São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007 |
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crianças Por conta própria Angústia que acompanha crianças em suas primeiras experiências longe de casa pode ser prevenida e tratada, de acordo com estudo
AMARÍLIS LAGE
O problema não é exclusivo de crianças. "Essa equação de excitação e susto diante de algo totalmente novo permanece por toda a vida", afirma a psicóloga Isabel Kahn, da PUC-SP. O estudo defende que é possível prevenir que a separação gere ansiedade extrema e traz orientações para pais, educadores e mesmo equipes que atendem crianças hospitalizadas. Uma dica importante é envolver a criança na decisão de passar um tempo fora de casa. "Se a separação realmente trouxe transtornos importantes, como distúrbios de sono, terror noturno, falta de apetite ou mesmo pânico, isso pode ser considerado uma doença, que necessita de apoio psicológico e pediátrico. Mas raramente chegamos a esse ponto -algumas crianças só chegam a isso quando são obrigadas pelos pais a irem para outro lugar", afirma o pediatra José Martins Filho, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e pró-reitor de graduação da Unicsul (Universidade Cruzeiro do Sul). Também é bom que ela conheça antes alguma criança ou adulto que estará no local -isso facilitará a formação de uma rede social no novo ambiente. Se ela quiser ir e, mesmo assim, se sentir angustiada ao chegar lá, nada de ignorar o problema. Outro mito, segundo os pesquisadores, é acreditar que falar sobre a sensação de desamparo piora o problema. Desabafar será muito positivo para a criança. Mas conversar por telefone com o filho é desaconselhado quando o período de separação é curto. O indicado é que a criança escreva cartas para a família -a vantagem da escrita, segundo os autores, é que, para colocar seus sentimentos no papel, ela precisa refletir sobre eles, o que a ajuda a compreender a experiência. Perfil Tudo depende, porém, do perfil da criança, que deve ser respeitado. A que gosta mais de ler provavelmente terá mais dificuldade para se adaptar num local focado em atividades esportivas. Já quem não gosta de escrever talvez não se beneficie de um diário ou de cartas. Se esse descompasso tornar a primeira experiência ruim, será difícil convencer o filho a passar por ela de novo. É preciso observar ainda se a angústia da criança é algo constante ou se surge em momentos específicos, o que permite soluções mais direcionadas. Quando o problema ocorre na hora de dormir, por exemplo, talvez a melhor solução seja a presença de um objeto familiar; se ela está habituada a ouvir histórias, um outro adulto pode assumir esse papel. Às vezes, é a adaptação à comida que é difícil, e a maior saudade pode ser do tempero caseiro. Também é preciso levar em consideração o contexto familiar, ressalta Kahn. Afastar a criança durante um período difícil, como a separação dos pais ou o adoecimento de algum parente, não é uma boa idéia. "A família pode pensar que é melhor afastar a criança da situação, mas isso a aflige", afirma. A idade também é importante. Segundo Kahn, quando a criança tem menos de três anos, é difícil para ela colher os benefícios da experiência fora de casa. E essa aprendizagem, até os sete anos, é relativa. "Principalmente nos dois primeiros anos de vida, ausências dos pais por mais de 24 horas, especialmente da mãe, podem ser interpretadas pela criança como abandono, e esses sentimentos são profundamente dolorosos e, às vezes, têm seqüelas duradouras", afirma Martins Filho. No momento certo, porém, a separação ajuda a criança a se desenvolver. "As experiências longe de casa, quando afetuosas e cercadas por adultos adequados, que sabem seu real papel, são importantes -a criança começa a perceber o que significam a independência e o autocontrole, sem necessariamente a presença da mãe e do pai", explica Martins Filho. Hospitalização Nem todas essas dicas, no entanto, podem ser seguidas quando o desafio é diminuir a ansiedade de uma criança hospitalizada. Nessas situações, segundo o estudo, 50% das crianças e jovens (de 8 a 18 anos) sentem falta de casa num nível moderado ou severo. Ainda assim, algumas orientações específicas podem ajudar. A primeira é que a família fique com o paciente sempre que possível. Além disso, as informações devem ser dadas de forma clara, sem assustar a criança nem enganá-la. Prometer que algo não vai doer ou que ela vai embora no dia seguinte é pior, já que, ao descobrir a verdade, a criança perderá a confiança nos pais, aí sim, sentindo-se afastada deles. Texto Anterior: "Crème brulée" de jaca Próximo Texto: Neurociência - Suzana Herculano-Houzel: Sobre poder tomar remédios Índice |
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