São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005
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S.O.S. família

Rosely Sayão

Adolescência, sexo e intimidade

Nas últimas semanas, duas notícias que envolvem sexo, adolescentes e internet deixaram os pais em polvorosa. Em ambos os casos, cenas de intimidade sexual foram tornadas públicas pelos próprios jovens e/ou por seus colegas. Tais notícias fizeram com que muita gente colocasse a relação da moçada com a rede em questão. Será que esse deve ser nosso ponto de reflexão?


Mais importante é que os jovens saibam o que é intimidade, privacidade. Ninguém tem ensinado isso a eles: nem pais nem escolas


Não creio. Talvez esse comportamento seja apenas a expressão de que, no mundo contemporâneo, há muita confusão em torno da sexualidade. Como essa é uma causa das mais importantes na vida dos jovens, eles ficam mais expostos a essa confusão, que começa com a falta de intimidade e privacidade.
Quem se chocou com as cenas divulgadas na internet deveria passear em torno das escolas depois da saída dos alunos para ter uma idéia do que os jovens fazem no espaço público quando estão envolvidos com o namorado. A mãe de um aluno, que vai sempre buscar o filho na escola no final da tarde, enviou uma correspondência em que contava que já pôde assistir a cenas de casais praticando sexo encostados em um muro vizinho da escola. Nem precisa tanto: basta observar com atenção o comportamento deles nas ruas e nos shoppings, onde em geral estão, para perceber que eles não têm a mínima idéia de que os outros os estão vendo. Em suma: agem no espaço público como se estivessem resguardados, protegidos do olhar do outro, na intimidade.
Deixar o moralismo de lado para analisar essa questão não é simples. Por isso, em geral, preferimos dizer que a internet corrompe os jovens, que as más companhias influenciam muito os filhos ajuizados, que há uma crise de valores etc. Vamos, então, colocar a educação nessa conversa.
Sobre a internet, os jovens e as crianças são simplesmente abandonados na relação que estabelecem com esse instrumento, que é muito sedutor. Muitos pais até que tentam controlar (vale lembrar que controlar não é educar) o acesso dos filhos a sites pornográficos. Não adianta.
Os pais precisam tutelar de frente -cara a cara- o que os filhos acessam e, caso decidam recorrer a programas que filtram palavras-chaves, devem avisar os filhos de que fazem isso. Isso quer dizer que os filhos têm de saber previamente quais atitudes os pais vão tomar, o que eles acham que não fará bem a eles. E insisto: tentar censurar pelas costas, ou seja, sem que o filho saiba, não é uma atitude que leve a resultados educativos. Não importa que eles não consigam acessar de casa, mas possam ter acesso a tais sites na casa dos colegas, por exemplo. O que importa é que eles saibam o que os pais pensam e que tenham a exata noção do que eles não querem que seja feito.
Mais importante ainda é que eles saibam o que é intimidade, privacidade. Ninguém tem ensinado isso a eles: nem pais nem escolas. A escola tem contado aos pais tudo o que seus alunos fazem ou deixam de fazer. Com isso, eles aprendem que não há fronteira entre o mundo privado de casa e o mundo público da escola. Tudo se transforma na mesma coisa.
E como anda a discussão a respeito da sexualidade? As escolas têm se restringido a dar aulas de biologia sobre o aparelho reprodutivo, de sexo e de como não engravidar ou não se infectar com doenças sexualmente transmissíveis. Mas o mais importante mesmo é a família transmitir os valores que preza em relação a tal assunto, e a escola permitir a seus alunos que reflitam criticamente sobre a atitude sociocultural em voga e sobre o que cabe no espaço social e o que é do âmbito do estritamente privado. E isso eles aprendem também com as regras que a escola pratica quando o assunto é namoro no colégio.
Os jovens estão perdidos em relação ao tema sexualidade? Podemos nos arriscar a dizer que sim. Mas, se os jovens estão perdidos, a direção deve ser dada a eles pelos educadores: pais e professores.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
@ - roselysayao@folhasp.com.br



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