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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003
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s.o.s família - rosely sayão

Não falta informação sobre sexo, mas formação

Ter dúvidas sobre como agir com os filhos na hora de educar é coisa corriqueira na vida dos pais. Mas, se há um assunto campeão nesse item, é a educação sexual. E, para desespero dos pais e professores, a criançada está cada vez mais curiosa e sabida sobre o assunto, o que parece tornar a tarefa dos educadores ainda mais complicada.
Vários pais e mães de crianças de três a dez anos -nossos leitores- pedem indicações de leitura para eles e para os filhos e orientação sobre conversas e atitudes que devem tomar quando os filhos expressam por atos ou falas suas questões sobre sexualidade.
A preocupação dos pais faz muito sentido já que as crianças estão expostas a uma sobrecarga de manifestação da sexualidade desde muito cedo, pois a televisão e a vida pública em geral estão repletas de estímulos sensuais e eróticos.
Mas será que o que as crianças e adolescentes precisam dos pais é de informação e esclarecimento? Mais ainda do que elas já possuem? Adolescentes engravidam precocemente e contraem doenças sexualmente transmissíveis, e muitos estudiosos do assunto acreditam que isso ocorre por falta de informação. Minha experiência ao escrever colunas de orientação sexual para adolescentes me permitiu aprender muito lendo a correspondência que enviavam, com muitas perguntas. E o que eu aprendi é que informações eles têm e, quando não têm, acham. O que falta, então?
Transformar as informações em conhecimento para que possam usar na própria vida. E essa parte é responsabilidade um pouco dos pais e um pouco das escolas. É uma pena que ambos se sintam mais à vontade trabalhando apenas com as informações.
O que devem fazer os pais? Em primeiro lugar, devem ouvir o que os filhos dizem, o que eles perguntam, pensam e fazem quando o assunto é a sexualidade, lembrando que muitas vezes é preciso ler e ouvir nas entrelinhas. Afinal, bem cedo eles descobrem que o assunto é da área da intimidade e que os pais ficam um pouco embaraçados e constrangidos quando abordam o tema na frente deles, pois a criança percebe com clareza as reações emocionais que o adulto expressa sem controlar ou perceber. Agindo assim, os pais ficam sabendo mais sobre o que preocupa, angustia ou excita o filho e, então, fica mais fácil saber até onde ir ou o que ele pede ou precisa para se acalmar, pois o assunto costuma provocar medos, inseguranças e desejos.
Mas não se trata de informar apenas, e sim de formar, porque educar para um exercício sadio e responsável da sexualidade pressupõe, principalmente, a transmissão de valores, da moral familiar e social, dos conceitos socioculturais em vigor e a construção da privacidade.
Parece muito complicado colocar isso em prática, mas é mais simples do que muitos pais imaginam ou praticam.
Exemplo: em vez de tentar achar um jeito de explicar a um filho de quatro anos como é que o bebê vai parar na barriga da mãe, mais simples e honesto é dizer que isso ele vai entender melhor quando crescer mais um pouco. Em vez de comprar para o filho de nove anos a última revista "Playboy" com fotos sensuais da musa da data, melhor é dizer que isso é coisa para adulto e que, um dia, ele chega lá. Em vez de explicar a uma garota de sete anos o que é namorar, ficar etc., mais responsável é dizer que ela vai descobrir tudo isso quando chegar a hora de ela viver essas experiências.
Mas é preciso que os pais mostrem ao filho o que pensam sobre o assunto. Para isso, nada melhor, por exemplo, do que comentar o que o filho vê na televisão. O mais importante é saber que, ao ensinar o filho a se respeitar e a respeitar o outro, a esperar e a avaliar o que é certo ou errado para a família, os pais estão dando a melhor educação sexual possível.
O restante pode ficar a cargo da escola se ela assume sua responsabilidade social com a questão. Aliás, os pais devem cobrar isso da escola que seus filhos frequentam.


ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.


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