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s.o.s. família
O que não dá para admitir em um educador
Rosely Sayão
Há muito adulto que adora posar de moralista quando está no exercício do papel
educativo. Está certo que um sermãozinho
emocional, em tom emocionado, de vez em
quando escapa. Por isso mesmo pais e professores devem-se observar constantemente para perceber de pronto os erros cometidos e corrigi-los quando necessário. Mas, se cometer alguns equívocos é inevitável, existem também
atitudes inaceitáveis por parte de quem tem a
responsabilidade de educar.
Alguém se lembra da palmatória? Para
quem não lembra nem nunca ouviu falar, era
um instrumento usado para castigar quem errava. Seu uso já foi prática dita educativa nos
tempos em que educar significava adestrar e
ensinar a obedecer -na escola e em casa. Pois
bem: se hoje é difícil encontrar uma palmatória e quem a aplique, não é difícil, entretanto,
encontrar educadores que cometem atos que
muito se assemelham a essa superada prática.
Toda criança está sempre muito atenta ao
que se passa à sua volta. E é assim, observando
principalmente o comportamento dos adultos, que a criança aprende, por exemplo, a falar palavrão. E ela aprende com propriedade:
alguém já viu uma criança falar palavrão em
uma situação que não merecesse?
A criança fala palavrão, por exemplo, quando quer provocar alguém, quando quer devolver uma agressão, quando se frustra, quando
se engana. É nessas situações também que o
adulto faz o mesmo. Há uma diferença: o
adulto pode -se bem que nem sempre consiga- diferenciar as situações em que o palavrão pode ser dito sem provocar consequências sérias. A criança precisa aprender isso.
Mas como?
Há professor que -pasme!- ainda hoje
acredita que lavar com sabão a boca da criança
que usou tal palavreado em sala de aula é uma
maneira de ensinar o aluno a não repetir o feito. Adulto que age assim não poderia se dedicar à tarefa de educar crianças no espaço escolar. Creio que nem mesmo pais têm o direito
de ter tal atitude e duvido de que alguém tenha
bons argumentos para defender uma posição
desse tipo.
O que acontece? O que leva um professor a
agir assim? Em primeiro lugar, uma formação
para lá de deficitária, é claro. Para ser educador no espaço escolar, é preciso, antes de tudo,
conhecer as etapas do desenvolvimento da
criança e aprender a encaminhar o processo
educativo no âmbito coletivo. Em segundo lugar, é preciso aceitar o fato de que a criança
sempre vai testar os adultos que a educam e as
regras de convivência que aprende. Algumas
vão ao limite e, por isso mesmo, precisam encontrar a firmeza delicada dos pais e dos professores que vão ajudá-la a discriminar situações para saber quando é preciso conter-se.
Mas nenhuma criança aprende a dosar suas
reações se é alvo da falta de controle do professor ou dos pais.
Isso quer dizer que, para ser professor, é preciso ter disponibilidade pessoal para tanto!
Aliás, o mesmo diz respeito aos pais. Esse é um
requisito fundamental que não pode ser ensinado a ninguém. Quem não tem paciência,
não se dispõe a ser generoso e tolerante e não
consegue conter as próprias reações impulsivas não pode dedicar-se à tarefa de educar!
Muita gente pode acreditar que atitudes tão
agressivas por parte de professores são coisa
rara. Antes fossem! Na rotina da sala de aula,
pode haver pouco professor lavando com sabão a boca de algum aluno. Mas é bem maior a
quantidade de professores que dirigem aos
alunos comentários feitos em tom irônico, jocoso, humilhante, por exemplo.
Que o clima reinante no espaço escolar não é
dos melhores todos sabem. Que as condições
de trabalho dos professores estão longe do
ideal também. Que eles são alvo de atos violentos por parte de muitos alunos também é
preciso reconhecer. Mas nada disso justifica
atos que não podem ser chamados de educativos. Existe um número muito grande de professores que exercem seu papel com maestria
nas mesmas condições. Eles têm consciência
da importância do que fazem.
ROSELY SAYÃO é psicóloga, consultora em educação e
autora de "Sexo É Sexo" (ed. Companhia das Letras);
e-mail: roselys@uol.com.br
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