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s.o.s família - rosely sayão
Não falta informação sobre sexo, mas formação
Ter dúvidas sobre como agir com os filhos
na hora de educar é coisa corriqueira na
vida dos pais. Mas, se há um assunto campeão
nesse item, é a educação sexual. E, para desespero dos pais e professores, a criançada está
cada vez mais curiosa e sabida sobre o assunto,
o que parece tornar a tarefa dos educadores
ainda mais complicada.
Vários pais e mães de crianças de três a dez
anos -nossos leitores- pedem indicações
de leitura para eles e para os filhos e orientação
sobre conversas e atitudes que devem tomar
quando os filhos expressam por atos ou falas
suas questões sobre sexualidade.
A preocupação dos pais faz muito sentido já
que as crianças estão expostas a uma sobrecarga de manifestação da sexualidade desde
muito cedo, pois a televisão e a vida pública
em geral estão repletas de estímulos sensuais e
eróticos.
Mas será que o que as crianças e adolescentes precisam dos pais é de informação e esclarecimento? Mais ainda do que elas já possuem? Adolescentes engravidam precocemente e contraem doenças sexualmente
transmissíveis, e muitos estudiosos do assunto acreditam que isso ocorre por falta de informação. Minha experiência ao escrever colunas de orientação sexual para adolescentes me
permitiu aprender muito lendo a correspondência que enviavam, com muitas perguntas.
E o que eu aprendi é que informações eles têm
e, quando não têm, acham. O que falta, então?
Transformar as informações em conhecimento para que possam usar na própria vida.
E essa parte é responsabilidade um pouco dos
pais e um pouco das escolas. É uma pena que
ambos se sintam mais à vontade trabalhando
apenas com as informações.
O que devem fazer os pais? Em primeiro lugar, devem ouvir o que os filhos dizem, o que
eles perguntam, pensam e fazem quando o assunto é a sexualidade, lembrando que muitas
vezes é preciso ler e ouvir nas entrelinhas. Afinal, bem cedo eles descobrem que o assunto é
da área da intimidade e que os pais ficam um
pouco embaraçados e constrangidos quando
abordam o tema na frente deles, pois a criança
percebe com clareza as reações emocionais
que o adulto expressa sem controlar ou perceber. Agindo assim, os pais ficam sabendo mais
sobre o que preocupa, angustia ou excita o filho e, então, fica mais fácil saber até onde ir ou
o que ele pede ou precisa para se acalmar, pois
o assunto costuma provocar medos, inseguranças e desejos.
Mas não se trata de informar apenas, e sim
de formar, porque educar para um exercício
sadio e responsável da sexualidade pressupõe,
principalmente, a transmissão de valores, da
moral familiar e social, dos conceitos socioculturais em vigor e a construção da privacidade.
Parece muito complicado colocar isso em
prática, mas é mais simples do que muitos pais
imaginam ou praticam.
Exemplo: em vez de tentar achar um jeito de
explicar a um filho de quatro anos como é que
o bebê vai parar na barriga da mãe, mais simples e honesto é dizer que isso ele vai entender
melhor quando crescer mais um pouco. Em
vez de comprar para o filho de nove anos a última revista "Playboy" com fotos sensuais da
musa da data, melhor é dizer que isso é coisa
para adulto e que, um dia, ele chega lá. Em vez
de explicar a uma garota de sete anos o que é
namorar, ficar etc., mais responsável é dizer
que ela vai descobrir tudo isso quando chegar
a hora de ela viver essas experiências.
Mas é preciso que os pais mostrem ao filho o
que pensam sobre o assunto. Para isso, nada
melhor, por exemplo, do que comentar o que
o filho vê na televisão. O mais importante é saber que, ao ensinar o filho a se respeitar e a respeitar o outro, a esperar e a avaliar o que é certo ou errado para a família, os pais estão dando a melhor educação sexual possível.
O restante pode ficar a cargo da escola se ela
assume sua responsabilidade social com a
questão. Aliás, os pais devem cobrar isso da
escola que seus filhos frequentam.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br.
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