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S.O.S. família
rosely sayão
"Para viver estressado como vocês? Não, obrigado'
Fico impressionada com a quantidade de correspondência que recebo de pais de
adolescentes. Cada um tem uma questão diferente a discutir, uma dúvida específica sobre como agir em determinada situação, uma idéia diversa a respeito da educação que deve praticar com os filhos. Mas todos têm, em
comum, uma idéia muito interessante: a de
que ter filhos adolescentes é um grande problema. Será que é mesmo?
E, se for, será que não dá para tratar de modo
diferente? Dá para entender por que é que tantos educadores -pais e/ou professores- já
partem do princípio que os adolescentes são
problemáticos: porque eles, diferentemente
das crianças, têm mais autonomia de pensamento e de comportamento, são mais incisivos em suas contestações, têm argumentos
muito mais criativos e complexos para não
responder como os adultos querem às exigências da vida, têm mais independência nas escolhas e são muito menos cordatos e passivos
em relação às expectativas que pais e professores colocam sobre eles. E mais: diferentemente
dos adultos, eles não temem conflitos, não fogem deles e sabem, como ninguém, dar respostas inusitadas a situações rotineiras.
Se tentarmos olhar tudo isso de um modo
diferente do habitual, teremos a chance de
perceber que o que eles pensam, são e expressam pode ser uma solução, e não um problema. Aliás, acabei de me lembrar de um adolescente que, em uma conversa comigo em que
criticava algumas atitudes dos pais, disse que
eles sempre vinham com uma situação problemática para discutir, mas que ele sempre tinha uma "solucionática" para apresentar.
Como os adultos que convivem com os adolescentes e têm com eles uma responsabilidade educativa podem mudar seu olhar para, assim, mudar o modo de tratar as situações que
eles trazem? Primeiro, é preciso reconhecer
que eles são a esperança de mudanças que nós
não conseguimos -nem vamos mais conseguir- realizar por um motivo ou por outro.
Se os adultos conseguirem se desvencilhar
de boa parte de seus conceitos e preconceitos
sobre a vida, vão notar que a crítica aguda que
os adolescentes fazem ao seu estilo de viver no
mundo atual tem muito fundamento. Muitos
até rejeitam nossas orientações justamente
porque não querem viver do modo que vivemos, mesmo que não tenham clareza sobre isso. É o caso do jovem de 17 anos que conheci,
filho de um casal que sempre se dedicou a atividades intelectuais e que quer deixar de estudar assim que terminar o ensino médio para
tornar-se caminhoneiro. Quando os pais perguntam se ele não quer garantir um futuro
profissional com os estudos, ele responde:
"Para viver 24 horas por dia envolvido e estressado com o trabalho, como vocês? Não,
obrigado".
Nem sempre as soluções que eles apresentam são viáveis. Aliás, é por isso que eles precisam muito da ação educativa dos pais e professores nessa etapa da vida: para conseguir
encaminhar essa rebeldia juvenil e provocar
um efeito benéfico para eles e para o mundo,
para a vida pessoal e para o bem do coletivo.
Mas, se eles são vistos como "aborrecentes",
como muitos adultos os chamam, fica difícil,
senão impossível, ajudá-los nessa empreitada.
Acompanhar os passos do filho ou do aluno
adolescente nessa fase de tomar para si a responsabilidade de fazer escolhas, tomar decisões e aprender a jogar o jogo da vida e dar um
sentido a ela pode ser uma viagem muito enriquecedora. Com incidentes no percurso, imprevistos mil, equívocos de trajeto, aborrecimentos e tudo o mais que quem acompanha
de perto um adolescente sabe muito bem. Mas
tudo isso acontece -ou pode acontecer- em
qualquer viagem planejada. A questão é que,
se queremos aproveitar bem a viagem, mantemos a disposição e o humor, e assim é mais fácil e menos penoso encontrar saídas para os
problemas que surgem. Algumas delas são
acertadas, outras nem tanto, mas todas permitem que sigamos em frente. É isso o que eles querem -e precisam- que façamos.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e autora de "Sexo é Sexo" (ed. Companhia das Letras); e-mail: roselys@uol.com.br
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