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S.O.S. família
rosely sayão
Ensine seu filho a se valorizar pelo que ele é
Os filhos são um poço sem fim de demandas: eles querem ter coisas, eles querem
fazer coisas, eles querem, eles querem e eles pedem tudo o que querem sem o menor constrangimento. Alguns são bastante enfáticos nos pedidos que fazem, outros são sedutores, e outros, por puro aprendizado, fruto da observação da atitude dos adultos, são capazes de fazer chantagens que pegam fundo na alma da
maioria dos pais. Mas o resultado é quase
sempre o mesmo: os pais acham difícil resistir
ao pedido que o filho faz. Afinal, quem é que
não quer ver o filho satisfeito e feliz?
O problema é que nem sempre é possível
atender a todos os pedidos, principalmente
quando eles se referem -e quase sempre se
referem- ao consumo.
Quem é que não conhece pais que já fizeram
um esforço imenso -muito maior do que poderiam ou deveriam- para comprar um determinado brinquedo ao filho, para dar a ele
uma roupa ou um calçado de grife, para possibilitar uma viagem especial ou coisa que o valha? É sobre essa situação que vamos falar
aqui. Ou seja, quando o pedido do filho se
transforma em prioridade ou em meta financeira para os pais, ainda que o estilo de vida deles não combine com esse pedido.
A criança não vem ao mundo com qualquer
noção da realidade de vida que a espera. Ela
deve ser introduzida, por meio da ação dos
pais, aos poucos, à realidade, ao mundo que
tem limites e regras, que exige espera para a
satisfação dos impulsos, que provoca frustrações e que nem sempre permite que as pessoas tenham boa parte daquilo que está disponível
para o consumo.
Pois bem: se não se defrontar com esses limites desde cedo, com essas impossibilidades que terá necessariamente de enfrentar no futuro, a criança vai construir uma imagem bastante deturpada de si mesma, de sua relação
com os pais e, consequentemente, com a vida.
Ela vai achar que os pais têm a obrigação de fazer tudo, de passar por qualquer sacrifício para atender suas demandas.
Pode parecer que essa situação tem relação
direta apenas com tudo o que se relaciona ao
consumo, porém o alcance dessa história é
muito maior.
Em geral, os pais querem oferecer ao filho
tudo do bom e do melhor -e com razão. Essa
expectativa é muito positiva, pois expressa a
importância que os pais dão ao filho que tiveram. Mas acontece que oferecer à criança ou ao adolescente tudo do bom e do melhor não
deve se restringir a objetos, coisas, produtos,
consumo de qualquer tipo. Isso se refere também -e principalmente- aos cuidados com a saúde e a educação do filho. E é bom marcar
que educação não se restringe, por sua vez, à
escolarização.
É preciso bastante cuidado para que o filho
tenha condições de aprender a se perceber e a
se valorizar pelo que ele é, pelo que pensa, pela
maneira como se relaciona com os outros e
com a vida, e não pelo que ele tem. E isso não é
nada fácil de conseguir com o estilo de vida
que adotamos atualmente. Mas, mesmo com
dificuldade, os pais têm muitas chances de
ajudar o filho a crescer valorizando o que há
de humano na vida.
Querer ter coisas é salutar, desde que isso tenha uma medida -a da realidade da pessoa e de suas possibilidades, por exemplo- e desde
que não se transforme no aspecto mais importante da vida da pessoa. As crianças e os adolescentes são bombardeados diariamente pelo
mercado de consumo. Cabe aos pais a formação para que o filho não sucumba sem crítica a tais apelos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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