São Paulo, terça-feira, 15 de junho de 2010
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ROSELY SAYÃO

roselysaya@uol.com.br

Lições de limite


É preciso tutelar os adolescentes e diferenciar, para eles, as proibições transitórias das definitivas


A frase "criança não tem limites" é pronunciada com frequência. Uma pena que seja usada sempre no sentido negativo, já que pode também indicar coragem e superação. Mas quem ouve a expressão não se confunde nunca: sabe que se trata de uma criança que, de algum modo, transgride algum princípio ou orientação dada.
Crianças que batem nos colegas, que batem o pé ou a cabeça no chão quando não são satisfeitas, que berram quando querem algo, que lançam palavrões a adultos, que vão aonde não deveriam etc. Esses são alguns exemplos de comportamentos que motivam o uso da expressão citada. Vamos pensar a respeito dos limites na educação e nas confusões que podemos provocar para os mais novos.
Comecemos com a criança bem pequena. Assim que ela inicia o conhecimento do mundo pela exploração, a vida dela fica cheia de limites. Não pode pegar muitas coisas, não pode subir em muitos lugares, não pode colocar na boca tudo o que quer. O grande problema é que os adultos não costumam diferenciar tantos nãos.
Há coisas que nessa idade a criança não pode fazer AINDA. E, quase sempre, porque é perigoso. Sinalizar que ela corre perigo quando faz determinadas coisas é importante para que ela perceba que não se trata de uma lei ou princípio que ela deve respeitar e sim que os pais ou outros adultos estão protegendo-a.
Com o tempo, isso passa a fazer sentido para a criança. A frase "isso não pode" poderia ser usada somente para indicar o que não se deve fazer por ter relação com princípios ou valores familiares e/ ou sociais. Como agredir ou dirigir palavrões a adultos.
Mas é bom lembrar que a criança demora a conseguir colocar em ato o que, cognitivamente, ela logo entende. A questão é que ela ainda não consegue controlar seus impulsos que provocam reações em seu corpo. Por isso, precisa da ajuda dos adultos: para ser contida enquanto não se contém por conta própria.
O mesmo se aplica aos filhos maiores e adolescentes, agora de outra maneira. Não basta orientar o que eles ainda não podem fazer. Dirigir o carro dos pais, ingerir bebida alcoólica, utilizar drogas lícitas ou ilícitas são exemplos. É preciso, também, explicar os riscos que envolvem atitudes desse tipo, desde os legais até os de segurança dos próprios e de outros.
Além de diferenciar as proibições transitórias das perigosas e das definitivas, é preciso tutelar os adolescentes, porque estes ainda são muito impulsivos e podem facilmente cair em tentação. Deixar chave do carro, cartões de crédito, bebidas e medicamentos controlados disponíveis a eles é um risco. É possível poupá-los disso tudo, já que precisam usar muito esforço para resistir a inúmeras tentações fora de casa.
E, com discrição, sempre é bom checar periodicamente as informações que fornecem aos pais a respeito de aonde vão, com quem voltam etc.
Crianças e adolescentes irão sempre transgredir, por isso é fundamental que façamos essas diferenças a eles. Caso contrário, estuprar uma garota depois de muito beber na festa ou namorar escondido dos pais serão apenas transgressões para eles.

ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha) blogdaroselysayao.blog.uol.com.br



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