre
são suficientes para que o paciente procure
um médico. "Muitos confundem a síndrome
com estresse, e até os médicos têm dificuldades para fazer o diagnóstico", afirma Acary
Bulle de Oliveira, chefe do setor de doenças
neuromusculares da Unifesp.
Segundo Oliveira, a falta de intimidade com
a síndrome é fruto da falta de interesse dos
profissionais na área. "Quando houve a epidemia de pólio [leia mais na pág. ao lado], muitos médicos se especializaram na doença, mas
poucos continuaram pesquisando o assunto."
Por conta das poucas pesquisas existentes
sobre a síndrome pós-pólio, a medicação indicada aos pacientes é apenas paliativa. "Usamos medicamentos para aliviar os sintomas",
afirma Oliveira.
Adaptação da rotina
Após o diagnóstico, pacientes da síndrome pós-pólio precisam
adaptar sua rotina diária às limitações que a
doença lhes impõe. "Fazia parte da mentalidade das pessoas exigir tudo de quem tivesse alguma sequela da pólio. Hoje, sabemos que esse não é o caminho", explica Oliveira.
A receita para os pacientes que tiveram pólio
na infância é poupar o corpo. Segundo Oliveira, os pacientes devem prevenir o cansaço e esgotamento físico. "Não é indicado, por exemplo, subir e descer escadas, andar longas distâncias ou permanecer muito tempo de pé."
Ele recomenda descansar um pouco após fazer qualquer tipo de atividade.
Prevenir o cansaço, porém, não significa tornar-se sedentário e eliminar os exercícios físicos do cotidiano. "Os exercícios devem ser feitos, mas com critério", diz Castro. Entre as atividades recomendadas pelos especialistas estão a natação e a hidroginástica.
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